Só, como
Franz Kafka
Kafka é o nome de um enigma que o próprio levou
a vida inteira a tentar decifrar, tendo encontrado apenas “um mundo tremendo”
dentro da sua cabeça, que ele legou como herança ao século que fez do “kafkiano”
um lugar-comum.
Proferiu a pergunta a que um exército de
exegetas irá tentar responder: “‘Quem sou eu, afinal?’”. Esta pergunta teve
respostas diferentes, nunca faltou Kafka para todos os gostos: o santo, o
culpado, o funcionário renitente, o homem que tinha “um mundo tremendo na sua
cabeça”.
António
Guerreiro
***«» ***
Cada um de
nós tem um Kafka dentro de si
Em Kafka, tal como em Fernando Pessoa, a obra
literária, muito densa, profunda e intimista, confunde-se com o seu criador.
Aliás, Kafka e Pessoa percorreram caminhos
comuns, nas suas vidas. Ambos viveram a fase adulta, nas duas primeiras décadas
do século XX, um período marcado pela Primeira Guerra Mundial e pelo
aparecimento do movimento modernista, na literatura e nas artes. Ambos eram
indivíduos solitários e tímidos, com uma grande dificuldade de se relacionar com
as mulheres. Ambos assumiram uma visão decadentista do Homem, do mundo e da
sociedade. Ambos morreram precocemente. Ambos construíram um mundo de
pesadelos. Ambos deixaram muitos escritos por publicar ou inacabados. Ambos,
sem qualquer premeditação ou intencionalidade, criaram o mito à volta da sua
vida e da sua obra literária. Ambos desencadearam, posteriormente à sua morte,
grandes polémicas em relação ao seu posicionamento político. Ambos, como mais
nenhuns outros escritores, despertaram tanto interesse aos críticos e aos
investigadores literários. Ambos alcançaram o estatuto de génios da literatura.
E, depois disto tudo, chega-se à conclusão de
que o mundo Kafkiano e o mundo pessoano ainda têm muito para descobrir.
AC
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