Talvez se curem com umas marradinhas no Muro...
segunda-feira, 30 de novembro de 2015
sexta-feira, 27 de novembro de 2015
quarta-feira, 25 de novembro de 2015
40 anos após Novembro _ a minha memória em carta a um amigo
40 anos
após Novembro _ a minha memória em carta a um amigo
Amigo João:
Nessa noite, o toque a recolher das bandeiras
foi dramático. Estive em Monsanto e ouvi os tiros da tropa do Jaime Neves. Mas
eu julgo que houve sensatez da parte do saudoso Álvaro Cunhal, que se apercebeu
da desproporção das forças em presença, quando esteve reunido com Melo Antunes,
na casa de Bredorote dos Santos, que promoveu esse encontro histórico. Perderíamos a guerra, se
ela se tivesse desencadeado. E se as forças militares, comandadas pelo Eanes,
não fossem suficientes, os americanos invadiriam Portugal, a rogo de Mário
Soares. Estava tudo combinado, e seria um mar de sangue.
Gorbachov, delegado da URSS ao Congrsso do PCP,
no Porto, poucos meses antes, foi bem claro, quando afirmou, no seu discurso,
que a URSS não estava interessada em arrastar Portugal para a Guerra Fria.
Nessas condições, era difícil vencer qualquer conflito militar. E só quinze
anos depois, quando vi Gorbachov a abdicar do poder, é que percebi a razão por
que a URSS não ajudou as forças revolucionárias portuguesas. Já não podia! E
não podia porque a sua economia, sempre boicotada pelo Ocidente, começara a entrar em crise, porque já não
aguentava o peso (improdutivo, mas necessário) da sua enorme indústria militar.
Esta é a verdade que não podemos ignorar.
Chegámos tarde a uma revolução que teria sido vitoriosa, se tivesse ocorrido em
1960.
segunda-feira, 23 de novembro de 2015
Cavaco Silva julga-se um monarca absoluto, ungido por poderes divinos...
Cavaco Silva julga-se um monarca absoluto,
ungido por poderes divinos.
As exigência feitas, hoje, pelo Presidente da
República ao secretários geral do PS, António Costa, são apenas grosseiros
subterfúgios, para esconder as acções subversivas, de verdadeira sabotagem,
que evitem a formação de um governo de esquerda. Essa intenção é logo evidente
na primeira questão colocada, aquela que se refere às moções de censura, vindas
da oposição, e às moções de confiança, pedidas pelo governo. Mesmo que os
acordos firmados não se referissem à questão, o que não é verdade, bastava
a posição confortável, sentida por António Costa, que confiou inteiramente na
palavra de Jerónimo de Sousa e de Catarina Martins, para que Cavaco Silva
dormisse descansado. Mas o acordo fala disso, e nele está bem sinalizado o compromisso
de que o PCP e o Bloco de Esquerda rejeitarão qualquer moção de censura, vinda
da direita. Todas as outras pretensas dúvidas sobre as garantias da
sustentabilidade de um governo PS são redundantes e absurdas.
Mas, o mais grave desta esquizofrenia presidencial
incide na exorbitância de poderes que Cavaco Silva está ostensivamente a
assumir, e que a Constituição não lhe confere, quando, com as suas acções
abusivas, pretende invadir as competências do parlamento e tentar esvaziar a
vontade política dos partidos de esquerda, que, devido aos acordos pós-eleitorais,
constituem hoje uma maioria clara e legítima.Tão legítima como aquela que ele
tem, como Presidente da República
Cavaco Silva não se convence que o nosso regime político é semi-presidencialista e não presidencialista. Mais! Ele julga-se um monarca absoluto, ungido por poderes divinos.
Cavaco Silva não se convence que o nosso regime político é semi-presidencialista e não presidencialista. Mais! Ele julga-se um monarca absoluto, ungido por poderes divinos.
Fotografia _ Milú Cardoso
Clicar na imagem
Milú Cardoso, além de ter sabido captar a
belíssima tonalidade sépia, oferecida pela Natureza, efeito obtido,
possivelmente, através da escolha criteriosa do
Do que conheço, julgo tratar-se da melhor
fotografia da autora.
sábado, 21 de novembro de 2015
A roubalheira continua _ Estado fica como fiador das dívidas da TAP aos bancos portugueses
Naquele tempo era assim: Eles pareciam almirantes e elas modelos de passerelle |
A
roubalheira continua _ Estado fica como fiador das dívidas da TAP aos bancos
portugueses
Eu nem queria acreditar no que estava a ler (ver notícia aqui).
