Julgo ter chegado o momento certo de o Partido
Comunista assumir, sem qualquer tipo de triunfalismo, mas sim com a humildade
democrática, que sempre o caracterizou, a liderança convergente dos partidos e
das forças de esquerda, que se encontrem verdadeiramente interessadas, sem
sofismas e sem propósitos de protagonismos mediáticos, na construção de uma
plataforma unitária, que seja a base da formação de uma grande frente popular,
que venha a derrubar este governo de ignomínia e de traição. A reunião [ver aqui] de uma
delegação do PCP, chefiada por Jerónimo de Sousa, com o Bloco de Esquerda, que,
desta vez, será o anfitrião, poderá ser o princípio de qualquer coisa
O Partido Socialista, com as suas ambiguidades e
tergiversações, ao nível da ação e do discurso político, perdeu a sua
oportunidade, que, aliás, nunca desejou, de ser o partido aglutinador de toda a
esquerda. A atual crise veio desmascarar a sua verdadeira natureza política de
partido do sistema, que serve de alternativa segura (para esse mesmo sistema) à
claudicação da direita. Na oposição, combate verbalmente a direita, e, quando
alcança o poder, faz a mesma política dessa mesma direita, introduzindo-lhe algumas
nuances socializantes.
No pós-guerra, e, principalmente, na década de
sessenta do século passado, quando a doutrina comunista “contaminava” a Europa
Ocidental, através dos movimentos estudantis e das lutas de um proletariado
politizado e com uma grande consciência de classe, os partidos socialistas e
sociais-democratas europeus, por contraposição ao verdadeiro ideal socialista,
inventaram a fórmula do «socialismo de rosto humano», um conceito tão vazio e
tão inócuo como aquele que o CDS
materializou, tempos depois, com a referência ao «socialismo cristão».
A probabilidade de esta convergência à esquerda
ter pernas para andar já está a assustar a direita europeia, não só pelas
consequências diretas em Portugal, mas também pelo contágio que possa vir a
provocar nos países do sul da Europa. A recente publicitação [ver aqui] da preocupação dos
ministros das Finanças do Eurogupo com os elevados impostos sobre o trabalho,
praticados na Europa, e a manifestação da sua intenção (para inglês ver) de
proporem a sua descida, inclusivamente em Portugal, é um sinal inequívoco do
alarme instalado. Não terá sido por acaso a simultaneidade da formulação
daquela declaração dos membros do Eurogrupo e o anúncio da reunião dos dois
partidos de esquerda portugueses. É que eles sabem que um simples fósforo pode
provocar um grande incêndio, tal como aconteceu em 1914, em que um atentado
mortal a um príncipe herdeiro foi o rastilho suficiente para que, um mês
depois, o grande panelão da Europa dos impérios, a ferver em tensões políticas,
sociais e económicas, acabasse por rebentar, de uma forma trágica.
A História não parou nas mãos sujas dos
banqueiros e dos políticos ao seu serviço. E também não deixa de se repetir,
embora de maneiras muito diferentes, consoante o tempo histórico. Era bom que
Portugal desse o pontapé de saída, tal como fez no passado longínquo, quando
encurtou o tamanho do mundo, e no passado recente, quando demonstrou que as
Forças Armadas também podem fazer revoluções democráticas e libertadoras.
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