O primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, aproveitou o espaço televisivo da mensagem de Natal para olhar para o próximo ano e garantir que “2012 será um ano de grandes mudanças e transformações”, as quais “incidirão com profundidade nas nossas estruturas económicas”, com o objectivo de conseguir o que entende pela “democratização” economia.
PÚBLICO***
Quando li o título desta notícia do PÚBLICO, deduzi que o primeiro-ministro, Passos Coelho, iria, em 2012, submeter a economia a votos. Mas, enganei-me. Não era isso que ele queria dizer. Passos Coelho, com o ar mais cândido do mundo, veio repetir, de uma forma mais burilada, mas que não deixa de ser hipócrita, a lenga-lenga de António Guterres que também recorreu ao estafado tema de centrar as preocupações do seu governo nos problemas das pessoas. Foi o que se viu. De tanto se preocupar com as pessoas, Guterres fugiu, demitindo-se de primeiro-ministro, não sem dizer aos portugueses que a situação era caótica. De Passos Coelho, estes curtos cinco meses de governo já deram para entender o caminho que resolveu percorrer, optando por infernizar a vida das pessoas, que ele agora diz querer motivar. Cinicamente, e simulando um falso desconforto com a situação, centra o seu discurso naqueles temas que mais escandalizam os portugueses, como são os privilégios de certas castas sociais, a começar pelos banqueiros e pelos altos funcionários do Estado, que não foram (nem serão) minimamente beliscados pelas medidas de austeridade. Os bancos, como se sabe, tiveram da parte do governo uma valiosa prenda natalícia, que deixou os seus administradores e accionistas a cantar o Papá Noel. A transferêcia do fundo de pensões dos bancários para o Estado constitui mais um esbulho para os cofres da Segurança Social, que apenas vai receber uma parte insignificante do valor daquele fundo, mas terá que pagar, a partir de agora, as pensões dos reformados daquele sector profissional, os actuais e os que vierem a reformar-se no futuro. Grande parte do dinheiro daquele fundo nem saiu dos bancos, pois ficou nos seus cofres, a título de pagamento das dívidas do Estado, de que são credores. Tratou-se de uma maneira criativa de transferir a factura da dívida, que deveria sair do Orçamento de Estado, para os beneficiários da Segurança Social, que, perante o aumento de encargos, virá dizer, daqui por uns anos, não ter dinheiro para pagar as pensões e os diferentes subsídios sociais, optando-se por mais cortes naquelas prestações. Neste esforço para pagar esta dívida, ficaram mais uma vez de fora os rendimentos do capital, cujos detentores são, na realidade, as únicas pessoas que interessam a Passos Coelho e ao seu partido.
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