Banco de sentar |
Pagámos muito para salvar os bancos, continuamos
a salvar banqueiros
No início do seu trajecto como candidato a líder
do PSD, Pedro Passos Coelho apareceu com uma proposta fulminante – o homem que
queria fazer o Estado desaparecer das nossas vidas, desejava naturalmente,
privatizar a Caixa Geral de Depósitos. Perante o clamor nacional, Passos mudou
de ideias. Afinal, "a Caixa era a Caixa" e nunca lhe tinha passado
pela cabeça a relação especial que os portugueses mantinham com "a
Caixa".
Agora, o governo decidiu criar um segundo banco
público. Desta vez, é um Banco de Fomento que vai ajudar a conceder crédito às
empresas. A ideia até tem o apoio do PS que a defendeu antes do governo. Alguns
economistas – como o insuspeito Mira Amaral – defendem que o que este banco vai
fazer podia perfeitamente ser feito pela Caixa Geral de Depósitos, um organismo
que faz de público em determinadas ocasiões e de "banco comercial" em
outras.
Mas lá se avançou para a comissão instaladora do
Banco de Fomento, que irá revolucionar a economia portuguesa (como se alguma
coisa, infelizmente, conseguisse fazer isso perante as obtusas regras europeias
a que estamos obrigados). Acontece que os vencimentos anunciados para os
membros da comissão instaladora do banco público revelam mais uma vez ao mundo
que as "gorduras do Estado" que o governo jurou combater eram a
arraia-miúda, os reformados e os funcionários públicos. As "gorduras"
do Estado eram os serviços públicos e os pensionistas com reformas acima dos
600 euros. Não há dinheiro para nada, mas há dinheiro para pagar quase meio
milhão de euros a três criaturas que vão "instalar" o segundo banco
público do país. Maria Antonieta também pensava assim.
O argumento de que se tem de pagar muito bem
porque se tem de ir buscar "os melhores" é iníquo no meio da
devastação social a que o país está sujeito. E quem são os melhores? E onde
está a lei que tinha travado salários no Estado superiores aos do Presidente da
República? E se é suposto que um primeiro-ministro seja "um dos
melhores" porque lhe é imposto um rendimento tão baixo em comparação com o
banqueiro? Até aqui, pagámos muito (com uma crise e desemprego elevado) para
salvar os bancos. Continuamos a salvar banqueiros. Os cortes que vêm aí não vão
incidir sobre o salário destes novos banqueiros públicos – vão voltar aos do
costume, aos ricos que têm rendimentos de 1000 euros brutos. Anda-se a brincar
com o fogo.
Ana Sá Lopes
***«***
Não são apenas os vencimentos dos três
administradores do futuro Banco de Fomento que roçam a obscenidade. O maior
escândalo virá a seguir, com a admissão de centenas de funcionários, para lhe
dar corpo. Os jotinhas do PSD já
salivam de ansiedade, enquanto vão embelezando os currículos com dezenas de
certificados de presença em simpósios e diplomas de frequência de cursos de marketing, que, por si só, já são verdadeiros
produtos do marketing, destinados a satisfazer, pese embora a sua inutilidade, a
magreza e a penúria curriculares. Finalmente, o partido irá pagar-lhes a
fidelidade canina e o trabalho desenvolvido nas campanhas eleitorais em que participaram com garboso entusiasmo, quer na encenação gloriosa dos comícios políticos, quer
enfileirando nas barulhentas caravanas de automóveis, a acenar as bandeiras
laranja, da setinha virada para cima.
Os barões do partido vão começar a puxar dos seus galões, para
tentar encaixar um sobrinho ou um filho de um amigo, a quem se deve um favor. Os
economistas, esses virão todos da Católica, onde são bem industriados na
cartilha neoliberal e com a garantia higiénica de não trazerem nos neurónios a
mácula de contágio com as ideias subversivas dos perigosos economistas
marxistas e neokeynesianos.
Mais um gasto supérfluo e desnecessário de
milhões de euros, para dar emprego à numerosa clientela partidária.
A Caixa Geral de Depósitos, o banco do Estado, que tem experiência
no ramo do crédito às empresas e beneficia de um grande prestígio institucional
e de uma grande implantação em todo o território nacional, seria a instituição
bancária mais vocacionada para desenvolver a missão do tal Banco de Fomento.
AC
2 comentários:
Eu já não tenho pachorra para esta escumalha...claro que tudo é criado com um fim....de colocar os catraios dos acenos e que lhes prometeram um cargo...Curriculum esta gente??? Nunca souberam o que era trabalhar....nem a mama da mãe ainda largaram...Pois claro...venham os cortes para os magros...e vem aquele canalha dizer, que tem que ser...que a dívida tem que ser paga e a austeridade um dia tem que acabar...e só com cortes é possível...E, continua tudo impávido e sereno a aceitar esta fantochada toda. Pois é, cada vez mais céptica....ai se as minhas pernas deixassem.....não era cá que eu estava de certeza......
Ana: A situação, principalmente nas zonas rurais do norte do país e nos bairros periféricos do Porto, começa a ficar explosiva. Nesses sítios, a fome é uma realidade concreta e dramática.
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