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terça-feira, 4 de março de 2014

O caminho para a 3ª Guerra Mundial


Amabilidade de João Fráguas

A propósito deste tema, remeto o leitor para o meu apontamento em Notas do meu rodapé de 19 de Janeiro de 2013, que a seguir transcrevo: 

As causas remotas da crise financeira internacional

Qualquer acontecimento (na vida, na política, na economia e em tudo) tem causas e consequências. E a atual crise económica e financeira internacional também teve causas, as próximas (mais conhecidas) e as remotas (pouco divulgadas e pensadas), embora os corifeus do sistema tentem apresentá-la como se de um fatalismo se tratasse, imprevisível e inevitável, sem culpados e sem tratantes. E o excesso de liquidez, ocorrido a partir dos finais dos anos setenta, é uma das causas remotas da crise. Aquele aumento de liquidez resultou de vários fatores: da enorme acumulação de capitais nos bancos dos EUA, proporcionada pela remessa de avultados lucros proporcionados pela deslocalização das indústrias para a Ásia; da então recente formação dos off shore financeiros, em diversas partes do mundo, a fim de captar poupanças dos países menos desenvolvidos; da decisão unilateral da desvinculação do dólar do padrão ouro, para poder valorizar especulativamente aquela moeda; e, também, pelo facto dos pagamentos do petróleo a nível internacional começarem a ser feitos em dólares, por imposição dos EUA (houve, nesse sentido, uma negociação do governo dos EUA com a Arábia Saudita e com outros países árabes do Golfo).
Neste novo quadro, concebido pelos arquitetos do neoliberalismo, os EUA, cujo Tesouro saiu depauperado da guerra do Vietname, reforçaram a liderança económica e financeira a nível planetário, liderança essa que agora está a ser seriamente ameaçada pela ascensão meteórica e sustentada da fulgurante economia chinesa.
Para rentabilizar rapidamente o dinheiro, e uma vez que a economia, já amputada pelo efeito da deslocalização, não podia absorvê-lo na forma de créditos às empresas, os bancos americanos conceberam então a máquina financeira de multiplicar o dinheiro: o subprime. Iniciou-se um processo gigantesco de crédito fácil e de risco, às famílias, para a compra de casa própria. Os respetivos títulos, sem que os operadores se questionassem sobre o seu valor real, entraram no jogo da roleta da Bolsa de Valores, dando origem à economia de casino. Parecia que o mundo nunca iria acabar, pois todos ganhavam dinheiro a rodos, com destaque para os bancos e os seus acionistas, que trataram de colocar os seus dividendos em lugares seguros, não fosse o céu desabar. E tinha que desabar, pois toda aquela sumptuosa riqueza era falsa, uma vez que não tinha sustentabilidade na economia real.
E o que se seguiu, já é conhecido. Falência em cadeia do sistema financeiro americano, que foi salvo pelos impostos dos cidadãos, num processo injusto e escandaloso da socialização dos prejuízos. Os acionistas dos bancos, os verdadeiros donos do mundo, ganharam mais uma vez.
Como esta crise era estrutural e não conjuntural, e como a globalização aumentou a interdependência das economias mundiais, a Europa não poderia passar incólume ao seu efeito sistémico, principalmente os países periféricos, onde o subprime foi incrementado. No entanto, existe uma diferença entre o que aconteceu nos EUA e na Europa. Por um lado, a liquidez dos bancos europeus não atingiu o nível dos seus congéneres norte-americanos, que muito beneficiaram com a internacionalização do dólar. Por outro lado, a economia europeia começou a viver um processo económico autofágico, a viver para si própria (e este é o seu verdadeiro problema). Basta dizer que a Alemanha só exporta para o exterior do espaço europeu trinta por cento do total das suas exportações. Por outro lado, na Europa, a Alemanha e a França exportaram o subprime para os países periféricos, promovendo o endividamento agressivo desses países. Tal como aqui denunciámos (ver esta hiperligação), a Alemanha, num processo inédito de engenharia financeira, e violando o Tratado de Maastricht, emitiu uma quantidade enorme de dinheiro (marcos, depois convertidos em euros), que escondeu em depósitos bancários, tendo-o utilizado, posteriormente, para forçar subtilmente o endividamento de Portugal, Espanha e Grécia (a Itália defronta-se, principalmente, com o problema da dívida interna), países que agora se encontram submetidos, por imposição da Alemanha e de alguns países ricos da UE, a uma dura, penosa e asfixiante austeridade, cujo obejetivo declarado será a promoção da redução dos seus défices orçamentais, num horizonte temporal muito curto.

Adenda: Recebi do meu sobrinho, João de Castro Mota, a seguinte observação, que acrescento aqui:
"Deixe-me só acrescentar um elemento à sua análise: para além da criação das offshores, da queda do padrão ouro, e de todos os factores que menciona, tomei conhecimento de outro elemento no excelente livro http://www.webofdebt.com/. A reserva federal americana tem andado a suportar as bolsas de valores nos EUA. De todas as vezes que parece que vai haver um "crash" na bolsa de valores, isso nunca acontece (seriamente). Por exemplo, não aconteceu com os atentados de Londres ou das torres gémeas. Nessas alturas, a Reserva Federal cria dinheiro e envia-o para fora do país (de modo a parecer um investidor exterior) e compra acções nas bolsas, de modo a parecer que a confiança está em alta". 
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2 comentários:

O Puma disse...

A China é o maior credor da dívida americana

Alexandre de Castro disse...

E,ajuizadamente, desde o início da crise financeira, em 2008, a China está a vender os ativos da dívida americana, em seu poder, para investir no setor agro-alimentar, em Africa e na América do Sul, a fim de garantir, no futuro, a alimentação da sua população. Angola é um dos destinos desses avultados investimentos. Com esta estratégia, a China também fica resguardada de um previsível terramoto financeiro global, que venha a ocorrer, libertando-se assim de uma moeda que poderá vir a sofrer uma forte desvalorização.