Falta na
Europa um forte movimento comunista
No Governo
de Angela Merkel, mais especificamente no Ministério dos Negócios Estrangeiros,
parece que se suspira de alívio com a derrota de Wilders. É pelo menos isso que
se dá a entender com o tweet do MNE alemão: “Uma grande maioria de eleitores
holandeses rejeitaram os populistas anti-Europa. São boas notícias. Precisamos
de vocês para uma Europa forte”, lê-se nessa mensagem, que é dirigida ao MNE da
Holanda.
Observador
***«»***
Se eu fosse um europeísta convicto, que não sou,
não alinharia neste triunfalismo do governo alemão, que nós sabemos ser apenas
assumido, para efeitos de propaganda e para consumo da sua opinião pública, no
sentido de tentar contrariar o súbito crescimento dos partidos da extrema-direita,
verificado nos últimos anos.
Politicamente, nas últimas eleições da Holanda,
foi a extrema-direita que ganhou, tendo avançado no terreno eleitoral, ao
contrário do partido do actual primeiro-ministro, que perdeu muitos votos,
embora tenha sido o partido mais votado. Por vezes, a leitura aritmética dos
resultados de umas eleições não é suficiente para compreender, na globalidade,
o sentimento político dos eleitores. E não tenhamos dúvidas: a extrema-direita
vai continuar a avançar, explorando habilmente as graves contradições do
projecto europeu, que mesmo muitos europeístas já admitem, sem rebuço. A ideia
de que o euro é uma moeda que está, essencialmente, ao serviço da economia da
Alemanha, começa a ganhar terreno, junto da opinião pública.
A minha grande preocupação é tentar perceber por
que razão o descontentamento popular está a ser atraído pela extrema-direita e
não se desloca para a esquerda. Alguém dizia, e com uma certa razão, que, em
Portugal, a extrema-direita não consegue levantar a cabeça (por enquanto),
porque existe um Partido Comunista, coeso, consequente e forte, o que inibe a
onda populista e trava a deriva sincronizada do PS, do PSD e do CDS para um
posicionamento político mais à direita. E é isto que falta na Europa: o
ressurgimento dos partidos comunistas, que liderem uma verdadeira oposição ao estableshman europeu.
Alexandre
de Castro
2017 03 21