O negócio
do ouro do Banco de Portugal
Na página do PORTUGAL GLORIOSO, Sérgio Passos
denuncia que, entre 25 de Abril de 1974 e a actualidade, e por uma quantia de
cerca de 17 mil milhões de euros, foram vendidas, ao desbarato, 483 toneladas de
ouro do Banco de Portugal, tendo sido Vítor Constâncio, enquanto Governador, o
campeão dessas vendas, pois só à sua conta, e numa altura em que a cotação do
ouro estava baixa, vendeu, até 2009, 224,2 toneladas desse metal, que nos dias
de hoje valeriam mais 8.000 milhões de euros, do que valiam em 2009. Tratou-se
de um verdadeiro regabofe, com graves repercussões na economia e nas finanças
do país, e que levanta algumas apreensões sobre a transparência destas
operações, já que, na altura em que Vítor Constâncio intensificou essas vendas,
vivia-se sob o consulado de José Sócrates, caracterizado por uma série de
escândalos financeiros, que agora estão a ser investigados, pela Justiça.
Eu não sei se, na leviana operação da venda de
ouro do Banco de Portugal, houve ou não irregularidades e uma hipotética e intencional
má gestão. O que sei é que Vítor Constâncio, alto dirigente do Partido
Socialista, acabou por ir ocupar um importante lugar no BCE. Também sei que as
nomeações para os cargos europeus não acontecem por mero acaso, e, por vezes,
nem por mérito próprio, pois o mais importante é a fidelidade canina aos
valores que norteiam a filosofia política e ideológica da União Europeia e à
sua praxis, quer a oficial, quer a oculta. E não podemos esquecer que os fretes
e os favores também são importantes na contabilidade do sucesso.
Já se sabe que a Alemanha, a principal
impulsionadora da moeda única, porque convinha à sua estratégia
imperialista, tinha a plena consciência que a vaca sagrada iria, um dia, deixar
de dar leite, tal era, em grandeza, a captação dos recursos operada nos países
do sul da Europa, através do aprofundamento do mecanismo da troca desigual e do
esquema de dar subsídios, com o dinheiro de todos os países membros, aos novos
aderentes, para que estes alimentassem a indústria da Alemanha, comprando-lhe
os respectivos produtos. Só para dar um exemplo: todo o alcatrão das auto
estradas portugueses veio da Alemanha, assim como vieram as máquinas para as
construir. E é isto que explica que sessenta e cinco por cento das exportações
da Alemanha tenham por destino o espaço europeu, o que, em consequência, levou
à queda da quota de mercado das importações, oriundas dos EUA. Perante isto,
compreende-se a irritação do senhor Trump que quer baixar a “grimpa” à senhora
Merkel e picar aos bocadinhos a UE e, possivelmente, também o euro, a moeda da
nossa maldição e perdição.
Esta política predadora conduziu à acumulação de
vários desequilíbrios, nos países mais vulneráveis. Os experts e os governantes
alemães, assim como os congéneres da França, que actuaram em comandita neste
saque, e do qual conseguiram afastar a Grã-Bretanha, sabiam que a grande crise
da Europa, devido às contradições matriciais desta política, iria provavelmente
conduzir à sua desagregação e ao afundamento do euro. Daí, que tivessem
diligenciado, por antecipação, uma alternativa à desvalorização que o euro
poderia vir a ter. A melhor maneira de atingir este objectivo consistia em
organizar compras maciças de ouro. E foi isto o que fizeram. Logo que rebentou
a crise, começaram a aparecer, por todo o país, lojas recolectoras de peças de
ouro, que os portugueses (e isto também aconteceu em Espanha, na Itália e na
Grécia) começaram a vender.
Todo esse ouro foi fundido e transformado em
barras, que seguiram principalmente para a Alemanha, onde foram fazer companhia
ao ouro do Banco de Portugal, vendido anteriormente por Vítor Constâncio,
quando a sua cotação no mercado era baixa (e isto é que é indesculpável).
Claro que esta venda maciça de ouro do Banco de
Portugal, que nunca deveria ter sido efectuada, fragilizou o país, que ficou
sem defesas para enfrentar a crise financeira, que veio a seguir. E nestes
grandes negócios públicos, quando o Estado perde, há sempre alguém que sai
beneficiado.
Alexandre
de Castro
2017 02 25