Belisquei-me, para me certificar que estava acordado, e tive de ler três vezes
a notícia, para ter a certeza de que não estava com Alzheimer.
O Estado, para obter receitas para ir pagando a
dívida à troika (assim o exige o
memorando de entendimento de 2011), vende a joia da coroa, a TAP, a um
consórcio internacional, que leva também as dívidas da companhia aos bancos
portugueses. Mas os banqueiros portugueses, por um sentido patriótico, NÃO
PERMITEM O NEGÓCIO (onde é que já chegámos, com os bancos a mandarem no
Estado!), e exigem do Estado garantias, como se o Estado, depois da venda,
continuasse a ser o devedor. E o governo da nossa desgraça dobra os joelhos aos
banqueiros, garantindo-lhes que, no futuro, no caso do consórcio comprador
falhar com os compromissos de pagamento da dívida da TAP (o que será o mais
certo), será o Estado a suprir essa falha, comprando acções da TAP, com o nosso
dinheiro, para, também com sentido patriótico, as converter em meios de pagamento, a favor dos banqueiros
portugueses, que, como se vê, são os verdadeiros donos disto tudo.
Eu nunca vi um negócio assim!... É mais uma
originalidade à portuguesa. E os portugueses vão aceitar estes negócios escuros
e opacos, que delapidam o erário público?
ACORDAI, OH GENTE!... ACORDAI PARA A
REALIDADE!... ESTE GOVERNO, ALÉM DE NOS ROUBAR INDECENTEMENTE, AINDA QUER FAZER
DE NÓS ESTÚPIDOS!...
E ainda falta saber quanto dinheiro, em luvas e
comissões, circulou por baixo da mesa.
quinta-feira, 19 de novembro de 2015
Afinal, Paris está mais perto!...
Estado Islâmico executa 200 crianças publicamente
Os terroristas do autoproclamado Estado Islâmico
executaram 200 crianças sírias e publicaram o vídeo na Internet.
A gravação mostra que as crianças foram
alinhadas umas ao lado das outras e obrigadas a baixar as cabeças em direcção ao chão. Estão de costas voltadas
para os carrascos, que as mataram em segundos.
***«»***
Afinal, Paris está mais perto!...
Há crimes que não passam debaixo dos nossos
olhos. Não se vêem, não se conhecem, não se sentem. Não se cantam hinos
patrióticos nos estádio de futebol. Não se ouvem discursos inflamados nos
parlamentos nem nos fóruns internacionais. As vítimas não têm nome.Não chega lá
a solidariedade, nem as lágrimas da emoção, nem os gritos dos protestos,
simplesmente porque faltámos à chamada e não ouvimos o rebate dos sinos, porque
os sinos não tocaram. É um outro mundo que não entra nas nossas casas, na hora
do jantar.
Afinal, Paris está mais perto!...
Afinal, Paris está mais perto!...
AC
terça-feira, 17 de novembro de 2015
Paris13... o meu endereço...
domingo, 15 de novembro de 2015
"Chocada e sozinha, fingi estar morta mais de uma hora"
"Chocada
e sozinha, fingi estar morta mais de uma hora"
Uma jovem de apenas 22 anos acreditou que o
ataque ao Bataclan seria o fim da sua vida.
Isobel Bowdery tem apenas 22 anos e, na passada
sexta-feira, assistiu ao ataque terrorista ao Bataclan, em Paris, tendo revelado
todos os seus sentimentos através de uma publicação na sua página de Facebook.
As palavras desta jovem estão a tornar-se virais nas redes sociais e já contam
com quase 140 mil partilhas.
“Nunca pensamos que vai acontecer connosco. Era
apenas uma sexta-feira à noite num espetáculo de rock. O ambiente era tão bom e
todas as pessoas estavam a dançar e a sorrir”, é desta forma que Isobel começa
o seu texto, mostrando a normalidade que tudo apresentava no início de um
fim-de-semana em Paris.
“Quando os homens entraram pela porta da frente
e começou o tiroteio, ainda pensámos, ingenuamente, que fazia tudo parte do
concerto”. As sensações de felicidade foram brutalmente assassinadas pela
realidade nua e crua que pôs fim ao concerto. “Não foi apenas um ataque
terrorista, foi um massacre”, frisa.
