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terça-feira, 8 de julho de 2014

Notas do meu rodapé: A convergência à esquerda é possível


Julgo ter chegado o momento certo de o Partido Comunista assumir, sem qualquer tipo de triunfalismo, mas sim com a humildade democrática, que sempre o caracterizou, a liderança convergente dos partidos e das forças de esquerda, que se encontrem verdadeiramente interessadas, sem sofismas e sem propósitos de protagonismos mediáticos, na construção de uma plataforma unitária, que seja a base da formação de uma grande frente popular, que venha a derrubar este governo de ignomínia e de traição. A reunião [ver aqui] de uma delegação do PCP, chefiada por Jerónimo de Sousa, com o Bloco de Esquerda, que, desta vez, será o anfitrião, poderá ser o princípio de qualquer coisa 
O Partido Socialista, com as suas ambiguidades e tergiversações, ao nível da ação e do discurso político, perdeu a sua oportunidade, que, aliás, nunca desejou, de ser o partido aglutinador de toda a esquerda. A atual crise veio desmascarar a sua verdadeira natureza política de partido do sistema, que serve de alternativa segura (para esse mesmo sistema) à claudicação da direita. Na oposição, combate verbalmente a direita, e, quando alcança o poder, faz a mesma política dessa mesma direita, introduzindo-lhe algumas nuances socializantes.  
No pós-guerra, e, principalmente, na década de sessenta do século passado, quando a doutrina comunista “contaminava” a Europa Ocidental, através dos movimentos estudantis e das lutas de um proletariado politizado e com uma grande consciência de classe, os partidos socialistas e sociais-democratas europeus, por contraposição ao verdadeiro ideal socialista, inventaram a fórmula do «socialismo de rosto humano», um conceito tão vazio e tão  inócuo como aquele que o CDS materializou, tempos depois, com a referência ao «socialismo cristão». 
A probabilidade de esta convergência à esquerda ter pernas para andar já está a assustar a direita europeia, não só pelas consequências diretas em Portugal, mas também pelo contágio que possa vir a provocar nos países do sul da Europa. A recente publicitação [ver aqui] da preocupação dos ministros das Finanças do Eurogupo com os elevados impostos sobre o trabalho, praticados na Europa, e a manifestação da sua intenção (para inglês ver) de proporem a sua descida, inclusivamente em Portugal, é um sinal inequívoco do alarme instalado. Não terá sido por acaso a simultaneidade da formulação daquela declaração dos membros do Eurogrupo e o anúncio da reunião dos dois partidos de esquerda portugueses. É que eles sabem que um simples fósforo pode provocar um grande incêndio, tal como aconteceu em 1914, em que um atentado mortal a um príncipe herdeiro foi o rastilho suficiente para que, um mês depois, o grande panelão da Europa dos impérios, a ferver em tensões políticas, sociais e económicas, acabasse por rebentar, de uma forma trágica.
A História não parou nas mãos sujas dos banqueiros e dos políticos ao seu serviço. E também não deixa de se repetir, embora de maneiras muito diferentes, consoante o tempo histórico. Era bom que Portugal desse o pontapé de saída, tal como fez no passado longínquo, quando encurtou o tamanho do mundo, e no passado recente, quando demonstrou que as Forças Armadas também podem fazer revoluções democráticas e libertadoras.

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