O
Brasil exibiu perante o mundo um deplorável espectáculo, que mais parecia um
circo romano, no Coliseu. A política, por obra e graça dos seus agentes, muitos
deles afogados nos escândalos da corrupção, desceu ao nível do excremento e da
cloaca. O Brasil ficará refém de si próprio, enquanto não fizer uma profunda
catarse do sistema político e partidário.
O
que está a ocorrer no Brasil é, na realidade, um bem elaborado golpe de Estado,
inspirado e apoiado do exterior e desencadeado pelos partidos representativos
dos interesses das classes possidentes. Dilma não é suspeita de nenhuma
infracção nem de nenhum crime, que justificasse o recurso à bomba atómica
constitucional. Além de se ter politizado a Justiça, agora, judicializou-se a
política. E isto é muito grave para o futuro do Brasil.
***
Na
realidade, Dilma governou mal, mas este julgamento cabe aos eleitores e não
pode constituir argumento para recorrer à bomba atómica constitucional, o impeachment.
Dilma
cometeu erros na área política e na área económica.
Na
área política, porque descartou os partidos de esquerda que, em coligação,
contribuíram para a sua eleição, assim como, anteriormente, para a eleição de
Lula, preferindo antes piscar o olho aos partidos de direita. Na actual crise,
perdeu apoios nas duas áreas. Faltou-lhe instinto político.
Na
área económica, e apesar de ela ser economista, não percebeu que não podia
repetir o modelo de Lula, que aproveitou os excedentes proporcionados
pelo" boom" das exportações, para retirar da miséria cinquenta milhões
de brasileiros, o que conseguiu. Com maior rendimento disponível, este segmento
populacional entrou rapidamente numa euforia consumista, que os bancos
estimularam intensivamente, emprestando dinheiro a baixo juro. Se Dilma tivesse
estudado o que aconteceu em Portugal e nos outros países europeus teria logo
intervindo, a fim de evitar o crescente endividamento das famílias. Só mais
tarde, quando a evidência da crise dos incumprimento já era uma realidade, e à
qual se veio juntar a queda das exportações do petróleo e dos produtos
agrícolas, é que ela reagiu, escolhendo o pior caminho, a receita neoliberal da
austeridade. A partir daí começou a perder apoios, que a direita revanchista
aproveitou. Como essa direita não conseguiu, por um fio, evitar a sua reeleição,
avançou-se para o desencadeamento de golpe de Estado palaciano, antecedido por
campanhas mediáticas de grande envergadura, em que se procurou intoxicar a
opinião pública brasileira.
3 comentários:
A golpada ainda vai no adro
Abraço
Puma: Agora, só falta comprar os votos dos senadores. Golpe perfeito, que não necessita de botas cardadas e de espingardas.
O Brasil está longe de ter chegado ao fim da História
Que se reparem os erros e se reforce a rua
A luta continua!
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