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segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

O negócio do ouro do Banco de Portugal




O negócio do ouro do Banco de Portugal

Na página do PORTUGAL GLORIOSO, Sérgio Passos denuncia que, entre 25 de Abril de 1974 e a actualidade, e por uma quantia de cerca de 17 mil milhões de euros, foram vendidas, ao desbarato, 483 toneladas de ouro do Banco de Portugal, tendo sido Vítor Constâncio, enquanto Governador, o campeão dessas vendas, pois só à sua conta, e numa altura em que a cotação do ouro estava baixa, vendeu, até 2009, 224,2 toneladas desse metal, que nos dias de hoje valeriam mais 8.000 milhões de euros, do que valiam em 2009. Tratou-se de um verdadeiro regabofe, com graves repercussões na economia e nas finanças do país, e que levanta algumas apreensões sobre a transparência destas operações, já que, na altura em que Vítor Constâncio intensificou essas vendas, vivia-se sob o consulado de José Sócrates, caracterizado por uma série de escândalos financeiros, que agora estão a ser investigados, pela Justiça.

Eu não sei se, na leviana operação da venda de ouro do Banco de Portugal, houve ou não irregularidades e uma hipotética e intencional má gestão. O que sei é que Vítor Constâncio, alto dirigente do Partido Socialista, acabou por ir ocupar um importante lugar no BCE. Também sei que as nomeações para os cargos europeus não acontecem por mero acaso, e, por vezes, nem por mérito próprio, pois o mais importante é a fidelidade canina aos valores que norteiam a filosofia política e ideológica da União Europeia e à sua praxis, quer a oficial, quer a oculta. E não podemos esquecer que os fretes e os favores também são importantes na contabilidade do sucesso.

Já se sabe que a Alemanha, a principal impulsionadora da moeda única, porque convinha à sua estratégia imperialista, tinha a plena consciência que a vaca sagrada iria, um dia, deixar de dar leite, tal era, em grandeza, a captação dos recursos operada nos países do sul da Europa, através do aprofundamento do mecanismo da troca desigual e do esquema de dar subsídios, com o dinheiro de todos os países membros, aos novos aderentes, para que estes alimentassem a indústria da Alemanha, comprando-lhe os respectivos produtos. Só para dar um exemplo: todo o alcatrão das auto estradas portugueses veio da Alemanha, assim como vieram as máquinas para as construir. E é isto que explica que sessenta e cinco por cento das exportações da Alemanha tenham por destino o espaço europeu, o que, em consequência, levou à queda da quota de mercado das importações, oriundas dos EUA. Perante isto, compreende-se a irritação do senhor Trump que quer baixar a “grimpa” à senhora Merkel e picar aos bocadinhos a UE e, possivelmente, também o euro, a moeda da nossa maldição e perdição.

Esta política predadora conduziu à acumulação de vários desequilíbrios, nos países mais vulneráveis. Os experts e os governantes alemães, assim como os congéneres da França, que actuaram em comandita neste saque, e do qual conseguiram afastar a Grã-Bretanha, sabiam que a grande crise da Europa, devido às contradições matriciais desta política, iria provavelmente conduzir à sua desagregação e ao afundamento do euro. Daí, que tivessem diligenciado, por antecipação, uma alternativa à desvalorização que o euro poderia vir a ter. A melhor maneira de atingir este objectivo consistia em organizar compras maciças de ouro. E foi isto o que fizeram. Logo que rebentou a crise, começaram a aparecer, por todo o país, lojas recolectoras de peças de ouro, que os portugueses (e isto também aconteceu em Espanha, na Itália e na Grécia) começaram a vender.

Todo esse ouro foi fundido e transformado em barras, que seguiram principalmente para a Alemanha, onde foram fazer companhia ao ouro do Banco de Portugal, vendido anteriormente por Vítor Constâncio, quando a sua cotação no mercado era baixa (e isto é que é indesculpável).

Claro que esta venda maciça de ouro do Banco de Portugal, que nunca deveria ter sido efectuada, fragilizou o país, que ficou sem defesas para enfrentar a crise financeira, que veio a seguir. E nestes grandes negócios públicos, quando o Estado perde, há sempre alguém que sai beneficiado.

Alexandre de Castro
2017 02 25