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quinta-feira, 21 de abril de 2016

Vamos falar de algo completamente diferente da Grécia? Krugman escolhe Finlândia e... Portugal

Este artigo do Expresso data de Julho de 2015, quando a Grécia estava a viver o turbilhão referendário. Mas, apesar disto, mantém toda a actualidade, já que as verdades, ao contrário das mentiras, não têm prazo de validade. Ele deve ser lido, principalmente, pelos entusiastas do euro.
AC
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Vamos falar de algo completamente diferente da Grécia? Krugman escolhe Finlândia e... Portugal

03.07.2015 
http://expresso.sapo.pt/economia/2015-07-03-Vamos-falar-de-algo-completamente-diferente-da-Grecia--Krugman-escolhe-Finlandia-e.-Portugal


Para fugir “à depressão” de falar sobre a Grécia, o economista premiado com um Nobel volta-se para a exemplar Finlândia. Mas, afinal, este “modelo de sociedade europeia" perdeu 10% do PIB em oito anos - se não fosse a crise do sul da Europa, poderia ser apontado como “um desastre épico”. Depois, fala de Portugal, que seguiu a receita europeia de “austeridade dura” e está 6% mais pobre. No referendo grego, Krugman continua a votar “não”

Está cansado de ouvir falar da crise grega e procura algo completamente diferente? Porque não rumar à Finlândia, uma nação que "não poderia ser mais diferente dos países corruptos e irresponsáveis do sul da Europa" e se apresenta como "um modelo de sociedade europeia, com um governo honesto, finanças públicas sólidas, um rating de crédito sólido, e capacidade de se financiar nos mercados a taxas incrivelmente reduzidas"?

Este é exatamente o caminho de fuga "à depressão grega" seguido pelo economista norte-americano Paul Krugman, num artigo publicado na edição desta sexta-feira do jornal "The New York Times", com o título "Os (muitos) desastres económicos da Europa".

No entanto, o início irónico, a prometer algo de novo, rapidamente leva o autor novamente a falar de crise. Porquê? Porque oito anos de crise económica cortaram o PIB per capita da Finlândia em 10% e não parece haver sinais de que as coisas fiquem por aqui. Aliás, se não fosse "o pesadelo" da crise vivida no sul da Europa, os problemas da economia finlandesa poderiam ser considerados "um desastre épico", diz o economista premiado com um Nobel em 2008. 

No entanto, Krugman não esquece que a Finalândia não está sozinha. "É parte de um arco de declínio económico" que apanha o norte da Europa, desde a Dinamarca, que não está no euro mas gere a sua moeda como se estivesse, à Holanda". São países, diz Krugman, que estão a ter performances "muito piores do que a da França", muito criticada na comunicação social pela sua política de segurança social, mas que que na verdade está a portar-se melhor de que quase todos os outros parceiros europeus, à exceção da Alemanha.

E há, ainda, outros casos negros no sul da Europa para lá da Grécia, recorda o economista, salientando que a liderança europeia está apostada em apresentar a recuperação espanhola como um caso de sucesso quando o país tem uma taxa de desemprego de 23% e o PIB per capita continua abaixo dos níveis anteriores à crise, nos 7%.

Será o "sucesso ao estilo europeu", sugere Krugman para referir, logo de seguida, o caso de Portugal. "O país implementou obedientemente a dura austeridade e está 6% mais pobre do que era antes".

Cada história começa à sua maneira
“Afinal, porque haverá tantos desastres económicos na Europa?”, interroga o economista para salientar que quando se contam as histórias da crise em cada um destes países, encontra-se sempre princípios diferentes. É verdade que o governo da Grécia se endividou muito, mas a Espanha não e tem como protagonistas do seu caso os empréstimos privados e a bolha imobiliária. Já na Finlândia não já dívidas, mas uma redução da procura de produtos florestais, ainda na liderança das exportações do país, além de problemas na indústria transformadora e na Nokia.

O que estas economias têm em comum é o facto de terem aderido ao euro, o que as colocou num colete-de-forças, diz Krugman, que sempre teve uma posição crítica relativamente à moeda única europeia. O especialista não se esquece de referir que a Finlândia também passou por uma crise económica grave, no final dos anos 80, mas conseguiu resolver o problema em boa parte pela desvalorização da sua moeda, tornando as exportações mais competitivas. 

"Infelizmente, desta vez, não pode desvalorizar a sua moeda. E o mesmo acontece nos outros países europeus com problemas", acrescenta.

Isto significa que o euro foi um erro? "Sim", responde Krugman sem hesitações. Mas isso não quer dizer que deve ser eliminado, agora que existe. E acrescenta: "O fundamental, agora, é aliviar o colete-de-forças". 

Para isso, seria preciso atuar em várias frentes, desde um sistema unificado de garantias bancárias à flexibilidade no que respeita à exigência do pagamento da dívida por parte dos países em situação mais difícil, renunciar à austeridade excessiva e fazer todo o possível por subir a taxa de inflação da Europa, atualmente abaixo de 1%, para pelo menos 2%.

A favor do "não" no referendo grego
Sobre o referendo grego, Krugman continua a defender o voto no "não". Em caso de vitória do "sim", o que representa uma cedência às exigências dos credores, os gregos estariam simplesmente "a dar poder e coragem aos arquitetos do falhanço da Europa", diz 

Na sua opinião, "os credores já demonstraram a sua força e capacidade de humilhar quem desafiar as suas exigências de austeridade sem fim e vão continuar a defender que o desemprego em massa é o único caminho".

A vitória do "não" abre um período de incerteza. É verdade que a Grécia entrará "em terreno assustador e desconhecido" e pode, até, ter de sair do euro. No entanto, diz Krugman, este cenário oferece ao país "uma hipótese real de recuperação" e representará um choque "para as elites europeias".

A concluir, Krugman faz um apelo direto ao "não". "É razoável temer as consequências de um voto no 'não', uma vez que ninguém sabe o que virá a seguir. Mas deveriam temer ainda mais as consequências de um voto no 'sim', pois nesse caso já todos sabemos o que se segue: mais austeridade, mais desastres e eventualmente uma crise muito pior do que aquela que vivemos agora".
MARGARIDA CARDOSO

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