Não
estava no programa oficial a participação de François Hollande na Câmara de
Paris, na condecoração dos quatro porteiros portugueses que socorreram vítimas
do atentado do Bataclan. Mas já se sabe como Marcelo pode ser persuasivo, a
ponto de conseguir desviar o presidente francês do percurso entre o Palácio do
Eliseu e o Stade de France. Em vez de ir diretamente, passou pela casa de Anne
Hidalgo e, tal como Marcelo e Costa, fez um discurso de improviso.
…
Marcelo fez um malabarismo ao protocolo e passou para as mãos de Hollande duas
das quatro condecorações para que ele as entregasse. "Vou mudar as
regras", disse antes. Já durante a manhã tinha dado a volta ao statu quo,
quando retomou, 42 anos depois de 1974, a parada militar no Terreiro do Paço e
as condecorações a antigos combatentes da Guerra Colonial - e também a
militares no ativo que se destacaram em missões no estrangeiro - e também a
militares no ativo que se destacaram em missões no estrangeiro. Sabia que ia
agitar os fantasmas de várias gerações, sabia que estava novamente a andar
sobre o arame das memórias difíceis. Mais alguém poderia tê-lo feito? Se no dia
em que se tornou Presidente ele se juntou a representantes de 18 crenças
religiosas na Mesquita de Lisboa, sim, podia. Por muito que seja doloroso
voltar a sentir as feridas do passado recente, é preciso procurar no que
aconteceu ontem o sinal de que nada é imutável e tudo pode ser posto em causa.
Diário de Notícias _ Ana Sousa Dias
***«»***
Na
realidade, na História dos Povos, nada é imutável. Tudo muda, porque "o
mundo é feito de mudança". Mas é preciso dar um empurrão a essa mudança. E
os empurrões não podem estar confinados apenas ao nível diplomático e aos
protocolos de Estado, muito embora sejam importantes. O folclore das paradas
militares e das cerimónias das condecorações, de má memória (e agora falo na
qualidade de ex-capitão miliciano, que fez a Guerra Colonial) não são
suficientes para resolver os problemas que, neste momento, se colocam a
Portugal, e que ameaçam a sua identidade, a sua dignidade e a sua
independência, que está em perigo. O problema que Marcelo Rebelo de Sousa
e António Costa têm de resolver rapidamente é a posição de Portugal no contexto
europeu, uma relação que está a descambar perigosamente para uma típica
situação neocolonial, embora de forma encapotada. A União Europeia, que se
apresentou como um espaço de solidariedade, está a transformar-se num pesadelo
para os povos que não conseguiram (também por culpas próprias, é certo)
acompanhar o desenvolvimento dos países europeus mais ricos (que também enriqueceram
à custa dos países mais pobres, através da economia de troca desigual, uma vez
que o dinheiro dos subsídios aos países pobres destinava-se a promover a compra
de bens e serviços aos países mais ricos), o que me leva a afirmar que a União
Europeia se transformou num grande espaço de negócios. E a situação chegou a um
ponto extremo e insustentável, quando se assiste ao degradante espectáculo de
uma instituição comunitária, a Comissão Europeia, controlada à distância pela Alemanha e pela
França, ameaçar Portugal com sanções económicas, medidas estas que nunca
deveriam ser incluídas em nenhum Tratado Internacional, e que, ao constar nos tratados europeus, constitui uma originalidade vergonhosa, já que nunca se viu, em tempos de paz, dois ou mais países
estabelecerem, entre si, a aplicação de sanções, nos acordos entretanto firmados.
E
é isto que tem de ser resolvido rapidamente pelos altos dirigentes de Portugal.
Alexandre de Castro
Publicado também aqui, por deferência dos editores do "Abril de Novo Maganize".
Alexandre de Castro
Publicado também aqui, por deferência dos editores do "Abril de Novo Maganize".
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