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quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Lula - Discurso Histórico

Amabilidade do Joaquim Monteiro (Kitó), que enviou este vídeo.
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Para calar a boca do director da Folha de S. Paulo e a do ricaço do andar de cima, Lula da Silva, se assim quisesse, bem poderia ter tirado um curso superior, por correspondência, na Universidade Independente, onde Sócrates se licenciou em engenharia. O célebre professor Morais dáva-lhe, certamente, vinte valores, na cadeira de Inglês Técnico.
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Aproveitando com inteligência as condições favoráveis da globalização, Lula da Silva soube escolher as políticas correctas para catapultar o Brasil para uma posição cimeira no xadrez internacional; conseguiu desatar o nó da histórica subserviência em relação ao imperialismo americano, que sempre considerou a América Latina como um seu quintal das traseiras; e, acima de tudo, arrancou da pobreza milhões de brasileiros.
Neste seu histórico discurso, a que eu chamaria discurso contra o preconceito, Lula vergastou causticamente as elites brasileiras (as económico-financeiras e as culturais), pondo a nu a sua ignorância e a sua presunção. Lula soube dar a volta ao Brasil, devolvendo ao povo a sua dignidade, que sempre lhe foi negada.
Ficará para sempre na memória desse povo. E na História.

Falta de portaria impede Governo de cobrar a nova taxa especial sobre a banca

A contribuição extraordinária sobre o sector bancário, anunciada pelo Governo como a forma de a banca contribuir em 2011 para a crise financeira, está ainda pendurada por falta de portaria regulamentadora. O Ministério das Finanças não explicou ao PÚBLICO os atrasos verificados.
A taxa da contribuição poderia variar entre 0,01 e 0,05 por cento sobre o passivo apurado, deduzido dos fundos próprios de base ou complementares e dos depósitos abrangidos pelo Fundo de Garantia de Depósitos. E, por outro lado, entre 0,0001 e 0,0002 por cento sobre os valores dos instrumentos financeiros de derivados, fora do balanço.
PÚBLICO
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No Ministério das Finanças, ninguém quer escrever a portaria, desde que o porteiro descobriu que (0,01+0,o5) - (0,0001+0,0002) é igual a zero.
É notória a celeridade com que se legisla para sobrecarregar a maioria da população com taxas, impostos e aumentos de preços nos transportes, na saúde e na electricidade, ao mesmo tempo que, escandalosamente, se promovem intencionalmente artificiais obstáculos legislativos para não incluir os bancos no esforço geral da superação da crise. O alibi já é conhecido: "o governo tinha essa intenção, mas as leis não deixam".
O estratagema do governo consiste em criar um imbróglio jurídico, para que a questão se eternize nos tribunais, até cair no esquecimento da opinião pública.
Eu afirmei aqui, quando o governo, na altura da apresentação do Plano de Estabilidade e Crescimento (PEC), anunciou a intenção de produzir legislação especial para poder taxar os bancos, que não acreditava que essa legislação aparecesse à luz do dia. Enganei-me. A legislação acabou por aparecer, mas veio intencionalmente coxa. Aliás, na altura, os representantes dos bancos logo afirmaram que não estavam dispostos a contribuir para o peditório do PEC. E, com toda a certeza, não vão contribuir.
http://economia.publico.pt/Noticia/falta-de-portaria-impede-governo-de-cobrar-a-nova-taxa-especial-sobre-a-banca_1473629

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Morreu Malangatana





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Um Poema de Malangatana

A coruja agoira-me
e diz-me que nunca chegarei
além onde o desejo me leva
e assim evapora-se o sonho;
O tambor foi tocado
na noite densa do feitiço
enquanto Kokwana Muhlonga
apitava o Kulungwana mortal;
Na noite sem estrelas
dois gatos pretos iluminaram
a cabana da Kokwana Hehlise
que morreu depois dos gatos terem miado.
Eu lutando comigo só
é impossível vencer as ondas
que feitiçeiramente me esboçam
as corujas, gatos e tambores.

