A economia portuguesa está muito dependente do contributo da Procura Interna (consumo) e desde 2014 encontra-se estagnada |
Os
problemas estruturais da economia portuguesa e os caminhos a percorrer
Para
resolver os problemas estruturais da economia, Portugal, mantendo-se ou não na
área do euro, tem de orientar a sua estratégia em dois pilares: por um lado,
promover intensivamente as exportações e, por outro lado, produzir bens que
substituam importações. O objectivo é ganhar excedentes, perante o exterior, e
aumentar a receita fiscal para possibilitar, sem um pesado esforço orçamental e
sem mais medidas de austeridade, pagar a gigantesca dívida pública, que terá de
ser reestruturada, inevitavelmente.
Em
relação ao aumento do consumo, [o consumo também conta para a formação do PIB]
o governo teria de ter dois aspectos em consideração: que esse aumento do
consumo não viesse a aumentar a procura de bens e serviços importados e que,
por razões de equidade e de justiça social, o aumento desse consumo derivasse
da melhoria dos rendimentos da classe média e da população mais desfavorecida.
O aumento do consumo iria promover também mais receita fiscal, evitando-se o
agravamento dos impostos, que já são muito pesados e que já provocam o
funcionamento da economia.
Mas,
para conseguir este desiderato, é necessário investimento, o público e o
privado, que dinamize a economia. Infelizmente, verifica-se que o investimento
continua a ser raquítico, e insuficiente para sustentar o crescimento
económico. As empresas estão descapitalizadas e o crédito bancário, devido à
insolvência dos bancos nacionais, é difícil e problemático. O actual governo
está a fazer o que pode. A aposta na reabilitação urbana, apoiada pelo Estado,
vai reanimar um pouco a recuperação da construção civil - que, no passado, foi o
grande motor da economia - o que vai atrair investimento e criar emprego.
Não
se vê no horizonte a recuperação do investimento, por parte da iniciativa
privada, que seria essencial para investir na produção de bens, que
substituíssem as importações, bem como na produção de bens para o mercado
externo e que, através da inovação, aumentassem, de uma forma significativa, o
valor acrescentado. E Portugal necessita, como de pão para a boca, de aumentar
as exportações, a um nível médio de cinco por cento ao ano Mas, sem
investimento, pouco se poderá fazer na criação de riqueza e no desenvolvimento
do país.
É
neste quadro de pensamento (o de a economia portuguesa não conseguir crescer nos próximos
anos) que funciona o comportamento da Comissão Europeia (um órgão da UE
domesticado pela Alemanha), ao pretender aplicar severas sanções a Portugal, através de um procedimento por défice orçamental excessivo, ao mesmo tempo que quer impor mais
cortes nas pensões e mais desvalorizações salariais, o que vai levar, tal como
já tenho dito, Portugal a percorrer o calvário de sofrimento da Grécia. Desde
2010, a desvalorização salarial atingiu os vinte por cento, o que já é
dramático, mas a Comissão Europeia quer que atinja os trinta por cento, o que,
a verificar-se, será uma catástrofe.
Claro
que, se Portugal tivesse uma moeda própria, para poder desvalorizá-la no
interesse da sua economia, a fim de aumentar as exportações, tudo seria mais
fácil, mais rápido e menos doloroso a longo prazo. E este é o principal problema estrutural da economia portuguesa, um verdadeiro nó górdio, que precisa de um Alexandre Magno, que o decepe com a espada.
Alexandre de Castro
***«»***
Curiosidade: Leia aqui a célebre lenda do nó górdio.
Publicado em "Abril de Novo Magazine", por deferência dos seus editores.
Publicado em "Abril de Novo Magazine", por deferência dos seus editores.
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