É preciso preparação para entrar na poesia de
Herberto Helder. Caso contrário, é como nos atirarmos à piscina sem saber
nadar, diz-nos Luís de Almeida Gomes. Para o alfarrabista, Herberto Helder
é mais do que um poeta incontornável: era um amigo e um frequentador habitual
da sua livraria. A Artes & Letras - que há alguns meses deixou o
Largo da Misericórdia para se instalar na Av. Elias Garcia – está, aliás, na
origem da amizade que os uniu durante décadas. Apesar de Luís reconhecer o lado
“discreto e recatado” de Herberto, revela que quando se encontravam, quase
sempre na livraria, falavam de tudo. Ainda hoje, de cada vez que lê os poemas
de Herberto Helder volta a descobrir coisas novas.
***«»***
Para ler Herberto Helder é necessário alguma
preparação prévia para compreender a profundidade do seu universo poético. Não
basta o traquejo da interpretação da escrita linear, onde as palavras têm um
único significado, aquele que elas adquiriram com a evolução natural da língua.
A poesia de Herberto Helder exige-nos que consigamos abarcar a terceira
dimensão das palavras, quando inseridas em contextos metafóricos, que nos
aproximam do abismo dos sentidos. Por isso, tinha de ser uma poesia complexa e
densa, uma poesia que, ao lê-la em silêncio, nos levasse a ouvir o som das
palavras, sem sequer as pronunciar. É todo um mundo onírico que nos deslumbra e
nos eleva para uma realidade superior, até ali inatingível e que não fazia
parte do nosso imaginário.
Recuso estabelecer hierarquias de valor
literário entre poetas e também entre escritores. O século vinte foi o século
de ouro da literatura portuguesa, quer na prosa quer na poesia. Para trás,
ficaram as brilhantes prestações de Eça, Camilo, Garrett, Vieira e Camões.
Juntando a este friso Aquilino Ribeiro, Pessoa, Saramago e Herberto Helder, julgo que nos encontramos
perante a galeria dos Príncipes da Língua Portuguesa, à qual falta acrescentar
alguns escritores brasileiros.
Alexandre de Castro
Sem comentários:
Enviar um comentário