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Malangatana. o Picasso africano, deixou-nos uma obra pictórica invulgar. Nasceu pobre e conheceu a humilhação do homem colonizado, mas foram precisamente dois colonos inteligentes e cultos que lhe deram a mão, ainda ele era um adolescente. A sua primera exposição individual na antiga Lourenço Marques foi um sucesso. Mas isso não impediu a sua prisão pela PIDE, por suspeita da sua ligação à FRELIMO. Foi libertado passados 18 meses, devido à impossibilidade de se poder avançar com uma acusação fundamentada, por falta de provas.
Verdadeiro autodidacta, soube incorporar tudo aquilo que veio a aprender em Portugal e no mundo. De Moçambique trouxe agarrado ao pincel a memória da sua infância. Os seus quadros reflectem as vivências da sua aldeia, nas cores e nas formas das personagens que retratou. Maioritariamente, os seus quadros privilegiam o grupo, que aparece unido com se fosse um corpo único, e onde sobressaiem, a traço grosso e a negro, as arcadas supraciliares, os olhos fundos e brilhantes e os lábios pronunciados de homens e mulhers, animados por um movimento colectivo que se advinha. A cubata, os feitiços, os amuletos, os falos, as lendas da selva, o batuque e as cores intensas de África são uma constante no obra de Malangatana, que teve o privilégio de ver reconhecido em vida o seu enorme talento.
Morreu um grande pintor, morreu um amigo do povo português.

Milagre atribuído a João Paulo II foi validado


Uma comissão médica validou esta terça-feira um suposto milagre atribuído ao anterior Papa João Paulo II, o que poderá contribuir para fazer avançar o seu processo de beatificação.
A comissão médica, liderada pelo médico particular do actual Papa Bento XVI, Patrizio Polisca, considerou válido o milagre que poderá fazer avançar o processo de beatificação e que estará relacionado com a recuperação da monja francesa Marie Simon-Pierre, que se terá curado da doença de Parkinson depois de ter rezado e pedido ajuda a João Paulo II nos meses após a sua morte, a 2 de Abril de 2005.
PÚBLICO
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A Santa Sé vive dos rendimentos de duas fábricas, que se encontram em laboração contínua: a fábrica dos milagres, no Vaticano, onde cobra receitas espirituais, e a fábrica da cera para velas, no Santuário de Fátima, que, juntamente com as esmolas dos peregrinos e as doações de alguns fiéis mais endinheirados, lhe garante elevadas receitas financeiras, para alimentar o fausto da corte imperial do papa (Cúria Romana).
Agora, a sorte bafejou o anterior papa, João Paulo II, que supostamente intermediou o milagre da cura completa de uma monja francesa, que sofria da doença de Parkinson, cura esta, validada clinicamente pelo médico particular do actual papa, Bento XVI.
Ainda dizem que santos da casa não fazem milagres!...
Com esta urgência de fabricar milagres em série, procurando ganhar economia de escala e aumentar a competitividade, a Igreja Católica Apostólica Romana (ICAR) arrisca-se, daqui a 100 anos, a ter mais santos do que fiéis. O que será uma tragédia, pois os santos necessitam de quem se ajoelhe a seus pés, para orar, gesto este que apenas os fiéis se dispõem a executar.
A ICAR reclama para si um grande rigor na avaliação dos milagres, cujos processos, em alguns casos, demoram anos a concluir, embora recuse qualquer avaliação clínica, efectuada por entidades externas, idóneas e independentes.
Para já, João Paulo II apenas vai ser beatificado. Para ser santificado, necessita de mais um milagre no currículo. A D. Guilhermina de Jesus, de Ourém, pessoa que eu já conheço, e que foi beneficiada por um milagre, intermediado pelo Condestável, D. Nuno Álvares Pereira, de certeza que não regateará a exposição do outro olho aos "salpicos do óleo da fritura do peixe"*, para que o espírito de João Paulo II possa devolver-lhe a visão, se, por acaso, ela a perder, tal com perdeu outras coisas na vida. Com o treino já adquirido no milagre anterior, D. Guilhermina não deixará ficar mal a Santa Madre Igreja.
* "salpicos do óleo da fritura do peixe"- expressão roubada ao Carlos Esperança, do blogue Ponte Europa.

Outra vez, João Abel Manta...