Através de palavras, a jovem relembra as dezenas
de pessoas baleadas à sua frente, as “poças de sangue”, “os gritos de homens
adultos”… “Futuros destruídos, famílias com os corações partidos”, refere
Isobel Bowdery, que jamais olhará para o mundo da mesma forma.
“Chocada e sozinha, fingi estar morta mais de
uma hora, a suster a minha respiração, a tentar não me mexer, não chorar – não
dando a esses homens o medo que desejavam ver. Tive uma sorte incrível em
sobreviver. Mas muitos não o fizeram”, assume, relembrando os mortos do ataque
e a enorme quantidade de feridos, e referindo que as imagens daqueles homens a
assombrarão o resto da vida.
***«»***
Isabel Bowdery, uma jovem francesa, salvou-se do massacre terrorista do
Bataclan, em Paris. Com grande sangue frio e dominando a emoção que a iminência
da morte transtorna, através da cavalgada do medo, deitou-se no chão e
fingiu-se morta. Salvou a vida e salvou os sonhos de a viver em plenitude. Mas
a sua vida vai ser um inferno, pois irá arrastar para sempre o pesadelo da
tragédia. Vai acordar as noites, em pânico e aos gritos, no meio do sangue e
dos cadáveres e ouvindo os gritos lancinantes dos feridos e o ensurdecedor
matraquear dos tiros assassinos, disparados.
Boa sorte, Isabel Bowdery. Que consigas também
apagar a dor da memória, já que não poderás esquecer a tragédia dessa noite de
terror.
Quero também dizer-te que o teu depoimento me emocionou muito. Li-o, com um nó espetado na garganta, para enganar as lágrimas. Lágrimas que eram por ti e por todos aqueles que morreram. E a mão tremia, enquanto escrevia.
Guardarei luto por essa trágica noite.
Quero também dizer-te que o teu depoimento me emocionou muito. Li-o, com um nó espetado na garganta, para enganar as lágrimas. Lágrimas que eram por ti e por todos aqueles que morreram. E a mão tremia, enquanto escrevia.
Guardarei luto por essa trágica noite.
AC
Barack Obama sangra-se em saúde _ por Odete Santos*
Barack
Obama sangra-se em saúde
No coração da Europa, em Paris, bem perto de
nós, o Isis perpetrou um conjunto de ataques, reivindicando-os e atribuindo-os
ao facto de a França ter colaborado nos bombardeamentos contra o Estado
Islâmico.E o que me faz escrever estas linhas é precisamente a hipocrisia
daqueles países e sinistras personalidades que, vertendo lágrimas de crocodilo,
se sangram em saúde lamentando estes atentados terroristas.
Hoje, está mais do que assente a
responsabilidade dos E.U.A. na criação e desenvolvimento do ISIS
Sabe-se, e está hoje assente que os E.U.A são o Estado mais terrorista do mundo. Falam por nós os atentados de 11 de Setembro que provocaram o derrube das três torres. Foram três e não duas.
Sabe-se, e está hoje assente que os E.U.A são o Estado mais terrorista do mundo. Falam por nós os atentados de 11 de Setembro que provocaram o derrube das três torres. Foram três e não duas.
Sabe-se e está hoje assente que a guerra do
Iraque assentou numa mentira: a de que Sadam Hussein utilizava armas proibidas.
Mentira, aliás reconhecida por uma das personagens principais desse melodrama,
Tony Blair, que reconhece que essa mentira muito provavelmente estará na origem
da formação do Estado Islâmico..
Sabe-se que os Estados Un idos da América
prestam assistência militar ao Estado Islâmico, para que este apoie a oposição
ao Presidente Bachar el Assad.
Sabe-se e as carrinhas Toyota nas mãos do Estado
Islâmico disso são prova, do suporte técnico dos E.U.A. ao Estado Islâmico.
