O presidente do Conselho de Administração da
Sonae, Belmiro de Azevedo, afirmou hoje que os salários em Portugal só podem
aumentar quando os trabalhadores tiverem a mesma produtividade que, por exemplo,
os alemães.
"Os salários só podem aumentar - e oxalá
que isso aconteça -- quando, de facto, um trabalhador português fizer uma coisa
igual, parecida, com um trabalhador alemão ou inglês, seja o que for",
afirmou Belmiro de Azevedo, à margem da cerimónia de entrega dos diplomas dos
finalistas do MBA Executivo da Porto Business School.
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A charlatanice à solta
Pasmo de espanto como é que na seleta reunião da
entrega dos diplomas aos finalistas do MBA Executivo da Porto Business School,
pejada de economistas, ninguém tivesse corrigido a aleivosia do patrão da
Sonae, sobre a sua errada definição de produtividde, que ele, por motivos
ideológicos e de classe, focaliza exclusivamente no factor de produção, o
trabalho, ignorando um outro factor, o investimento, que é é a grande alavanca
do aumento da produtividade. Belmiro de Azevedo, ou já está senil, ou é
ignorante ou, então, é um charlatão. Se está senil, não deveria ter sido
convidado para uma reunião, que, em princípio, deveria caracterizar-se pelo
rigor da linguagem económica. A segunda hipótese, a da crassa ignorância, também
deveria ter ditado a sua exclusão. A terceira hipótese, a da charlatanice,
remete-me para a dúvida se os dirigentes e responsáveis daquele MBA Executivo
não passam também de uns grandes charlatães (ou charlatões, se preferirem).
A produtividade de uma economia mede-se pela
razão do PIB em relação ao número de trabalhadores ativos, multiplicado pelo
número total de horas de trabalho (PIB / nº de trabalhadores x nº de horas
trabalhadas). Como se trata de uma fração, com numerador e denominador,
qualquer pessoa percebe que a produtividade é tanto maior, quanto maior for a
riqueza produzida e quanto menor for o número de horas trabalhadas. Num
determinado ano, a produtividade em relação ao ano anterior aumentará se um
mesmo número de trabalhadores, trabalhando o mesmo número de horas, produzir
mais e (ou) melhores produtos e serviços (mais riqueza). Mas essa capacidade de
aumentar riqueza depende quase exclusivamente de um dos factores da composição
do PIB, o investimento (em novas tecnologias, que encurtem o tempo de trabalho
para fabricar cada unidade dos produtos, na formação profissional dos
trabalhadores, aumentando as suas capacidades produtivas, e na melhoria da
gestão e do marketing). Também se poderia aumentar a produtividade, aumentando
os horários de trabalho ou os ritmos de trabalho, que é o que está a acontecer
em Portugal, atualmente. Mas tudo isto depende do empresário e não dos
trabalhadores, que cumprem (não têm outro remédio) os horários e os ritmos de
trabalho que lhes são impostos. Ora a produtividade tem sido, desde sempre, o
calcanhar de Aquiles da economia portuguesa, e isto porque os empresários não
arriscam em investimentos focalizados na inovação, que aumentem a produtividade
e, consequentemente, a competitividade.
Neste sentido, pode dizer-se que os nossos
empresários foram e são parasitas, pois só pensam em aumentar a produtividade à
custa do aumento dos tempos de trabalho e aumentar a produtividade à custa da
desvalorização salarial (menores custos de trabalho). Apesar de ser o homem mais
rico de Portugal, Belmiro de Azevedo é um deles, pois só aposta em negócios de
pouco risco e de pouco valor acrescentado (devido à baixa produtividade), mas
que lhe proporciona elevados lucros, devido aos baixos salários.
3 comentários:
Belíssima explicação. Só faltou o boneco. O drama é que este tem sido o discurso dos últimos anos contando com a falta de entendimento de muitos nestas questões.
Obrigado, amigo Grazina.
Na realidade, procura-se fazer uma confusão sobre o conceito económico da produtividade, focalizando-a isoladamente apenas no fator trabalho e ignorando o papel do investimento, no seu cálculo. Não é nada ingénua a indução dessa confusão, pois dela procura-se tirar a conclusão de que se a produtividade é baixa será porque os trabalhadores trabalham com pouco empenho.
Belmiro
um erro ortográfico
ou uma toupeira
contra os consumidores?
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