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Neste tríptico, João Abel Manta capta o lado mais misterioso de Salazar: a sua solidão. A solidão da sua vida de asceta, da qual não se lhe conheciam vícios, e a sua solidão no exercício do poder, o que lhe era politicamente vantajoso. E o ditador usou e abusou da exposição pública dessa solidão, para construir à sua volta o mito do salvador a Pátria. Para o caracterizar melhor, Abel Manta enquadrou-o num palácio de estilo neoclássico, realçando assim o seu enraizado conservadorismo.
Vestindo sempre Salazar de negro, para realçar o hábito que lhe ficou dos tempos do seminário, Abel Manta caricaturou-lhe a vocação solitária para o poder absoluto, o que norteou toda a sua vida política, e, num rasgo genial do seu traço, escreveu, numa sintese perfeita, a história do ditador, fazendo suceder ao Salazar mais novo e ao Salazar mais velho, o vazio da terceira janela, simbolicamente eficaz na sua leitura imedita, e com que pretendeu afirmar que os regimes ditatoriais raramente sobrevivem à morte dos seus fundadores.
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Eu pergunto ao leitor o que é que encontra de insólito nesta fotografia? Não é o que está a pensar. O que falta no anúncio é o número de telefone do anunciante.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Adenda ao artigo "Estatísticas do emprego deixam de ser directamente comparáveis com os dados existentes"

Quando comentei esta alteração de metodologia no cálculo da taxa de desemprego, dei como adquirido que o Instituto Nacional de Estatística (INE), paralelamente à realização dos inquéritos em 2010, teria testado o novo processo, através de entrevistas pelo telefone, numa amostra populacional mais pequena, mas com significado estatístico, a fim de sinalizar o respectivo desvio, que poderia servir, embora com alguma margem de erro, para comparar a evolução daquele prâmetro estatístico com os anos anteriores, evitando-se assim a sua quebra sequencial. Esse trabalho parece que foi feito, mas a presidente do INE, que ainda não sabe que as instituições do Estado não são uma coutada privada dos ministros e dos seus funcionários superiores, recusou-se a revelar os resultados, o que levantou justificadas suspeitas entre os especialistas da área económica.
Tudo leva a crer que as disparidades dos resultados estatísticos entre os dois processos tenham sido escandalosamente muito pronunciadas, ao ponto de os dirigentes as quererem esconder da opinião pública. As consequências deste comportamento são nefastas para a credibilidade do INE entre os agentes económicos (agências de rating incluídas). Os valores relativos ao emprego e ao desemprego são fundamentais para avaliar o estado da economia, pelo que, em nome do interesse nacional, se exige que a presidente do INE esclareça cabalmente a situação.
Nota: Com comportamentos destes, não admira que os mercados não acreditem no nosso país.

Agradecimento

O editor do Alpendre da Lua manifesta o seu agradecimento à Paulinha Cruz, pela sua decisão de se inscrever como amiga deste blogue.

Nuvens tapam em Portugal primeiro eclipse parcial solar de 2011



O primeiro eclipse parcial do Sol deste ano ocorre esta terça-feira de manhã mas, apesar de poder ser observado na Europa, não será visível em Portugal devido à previsão de nebulosidade, segundo o Instituto de Meteorologia.
PÚBLICO
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Esteja o leitor descansado. Quando o eclipse do Sol for total, o céu apresentar-se-á limpinho.

Estatísticas do emprego deixam de ser directamente comparáveis com os dados existentes


O INE está a introduzir alterações no método de recolha de informação para as estatísticas do emprego, que passará a ser feita por telefone, inviabilizando comparações directas com as estatísticas anteriores, num momento em que o desemprego regista um pico histórico no país e em que se perspectiva que continue a aumentar.
PÚBLICO
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Não vai haver telefones que cheguem!...
Já estou a ver o puto, lá de casa: Oh, mãe!... É o homem do desemprego...
Isto para não falar dos desempregados, que foram pôr o telemóvel no prego!...
Não se questiona a vantagem do novo método, que agiliza, sem dúvida, a recolha da informação. Questiona-se, sim, a oportunidade, no momento em que a taxa de desemprego está em alta. Isto vai facilitar a demagogia dos governantes, que poderão sempre dizer, a partir do próximo ano, e tomando como referencial os dados estatísticos de 2011, que o desemprego subiu pouco.
http://economia.publico.pt/Noticia/estatisticas-do-emprego-deixam-de-ser-directamente-comparaveis-com-dados-existentes_1473504

