Ele foi o medo da bancarrota, o medo da falência
da Segurança Social, o medo do fim do Estado social, o medo dos retrocessos nos
direitos e nos avanços civilizacionais e o medo permanente suscitado pelo
anúncio de medidas muitíssimo negativas para depois serem aplicadas menos umas
décimas de austeridade. O objetivo é o de gerar a resignação, o conformismo e o
alívio por o corte realizado ser ligeiramente abaixo do previsto. Podia ter
sido pior, pensam alguns.
Outra das linhas do medo é a do fomento das
divisões entre os portugueses tendo por base a inveja e a denúncia de alegados
privilégios, enquanto as grandes fortunas aumentam mais de 14% em 2013. Colocar
os mais jovens contra os idosos, os trabalhadores do setor privado contra os
funcionários públicos, os que têm apoios sociais contra os que não têm, os do
interior contra os do litoral, sempre numa lógica divisionista insuscetível de
gerar qualquer mobilização dos portugueses para saírem da crise.
Outra das linhas do medo é a da consagração da
incerteza como a tónica que pontua a vida de milhares de portugueses, incerteza
em relação aos rendimentos do trabalho, às reformas e às pensões, incerteza em
relação aos serviços prestados pelo Estado e incerteza generalizada em relação
ao futuro. Medo que não chegue, medo que não tenha ou simplesmente medo. O
Governo desregulou as nossas vidas, numa espécie de mimetização com o
funcionamento da globalização e numa deriva de aproximação aos modelos de
sociedade com respostas de protecção social mais débeis, conformadas com a
colocação de cidadãos na rota da exclusão social e da pobreza.
António
Galamba
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A política da subliminar difusão e instalação do
medo tem os mesmos efeitos perversos das políticas de terra queimada.
Salazar criou a PIDE e desencadiou uma violenta repressão silenciosa para
amedrontar os portugueses. Passos Coelho, um aventureiro sem escrúpulos e sem
moral, escolheu a iminente ameaça do caos, a divisão entre as classes sociais e os grupos profissionais e a incerteza sobre
futuro, cujo invisível modelo foi inspirado nos
manuais de tortura da CIA. Desmoralizar primeiro, dividir a seguir, para depois impunemente atacar.
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