Vem
aí o e-comércio (a economia colaborativa) e uma vaga descomunal de desemprego
estrutural.
Se
a Era da da Revolução Industrial se baseou na mecanização, na industrialização,
no recurso intensivo às fontes de energia provenientes do carvão, da electricidade,
do petróleo, da cisão nuclear e, em termos políticos, na exploração de matérias
primas nos territórios coloniais, a Era da Globalização, que lhe sucedeu, e que
está a viver-se em pleno, caracteriza-se pela informatização e robotização,
pelo desenvolvimento das comunicações e das telecomunicações, pelo domínio, à
distância, do espaço global, e, agora, ainda de uma forma embrionária, pelo
comércio online, que tenderá também a ser global.
No
entanto, entre estas duas grandes revoluções, que marcaram, e continuam a
marcar, a evolução da Humanidade, existem semelhanças, diferenças, benefícios e
prejuízos para as populações. Ambas propiciaram o progresso e uma melhoria das
condições de vida das populações dos países que as puderam incorporar nas suas
respectivas economias. Ambas favoreceram a oferta de bens e serviços de
utilidade indiscutível, a preços acessíveis, possibilitados pelos efeitos de
escala e pela grande massificação do consumo.
Mas,
contrariamente, ambas desenvolveram e reforçaram o domínio do Capital sobre o
Trabalho. Ambas deram origem às formas imperialistas do exercício do poder.
Ambas desenvolveram o capitalismo financeiro, que condicionou o poder dos
Estados e contribuiu para o aprofundamento das desigualdades sociais.
Não
nos esqueçamos que, hoje, um por cento dos habitantes do globo auferem o mesmo
rendimento do auferido pelos restantes noventa e nove por cento dos habitantes,
um fosso enorme provocado principalmente pela Globalização, que gerou lucros
enormes às grandes companhias multinacionais, através do processo das
deslocalizações territoriais dos meios de produção, na procura de mão de obra
mais barata, e aos bancos, através da financeirização da economia.
Diferenças
entre a Era da Industrialização e a Era da Globalização também existem,
naturalmente. E a principal diz respeito ao emprego. Enquanto a Revolução
Industrial criou empregos massivamente, atraindo as populações rurais activas
para as cidades industriais, alterando assim, profundamente, a paisagem física
e a demografia dos países industrializados, a Globalização, excepto no período
das deslocalizações das fábricas para os países asiáticos, está a criar manchas
enormes de desemprego, uma tendência que irá agravar-se, de forma exponencial,
com o desenvolvimento da chamada economia colaborativa, que eu prefiro designar
por e-comércio.
O
desenvolvimento das novas tecnologias vai promover, também de forma
exponencial, o incremento das transacções on line, na maioria dos sectores de
bens e de serviços, o que vai eliminar o sector dos intermediários, com graves
repercussões ao nível do desemprego. Em todo o mundo, milhões de postos de
trabalho serão destruídos e o sistema capitalista, que adquiriu a dimensão
universal, não tem resposta adequada para este agudo problema. Ou até tem, na
sua forma mais perversa. Deixar que seja o mercado global a fazer a selecção
entre os países que irão crescer, que serão poucos, e os que irão,
irreversivelmente, empobrecer, que serão muitos, e, dentro de cada país, deixar
que seja o respectivo mercado interno a fazer a divisão entre uma minoria de
ricos e remediados, por um lado, e uma grande maioria de pobres, por outro, e,
se possível, muito bem escondida, para não causar alarmes sociais, que são
sempre indesejáveis e inoportunos para o bom andamento dos negócios. Os regimes
capitalistas saberão viver com esta nova realidade, diluindo-a na demagogia
discursiva, manipulando-a no espaço mediático ou, simplesmente, silenciando-a
através da repressão.
Um
Novo Mundo, assim imaginado (ou melhor, assim previsto), e que estará presente,
perante todos nós, na próxima década, vai necessitar de uma nova ordem
internacional, assente na centralização do poder político e militar da potência
dominante. Assim, a liderança do mundo será assumida pelos EUA. Para lá chegar,
só é necessário encontrar a forma de neutralizar a China e a Rússia e aniquilar
os países do Médio Oriente que ainda resistem à submissão, garantindo-se assim
o controlo da maior reserva de petróleo do mundo.
Quem
não acreditar neste prognóstico, que recue uns dez a vinte anos atrás, e se
interrogue se, nesse tempo, conseguia imaginar o mundo, tal como ele é hoje.
AC