Centro de dia da câmara de Lisboa abandonado e vandalizado

Fotografia do PÚBLICO
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As portas e montras de vidro de um prédio de cinco pisos acabado de construir há vários anos e abandonado pela Câmara de Lisboa na Rua de Ferreira Borges, em Campo de Ourique, foram partidas na semana passada, havendo sinais de que a vandalização alastrou ao interior do edifício. O imóvel, erguido no local onde se situava a esquadra da PSP do bairro, custou pelo menos 894 mil euros (valor da adjudicação da empreitada) e destinava-se a acolher um equipamento social, com valências para crianças e idosos.
PÚBLICO
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O que esta reportagem de José António Cerejo, um dos melhores especialistas do país em jornalismo de investigação, evidencia - no que respeita às manifestações da mais absoluta irresponsabilidade, desleixo e incúria dos políticos na administração da coisa pública - pode ser generalizado ao conjunto de todo o aparelho de Estado. Minado por uma burocracia paralisante e absurda e pela disseminação e sedimentação de uma cultura de irresponsabilidade e impunidade, a que se junta o pântano da corrupção, do nepotismo e do oportunismo, o Estado começa a ficar cada vez mais afastado das necessidades dos cidadãos.
E o mais caricato desta situação particular, onde é evidente o desnorte do poder municipal da autarquia da capital, é o recurso ao carrossel do passa-culpas, ao ponto de se assistir com um inesperado espanto, a esconder uma justificável indignação, à declaração conformista do vereador do pelouro da Acção Social, a confessar que as suas funções, na prática, se encontram esvaziadas, tendo sido cooptadas pelo "senhor presidente", o que nos leva a perguntar o que é ele está lá a fazer.

Toledo: a cidade onde se cruza toda a Idade Média de Espanha (1)

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Amabilidade do João Fráguas, que enviou as imagens

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Amancio Prada [Trovadores...] 18 Adiós ríos, adiós fontes

Um Poema ao Acaso: ADIOS, RÍOS, ADIOS, FONTES


ADIOS, RÍOS, ADIOS, FONTES

Adios, ríos; adios, fontes;
adios, regatos pequenos;
adios, vista dos meus ollos:
non sei cando nos veremos.

Miña terra, miña terra,
terra donde me eu criei,
hortiña que quero tanto,
figueiriñas que prantei,

prados, ríos, arboredas,
pinares que move o vento,
paxariños piadores,
casiña do meu contento,

muíño dos castañares,
noites craras de luar,
campaniñas trimbadoras
da igrexiña do lugar,

amoriñas das silveiras
que eu lle daba ó meu amor,
camiñiños antre o millo,
¡adios, para sempre adios!

¡Adios groria! ¡Adios contento!
¡Deixo a casa onde nacín,
deixo a aldea que conozo
por un mundo que non vin!

Deixo amigos por estraños,
deixo a veiga polo mar,
deixo, en fin, canto ben quero...
¡Quen pudera non deixar!...

Mais son probe e, ¡mal pecado!,
a miña terra n'é miña,
que hastra lle dan de prestado
a beira por que camiña
ó que naceu desdichado.

Téñovos, pois, que deixar,
hortiña que tanto amei,
fogueiriña do meu lar,
arboriños que prantei,
fontiña do cabañar.

Adios, adios, que me vou,
herbiñas do camposanto,
donde meu pai se enterrou,
herbiñas que biquei tanto,
terriña que nos criou.

Adios Virxe da Asunción,
branca como un serafín;
lévovos no corazón:
Pedídelle a Dios por min,
miña Virxe da Asunción.

Xa se oien lonxe, moi lonxe,
as campanas do Pomar;
para min, ¡ai!, coitadiño,
nunca máis han de tocar.

Xa se oien lonxe, máis lonxe
Cada balada é un dolor;
voume soio, sin arrimo...
Miña terra, ¡adios!, ¡adios!

¡Adios tamén, queridiña!...
¡Adios por sempre quizais!...
Dígoche este adios chorando
desde a beiriña do mar.

Non me olvides, queridiña,
si morro de soidás...
tantas légoas mar adentro...
¡Miña casiña!,¡meu lar!