Sabe-se que a Nato que agora também se sangrou em saúde a propósito dos atentados em Paris, esteve na base da destruição da Líbia transformando este país num ninho de terroristas
Sabe-se que a Nato que agora também se sangrou em saúde a propósito dos atentados em Paris, esteve na base da destruição da Líbia transformando este país num ninho de terroristas
Não posso dar mais do que uma modesta
contribuição na denúncia dos verdadeiros criadores do Estado Islâmico. Mas vou
fazê-lo para que o mundo não se esqueça de quem o lança na 3ª Guerra mundial
Odete
Santos
* Ex-deputada
do PCP _ Assembleia da República
quarta-feira, 11 de novembro de 2015
A União Europeia já é um projecto falhado...
A União Europeia e, especialmente, a União
Económica Europeia nasceram para morrer e não para vencer. Pelo caminho, ficou
a miséria, provocada pela destruição das economias do sul da Europa, unicamente
em benefício das economias dos países mais ricos, principalmente a da Alemanha, país este que se serviu da moeda única para alimentar o seu velho sonho imperial.
Mas as identidades das nacionalidades dos povos
europeus, nas suas diferentes expressões políticas e linguistas, fala mais
alto. Como já afirmei algumas vezes, ninguém consegue unir a Europa. Nem
Carlos Magno, nem Napoleão nem Hitler conseguiram alcançar esse desiderato pela
força das armas. Também não serão os mercados financeiros nem o euro a unir um
continente inteiro, onde nas situações mais críticas os nacionalismos emergem. As forças centrífugas são mais fortes do que as forças
centrípetas.
Antes da crise das dívidas soberanas, em 2010,
cerca de sessenta por cento dos europeus acreditava no projecto de integração
na União e na moeda única. Em finais de 2013, essa percentagem desceu para
cerca de trinta por cento. Hoje, depois do que aconteceu na Grécia, que foi
castigada com mais austeridade, a credibilidade das instituições europeias está
de rastos.
terça-feira, 10 de novembro de 2015
E a razão está do nosso lado...
Interrompeu-se um ciclo, um tenebroso ciclo, que
parecia não ter fim. Iniciou-se outro, o da esperança. Compete a todos nós, aos
cidadãos de esquerda, aos eleitores e aos eleitos, assegurar e consolidar o seu
ascendente caminho. Socialistas, comunistas e bloquistas estão, assim,
convocados para a luta. A Direita está unida na humilhante derrota. A Esquerda
tem de estar unida na gloriosa vitória. Não tenhamos medo, porque a História
acaba sempre por dar razão aos quem têm razão... E a razão está no nosso lado.
segunda-feira, 9 de novembro de 2015
O "PACTO DA ALAMEDA", de 1975, foi quebrado
Mário Soares discursando no comício da Alameda (Fonte Luminosa) |
O "PACTO DA ALAMEDA" (Fonte Luminosa), de 1975, foi
quebrado. Passados quarenta anos, o Partido Socialista atravessou a linha que o separava da esquerda e
assumiu a liderança de um processo de mudança, que já é considerado um momento
histórico para Portugal e para a Europa.
Há momentos, escrevi, num comentário, que o PS não
é o Sirysa. Ao contrário de Sirysa, o PS é um partido com história, que teve no
passado uma importante participação na construção da UE, e que, por isso, não
pode ser achincalhado nem vilipendiado pelos barões de Bruxelas nem pela
czarina de Berlim.
Os comunistas e os bloquistas assumiram com
grandeza as suas responsabilidades políticas e históricas, ao viabilizarem um governo
liderado por António Costa, que, durante este complicado processo, revelou
qualidades ímpares de negociador, o que augura para o futuro a sua afirmação
como grande estadista. De uma assentada, passou de vencido a vencedor,
baralhando a direita, seduzindo o PCP e o BE e anulando as dissidências
incendiárias, no seu próprio partido. A quase unanimidade alcançada na comissão
nacional e na comissão política vai aumentar a sua credibilidade junto dos
militantes, simpatizantes e eleitores socialistas.
Foi uma grande vitória política da esquerda e da
democracia.
sábado, 7 de novembro de 2015
É urgente a mudança!
Clicar para ampliar a imagem
Bill Maher Amabilidade de João Fráguas |
Não sei quem é Bill Maher. Mas não faz mal. O que interessa é que ele proferiu uma afirmação verdadeira, com a qual todos nós concordamos. Na realidade, ninguém pode votar bem, quer dizer, ninguém, politicamente, poderá defender os seus interesses, se não estiver bem informado e se não procurar uma base mínima de entendimento do complexo mundo da Política, da Economia, da História e da Sociedade. É um problema universal, de difícil resolução. Mas tenhamos esperança, pois hoje o número de pessoas esclarecidas já é significativo. E será desejável que assim seja, para que não se confirme um desabafo meu, escrito por aqui, há uns meses, e que dizia: Um paradoxo que existe entre a Ditadura e a Democracia, é que, em Democracia, por vezes, é o povo que escolhe os carrascos.
