O argumento da existência de túneis na fronteira
entre a Faixa de Gaza e Israel, que serviriam para o Hamas infiltrar no
território inimigo os seus guerrilheiros e o armamento para o lançamento dos
temíveis rockets, não pode ser
aceite como justificação plausível para a brutal carnificina que o exército
israelita está desnecessariamente a provocar entre a população palestiniana, o
que prefigura a ocorrência continuada de um crime de guerra, já que o governo
judaico sabe de antemão que os seus soldados estão a matar indiscriminadamente
civis desarmados, incluindo mulheres e crianças, e não os combatentes daquele
movimento islamista. O argumento é pueril e idiota, e, de tanto ter sido
invocado nos media, sem a devida aferição
crítica, para provar que a existência daqueles túneis constituíam uma
verdadeira e grave ameaça para Israel, acabou por se tornar credível para o
distraído cidadão comum. Se um túnel tem uma entrada, também tem uma saída, e,
neste caso, a saída estará localizada no lado do território israelita. Bastaria
ao exército de Israel identificar essas saídas, através do patrulhamento
minucioso da fronteira comum, e, em cada uma delas, deixar patrulhas
permanentes e rotativas, para, e tal como os caçadores fazem aos coelhos
alapados, apanhar os militantes do Hamas. Essas saídas não podem estar
dissimuladas, já que não é possível, no frenesim de uma ação clandestina,
apagar as marcas da perfuração do subsolo, nem esconder os vestígios das grandes
movimentações de terras, efetuadas para o efeito. Com esta solução, o governo
judaico evitaria o milhar de mortes que esta guerra já provocou.
Mas o objetivo de Israel não é proceder à
destruição dos túneis, destruição esta que acessoriamente acabará por ocorrer. O
seu objetivo a médio e a longo prazo consiste em proceder à ocupação efetiva da
Faixa de Gaza, depois de neutralizar o Hamas, e aí começar a construir
colonatos judaicos, tal como aconteceu na Cisjordânia, o que viola claramente o
Direito Internacional, que os governos de Israel, de uma forma contumaz, não
têm cumprido, na parte que lhes interessa.
Com o acordo envergonhado dos países ocidentais,
o governo israelita vai criar mais um ponto de tensão, a juntar ao já existente
na problemática Ucrânia, a fim de alimentar a emergente Guerra Quente, que está a suceder à extinta Guerra Fria, do século passado, e que se caracteriza pela luta
surda e intestina, herdade dos tempos coloniais, entre o bloco dos países
ocidentais, liderados pelos EUA, e aqueles países e povos do sul e do leste, que pretendem garantir a
sua identidade e obter a sua soberania plena, como é o caso do povo palestiniano e dos povos russófilos da atual Ucrânia. É que a guerra é uma “redundância” violenta da política, da ideologia, da diplomacia e dos grandes interesses económicos. E bastará riscar um fósforo para acender uma fogueira,
que poderá transformar-se rapidamente num gigantesco incêndio, se a ganância de
alguns ou a imprevidência de outros teimosamente persistir.
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