Rosalía de Castro

domingo, 2 de janeiro de 2011

Coisas que eu escrevi: Homenagem a João Abel Manta


João Abel Manta – um percurso de arte e de intervenção
João Abel Manta nasceu em Lisboa em 29 de Janeiro de 1928. Filho de pintores – Abel Manta e Maria Clementina Carneiro de Moura – a sua infância e adolescência foram indelevelmente marcadas pelas influências culturais, artísticas e políticas de seus pais. Na juventude, J. Abel Manta teve a oportunidade, rara para um jovem daquela época, de viajar pela Europa culta, visitando a Espanha, França, Itália e os Países-Baixos, onde, sob a orientação dos pais, conheceu as grandes obras de pintura e de escultura da Antiguidade Clássica e da Renascença, e que vieram a moldar a sua formação.
Entretanto, concluiu, em 1951, o seu curso de Arquitectura, na Escola de Belas Artes de Lisboa.
Mas foi no desenho que J. Abel Manta se destacou, aliando a sua formação plástica, à sua cultura e à sua intervenção política. Já nos anos quarenta, ficou célebre o seu desenho caricatural de um grupo de intelectuais, ao qual pertenciam Lopes Graça, Manuel Mendes e o seu próprio pai, que ele por vezes acompanhava, e que se reuniam em tertúlia no Café Martinho e na Brasileira do Chiado. O grupo é retratado como uma banda de música, sob a batuta de Lopes Graça. É também nessas tertúlias que J. Abel Manta, com a sua potencial irreverência, desperta para a política e começa a empenhar-se em acções contra a ditadura do Estado Novo, acabando também por sofrer a repressão impiedosa da PIDE, que o manteve preso, durante alguns meses, em 1958.
As influências artísticas são múltiplas, mas J. Abel Manta construiu o seu próprio estilo, quer no desenho, quer na ilustração e nos célebres cartoons.
Ganhou, em 1961, o Prémio de Desenho na II Exposição de Artes Plásticas da Fundação Calouste Gulbenkian, e, em 1965, na cidade de Leipzig, conquistou a Medalha de Prata na Exposição Internacional de Artes Gráficas. Para além destes certames, esteve presente na II Bienal de São Paulo, nas mostras internacionais Di Bianco e Nero, em Lugano, assim como nas exposições internacionais de Tóquio e Medellin – Colômbia. Expôs também individualmente em Londres, no I.C.A.
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OS TRÊS PILARES DO REGIME
A obra pictórica de João Abel Manta agarra toda a tragédia de um país que viveu uma feroz e castradora ditadura e que acabou por desembocar numa madrugada redentora, para reinventar a sua identidade. Atento, culto, perspicaz, J. Abel Manta faz de cada traço das suas caricaturas e dos seus desenhos uma metáfora das contradições de uma sociedade amarrada aos seus fantasmas, aos seus medos e às suas glórias passadas. Daí a sua opção pelo risco negro, pela deformação das formas anatómicas, a carregarem um cenário de pesadelo e de angústia, inserido em atmosferas lúgubres. E é desse cenário fantasmagórico que as personagens retratadas ganham vida e significado, conduzindo o observador ao pensamento crítico pretendido.
As caricaturas magistrais de Salazar, sempre de casaca preta e de nariz pronunciadamente adunco, como se tratasse de uma ave nocturna agoirenta, apresentam-no tal como ele era na realidade – um misterioso solitário, que governava sozinho, bajulado pelos poderes que o apoiavam, mas que ele próprio displicentemente desprezava. Veja-se como J. Abel Manta coloca Salazar a virar as costas aos acólitos dos três pilares do regime – as Forças Armadas, o clero, e os banqueiros – nos três cartoons que, no seu conjunto, constituem um tríptico notável, onde também sobressai, como J. Abel Manta queria dizer, a ordenada subserviência dessas teatrais personagens, ali bem enfileiradas e disciplinadas, em ordeira e solene sessão de vassalagem.
Numa penada, foi feita, para uma leitura imediata, uma caracterização perfeita do Estado Novo, onde também se manifesta, em toda a sua pujança, o subtil e corrosivo humor de J. Abel Manta.
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João Abel Manta e a revolução
João Abel Manta foi um militante anti-fascista e, como todos os democratas, recebeu com alegria e de braços abertos a revolução de Abril. No entanto, esse entusiasmo não obnubilou a sua aguda percepção da nova realidade em movimento, nem a sua perspicaz capacidade crítica, perante as contradições inerentes ao processo revolucionário. Manteve-se fiel a tudo o que se exige de um cartoonista, libertando numa gargalhada o ridículo de tudo aquilo que, sendo verdade, também era caricato. Não cedeu a tentações laudatórias, nem abdicou de fazer valer a inteligência do seu traço.O cartoon em que os notáveis do marxismo-leninismo internacional, em magote, olham com um ar muito sério para um ecrã, onde figura solitariamente o mapa de Portugal, exprime bem a subtileza do seu humor. Salta à vista a perplexidade daqueles marxistas-leninistas que não sabem o que fazer deste pequeno país que fez uma revolução. Sabendo-se que a União Soviética não estaria interessada em fazer de Portugal uma nova Cuba, a mensagem ganha a sua verdadeira actualidade satírica. O mesmo se poderá dizer do cartoon dedicado às campanhas de dinamização cultural do MFA, em que um povo analfabeto recebe de barrete na mão a elite cultural europeia de todo o século XX. A picardia está lá. A João Abel Manta não escapou a ingenuidade romântica da iniciativa, e caricaturou-a com mestria.
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Nota: Estes textos foram escritos, a pedido da minha amiga, a médica Drª Pilar Vicente, para figurarem nos painéis com as caricaturas da autoria de João Abel Manta, numa exposição em homenagem a este grande artista plástico, realizada no Hospital de S. José, em Lisboa, e integrada nas comemorações do 25 de Abril, em 2009.