Mas, no momento em que escrevo este pequeno e
modesto texto, começo a sentir a aproximação do tempo da mudança e do
renascimento da esperança. Os sinais são animadores. São sinais de uma ruptura
(embora diplomaticamente suavizada) com um tenebroso passado recente e que
poderão novamente ser o anúncio de uma nova onda de choque que varra a
empedernida Europa. Não seria a primeira vez que Portugal serviria de exemplo e
de modelo, ao posicionar-se na vanguarda da descoberta de novos caminhos. Sem
querer comparar o que é incomparável, recordemos os Descobrimentos, que rasgaram
com a sua luz, a escuridão medieval europeia, e a revolução de Abril, que, por
efeito de simpatia, contribuiu para o derrube de todas as ditaduras militares,
existentes à época, na Europa e na América Latina.
E ninguém nos agradeceu esse trabalho… Antes nos
roubaram o seu produto… E, agora, querem continuar a roubar-nos… É urgente a
mudança!
quinta-feira, 5 de novembro de 2015
T-Mobile Sing-along Trafalgar Square (extended version)
Amabilidade da «poeta» Maria Gomes
**
**
É comovente e exaltante!... Uma única ideia, um
único pensamento, uma única luz e uma música emblemática unem em uníssono, num
culto profano de irmandade, uma multidão de jovens...
Apetece ter estado lá!...
quarta-feira, 4 de novembro de 2015
Pablo Picasso
Picasso fez uma revolução total na pintura. Uma
ruptura radical com o passado e, de tal modo profunda e incisiva, que marcou não só a sua
própria geração, mas, principalmente, todas as gerações que lhe sucederam, até à
actualidade. Não há nenhum pintor da modernidade que não se inspire nas forma
pictóricas, inventadas por Picasso.
Embora isto já tivesse sido tentado timidamente
por pintores que o antecederam no tempo, foi com Picasso que a pintura deixou
de ser uma representação do espaço real visível, para se transformar numa
vibrante expressão criativa da imaginação, transmitida à tela. Para isso
arriscou cortar com o cânone, recorrendo, em relação à forma, à distorção dos
objectos e das figuras humanas, nestas principalmente ao nível da intervenção
nos rostos (o espaço anatómico por ele preferido para fazer as suas
experiências de representação, na procura de expressões geniais, bem vincadas) e no recurso às formas arredondadas dos corpos e ao jogos da desproporção das dimensões.
Isto permitiu-lhe ganhar liberdade criativa (já que não pretendia captar o real) para
poder jogar com o efeito das cores, principalmente as cores fortes e garridas,
que acabavam por dominar o espaço visual do espectador.
Como se tivesse regressado à Idade Média,
Picasso ignorou, na maioria dos seus trabalhos, a terceira dimensão, a da
profundidade, para que o primeiro plano ganhasse relevo e importância. Seguiu
um processo contrário ao do seu contemporâneo e compatriota, Salvador Dali
(outro grande pintor), que, precisamente, preferiu a terceira dimensão para dar
azo, através da desproporção das figuras, à sua imaginação febril e
fantasmagórica.
Picasso ganhou a imortalidade. E vai ser
difícil, nos próximos tempos, que um novo génio surja para lhe roubar a
influência que continua a ter nos pintores da actualidade. Só se surgir uma
revolução, recorrendo ao digital. Mas isso talvez não seja já pintura. Poderá
ser outra coisa.
Alexandre
de Castro
4 de Novembro de 2015
***«»***
Carta a Picasso
(A propósito da pintura
“Les Demoiselles d’ Avignon”)*
Não sei se as fodeste, antes de as pintares
para lhes matar o erotismo e a beleza
sei que não te enforcaste atrás da tela
como previra Derain
a carne rósea está lá, bem esquadrinhada,
sob o fundo azul da tua matriz original
e em explosivo esplendor,
resultado da tua arte,
mas espartilhada na frieza
das linhas firmes
rasgadas a régua e a esquadro.
