Portugal está a ser uma cobaia da Europa, onde
se pretende experimentar a funcionalidade de um modelo sócio-económico assente
numa política de baixos salários e no atrofiamento do Estado Social. Se a
experiência resultar, ela será expandida para os países mais pobres da UE.
Para o capitalismo europeu esta é a forma mágica
para a economia europeia recuperar a competitividade perdida ao longo da última
década, criando-se uma Europa económica a duas velocidades e até,
possivelmente, cada uma delas com a sua moeda. O euro forte para os países
ricos e o euro fraco para os países pobres. Com uma mão-de-obra disponível e de
baixo custo, as unidades produtivas das grandes multinacionais europeias instalar-se-ão
nos países do sul, para poderem competir no mercado global com as economias
asiáticas, invertendo assim o ciclo autofágico da economia europeia, que vive
essencialmente das exportações para os outros países do bloco da UE. A
Alemanha, por exemplo, apenas exporta para fora do espaço europeu 40 por cento
do total das suas exportações. O declínio da economia europeia, que não cresce,
pode ver-se por este exemplo. Antes, a Alemanha exportava as máquinas para a
China montar as suas fábricas. Depois, a China começou a construir essas
máquinas, com menos custos, para o seu próprio setor industrial. A seguir, a
China iniciou a venda dessas máquinas para os tradicionais mercados externos da
Alemanha, fazendo-lhe uma forte concorrência, ao nível de preços. Atualmente, a
China já vende essas máquinas à indústria alemã. Mas se a Alemanha deslocalizar
as fábricas que produzem essas máquinas para Portugal e para a Grécia recupera
a competitividade, através dos salários baixos.
Talvez assim se compreendam melhor os objetivos
de longo prazo do ministro das Finanças da Alemanha, ao arquitetar os planos de
austeridade para os países do sul da Europa, em que se procurou promover
unicamente a desvalorização salarial, isentando de quaisquer cortes os
rendimentos do capital.
Para criar ricos é necessário, primeiro, criar os pobres. É o que está a acontecer em Portugal e na Grécia.
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