O Benfica é o espelho da Nação!...

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Além destes cantos, ainda há os dos Lusíadas...



Estatística do Alpendre da Lua - Dezembro de 2010

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Número de visitas mensais

Número de páginas visitadas por mês

Visitantes por país nas últimas 100 visitas
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Contrariamente ao que aconteceu no ano passado, o mês de Dezembro não se ressentiu muito da diminuição da audiência induzida pela ocorrência de dois feriados, do Natal e da passagem de ano. O número de visitas (2.730) foi um pouco inferior ao resultado verificado em Novembro, mas manteve-se acima dos números respeitantes a Setembro e Outubro, meses a partir dos quais o número de vistas mensais subiu subitamente de patamar. O mesmo se pode dizer em relação ao número de páginas visitadas, que acompanhou a mesma tendência.
Como curiosidade, anote-se que a última visita de 2010 veio do Egipto, às 23, 54 horas, de 31 de dezembro, e a primeira visita de 2011 veio de Algés, às 00, 16 horas, do dia 1 de Janeiro.

sábado, 1 de janeiro de 2011

A economia da China não assenta apenas na utilização da mão de obra barata...

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Amabilidade do Luís Sales, que enviou estas fotografias.
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A China não dorme à sombra dos louros já conquistados. Prepara, de forma consistente e rigorosa, a sua futura liderança na economia mundial, apostando na educação e na formação a todos os níveis. Década a década vai subindo no patamar do desenvolvimento, na incorporação de tecnologias de ponta na sua indústria e na sofisticação dos seus serviços, ganhando assim a competitividade que as economias ocidentais vão perdendo inexoravelmente na proximidade do fim do seu ciclo histórico.

Um Poema ao Acaso: RÉVEILLON de Fernando Pinto do Amaral

RÉVEILLON

Cada ano que passa te apetece
voltar atrás, fingir que ainda conheces
esse músculo exausto mas sempre literário
a que outros como tu insistem em chamar
o coração.

Quando bebes a taça de champagne
ou mastigas sem muita convicção
as doze passas tão protocolares,
é esse o teu desejo: que o próximo ano
te ensine a escutar outra vez,
pra lá das gargalhadas ou dos bip-bips
das mensagens que chegam via telemóvel,
o som das doze badaladas
desse relógio agora quase morto
mas ainda dentro do teu peito.

Cada ano que passa digeres
doze passas iguais às da infância
como se os anos não passassem
e o coração obedecesse ainda
aos primeiros desejos - mas repara
que é apenas um músculo e está cansado:
sístoles e diástoles hão-de repetir-se
talvez por mais uns anos
atravessando réveillons como este
até não haver nada para desejares.

Fernando Pinto do Amaral,
"Pena Suspensa"