Este ativo não é tóxico. Foi transferido para o Novo Banco. |
A economista e colunista Megan Greene, que se
tem debruçado nos últimos anos sobre a crise das dívidas nos países
sul-europeus, considera que serão “falsas” quaisquer afirmações que sugeriam
que os contribuintes não serão prejudicados pelo resgate ao BES.
Para Megan Greene, economista-chefe da
consultora Maverick e
cronista da Bloomberg, os contribuintes nacionais não irão escapar às
consequências do resgate ao Banco Espírito Santo.
Recorde-se que o banco privado será dividido em
‘banco mau’ e em ‘banco bom’, estimando-se que virá a necessitar de quase cinco
mil milhões de euros para se capitalizar. Este domingo à noite, governador do
Banco de Portugal, Carlos Costa, anunciou a solução para o BES, com o Governo,
através de um comunicado do Ministério das Finanças, a afirmar que os
contribuintes não terão de suportar quaisquer custos.
E é sobre esta questão que surgem as dúvidas de
Megan Greene. Num comentário de que o The Guardian dá conta, publicado na
rede social Twitter, Megan Greene considera que o resgate ao BES é
“assustadoramente” parecido com os resgates à banca irlandesa, “embora
numa escala muito menor”. A economista acrescenta que serão “falsos” quaisquer
comentários que sugiram que os contribuintes estão ‘livres’ da situação.
Na sua conta no Twitter, a cronista da Bloomberg
dá também destaque a um artigo da autoria de Claire Jones, artigo esse que tem
como título ‘Como roubar um país, ao estilo do Espírito Santo’ ('How to rip off a country, Espirito Santo style', lê-se no
título original). Claire Jones já tinha escrito para a revista Forbes sobre a
crise no banco privado.
***«»***
A descoberta de todas operações subterrâneas e opacas
de Ricardo Salgado ainda não se esgotou. O próprio Governador do Banco de
Portugal (BdP), na sua comunicação de domingo à noite, referiu a enorme
complexidade dos muitos esquemas contabilísticos fraudulentos, utilizados pelo
BES, e da impossibilidade de penetrar nos circuitos de territórios "com
outras jurisdições". Por isso, é muito possível que o buraco financeiro do
BES tenha uma amplitude muito maior do que aquela que foi revelada publicamente.
Também não é de afastar a hipótese de que o primeiro-ministro, a ministra da
Finanças, o governador do BdP e a autoridade financeira europeia já tenham
conhecimento de toda a extensão da enorme fraude, e que só por uma questão de oportunidade política tenham decidido revelar a verdade, apenas quando se apresentar
um momento mais favorável, que possa ser devidamente preparado e encenado. Com esta fórmula engenhosa, os portugueses seriam previamente preparados para receberem a notícia de mais uma inevitabilidade
da crise, o que justificaria o anúncio do recurso a um novo endividamento externo e a mais medidas de austeridade.
Neste momento, e considerando o historial deste
governo, ao nível da manipulação da opinião pública, em que se conseguem construir
narrativas benignas para poder
justificar e desenvolver políticas malignas, é aconselhável não acreditar nos seus dirigentes nem nos seus lacaios.
Uma coisa, no entanto, é certa. Se o buraco
financeiro do BES tiver o tamanho do Evereste, poderemos vir a dizer que Ricardo
Salgado, o banqueiro do regime, foi também o seu coveiro.
Sem comentários:
Enviar um comentário