Os rostos foram talhados a machado
e só os olhos brilham
em esquadrias angulosas
e não sei se há naqueles olhares
um qualquer desapiedado desprezo
ou algum apelo ou desagravo
ou até uma incisiva acusação,
pois ternura e afectos são coisas que lá
não vejo.
Eu sei que te inspiraste em formas
arcaicas
embora negues a herança negróide
do nariz de todas elas
mas quero dizer-te, Picasso,
com esta geometria descentrada
salvaste a pintura e a Humanidade
e soubeste afirmar a arte como mentira
tal como Plínio afirmou
a propósito daquele pintor romano
que pintou uvas tão perfeitas
que até os pássaros as foram debicar.
E, para comer, tu apenas nos deixaste
no fundo da tela
o cacho de uvas, a pêra, a maçã,
e uma talhada de melancia.
És um forreta, Picasso,
e agora já sei que as fodeste, antes de
as pintares.
Alexandre de Castro
Ourém, Abril de 2009
* Célebre pintura de 1907, que inaugurou a corrente cubista.
terça-feira, 3 de novembro de 2015
Milagres!...
Imagem importada do blogue Ponte Europa |
Os milagres operam-se por hipnose ou por
ilusionismo... A crendice popular faz o resto...
A ideia subjacente ao conceito de milagre, e que
inspira quem os inventa e, metodicamente, os organiza, vai ao encontro da
ambição de cada ser humano pretender vir a adquirir uma capacidade
restauradora e renovadora da sua confiança no futuro, que as difíceis
condições da existência ameaçam constantemente. O desejo que aconteça um
milagre, que inverta o sentido de uma realidade adversa, nasce do sentimento de
impotência do Homem, perante a Natureza e perante a Vida, quando não a sabe
interpretar, compreender e explicar. Fica assim aberto o caminho para os
operadores e técnicos dos milagres, que os transformam em investimento
imaterial e com proveitos imateriais e materiais.
AC
domingo, 1 de novembro de 2015
Quem sai aos seus não degenera...
Imperador Guilherme II da Alemanha |
Em Maio de 1900, eclodiu na China a segunda
guerra do século XX, um século que haveria de conhecer muitas mais, o que fez
dele o século mais sangrento de sempre. A primeira guerra, a Guerra Boér, na África do Sul, apanhou a
dobragem do século e acabou, com a vitória das forças militares do Império
Britânico, em Maio de 1900.
Na China, também em Maio, os boxers [punhos
harmoniosos e justiceiros] desafiaram a autoridade do imperador e marcharam
sobre Pequim, assassinando pelo caminho todos os estrangeiros e saqueando e
destruindo todos os seus bens. De imediato, se formou uma coligação
internacional, envolvendo os Estados
Unidos, Grã-Bretanha, Rússia, Itália, França e Japão, que naquele país tinham
interesses, para, através de uma acção militar punitiva, esmagar a rebelião. Não sei se, na altura, já
estava na moda o argumento das armas de destruição maciça e massiva.
A Alemanha enviou para a China quatro mil
soldados, que embarcaram num porto do Mar do Norte, embarque esse que teve
honras da presença do imperador Guilherme II, que, no seu patriótico discurso,
afirmou:
“Quando encontrardes o inimigo, derrotá-lo-eis. Não
dareis tréguas, não fareis prisioneiros. Que todos quanto vos caírem nas
mãos fiquem à vossa mercê. Tal como os Hunos, há mil anos, sob o comando de
Átila, ganharam uma reputação de virtude, que lhes deu um lugar na tradição da
história, que também o nome da Alemanha fique de tal modo conhecido na China, que
nenhum chinês volte alguma vez a ousar sequer olhar um alemão de soslaio”
Os chineses, ainda hoje, tremem de medo, quando
alguém pronuncia a palavra Alemanha, e os chineses que vivem na Alemanha têm um
cuidado muito especial, quando olham para um alemão, não vá o diabo tecê-las.
Destaquei e enquadrei as palavras de Guilherme
II para assinalar que a assumpção do militarismo, do totalitarismo, do profundo desprezo pelo “outro”
e pelo “inimigo”e a exibição arrogante da superioridade da raça não começaram com
Hitler. Tiveram antecedentes. E também têm sucessores condignos, que, em vez
dos canhões e das baionetas, utilizam as armas financeiras para dominar os
povos.
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