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sexta-feira, 27 de março de 2015

O desafio de ler Herberto Helder


É preciso preparação para entrar na poesia de Herberto Helder. Caso contrário, é como nos atirarmos à piscina sem saber nadar, diz-nos Luís de Almeida Gomes. Para o alfarrabista, Herberto Helder é mais do que um poeta incontornável: era um amigo e um frequentador habitual da sua livraria. A Artes & Letras -  que há alguns meses deixou o Largo da Misericórdia para se instalar na Av. Elias Garcia – está, aliás, na origem da amizade que os uniu durante décadas. Apesar de Luís reconhecer o lado “discreto e recatado” de Herberto, revela que quando se encontravam, quase sempre na livraria, falavam de tudo. Ainda hoje, de cada vez que lê os poemas de Herberto Helder volta a descobrir coisas novas.

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Para ler Herberto Helder é necessário alguma preparação prévia para compreender a profundidade do seu universo poético. Não basta o traquejo da interpretação da escrita linear, onde as palavras têm um único significado, aquele que elas adquiriram com a evolução natural da língua. A poesia de Herberto Helder exige-nos que consigamos abarcar a terceira dimensão das palavras, quando inseridas em contextos metafóricos, que nos aproximam do abismo dos sentidos. Por isso, tinha de ser uma poesia complexa e densa, uma poesia que, ao lê-la em silêncio, nos levasse a ouvir o som das palavras, sem sequer as pronunciar. É todo um mundo onírico que nos deslumbra e nos eleva para uma realidade superior, até ali inatingível e que não fazia parte do nosso imaginário.
Recuso estabelecer hierarquias de valor literário entre poetas e também entre escritores. O século vinte foi o século de ouro da literatura portuguesa, quer na prosa quer na poesia. Para trás, ficaram as brilhantes prestações de Eça, Camilo, Garrett, Vieira e Camões. Juntando a este friso Aquilino Ribeiro, Pessoa, Saramago e Herberto Helder, julgo que nos encontramos perante a galeria dos Príncipes da Língua Portuguesa, à qual falta acrescentar alguns escritores brasileiros.
Alexandre de Castro

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