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segunda-feira, 24 de março de 2014

Banco de Fomento e a nova Cartilha dos Marialvas...

Banco de sentar

Pagámos muito para salvar os bancos, continuamos a salvar banqueiros

No início do seu trajecto como candidato a líder do PSD, Pedro Passos Coelho apareceu com uma proposta fulminante – o homem que queria fazer o Estado desaparecer das nossas vidas, desejava naturalmente, privatizar a Caixa Geral de Depósitos. Perante o clamor nacional, Passos mudou de ideias. Afinal, "a Caixa era a Caixa" e nunca lhe tinha passado pela cabeça a relação especial que os portugueses mantinham com "a Caixa".
Agora, o governo decidiu criar um segundo banco público. Desta vez, é um Banco de Fomento que vai ajudar a conceder crédito às empresas. A ideia até tem o apoio do PS que a defendeu antes do governo. Alguns economistas – como o insuspeito Mira Amaral – defendem que o que este banco vai fazer podia perfeitamente ser feito pela Caixa Geral de Depósitos, um organismo que faz de público em determinadas ocasiões e de "banco comercial" em outras.
Mas lá se avançou para a comissão instaladora do Banco de Fomento, que irá revolucionar a economia portuguesa (como se alguma coisa, infelizmente, conseguisse fazer isso perante as obtusas regras europeias a que estamos obrigados). Acontece que os vencimentos anunciados para os membros da comissão instaladora do banco público revelam mais uma vez ao mundo que as "gorduras do Estado" que o governo jurou combater eram a arraia-miúda, os reformados e os funcionários públicos. As "gorduras" do Estado eram os serviços públicos e os pensionistas com reformas acima dos 600 euros. Não há dinheiro para nada, mas há dinheiro para pagar quase meio milhão de euros a três criaturas que vão "instalar" o segundo banco público do país. Maria Antonieta também pensava assim.
O argumento de que se tem de pagar muito bem porque se tem de ir buscar "os melhores" é iníquo no meio da devastação social a que o país está sujeito. E quem são os melhores? E onde está a lei que tinha travado salários no Estado superiores aos do Presidente da República? E se é suposto que um primeiro-ministro seja "um dos melhores" porque lhe é imposto um rendimento tão baixo em comparação com o banqueiro? Até aqui, pagámos muito (com uma crise e desemprego elevado) para salvar os bancos. Continuamos a salvar banqueiros. Os cortes que vêm aí não vão incidir sobre o salário destes novos banqueiros públicos – vão voltar aos do costume, aos ricos que têm rendimentos de 1000 euros brutos. Anda-se a brincar com o fogo.
Ana Sá Lopes
***«***
Não são apenas os vencimentos dos três administradores do futuro Banco de Fomento que roçam a obscenidade. O maior escândalo virá a seguir, com a admissão de centenas de funcionários, para lhe dar corpo. Os jotinhas do PSD já salivam de ansiedade, enquanto vão embelezando os currículos com dezenas de certificados de presença  em simpósios e diplomas de frequência de cursos de marketing, que, por si só, já são verdadeiros produtos do marketing, destinados a satisfazer, pese embora a sua inutilidade, a magreza e a penúria curriculares. Finalmente, o partido irá pagar-lhes a fidelidade canina e o trabalho desenvolvido nas campanhas eleitorais em que participaram com garboso entusiasmo, quer na encenação gloriosa dos comícios políticos, quer enfileirando nas barulhentas caravanas de automóveis, a acenar as bandeiras laranja, da setinha virada para cima.
Os barões do partido vão começar a puxar dos seus galões, para tentar encaixar um sobrinho ou um filho de um amigo, a quem se deve um favor. Os economistas, esses virão todos da Católica, onde são bem industriados na cartilha neoliberal e com a garantia higiénica de não trazerem nos neurónios a mácula de contágio com as ideias subversivas dos perigosos economistas marxistas e neokeynesianos.
Mais um gasto supérfluo e desnecessário de milhões de euros, para dar emprego à numerosa clientela partidária.
A Caixa Geral de Depósitos, o banco do Estado, que tem experiência no ramo do crédito às empresas e beneficia de um grande prestígio institucional e de uma grande implantação em todo o território nacional, seria a instituição bancária mais vocacionada para desenvolver a missão do tal Banco de Fomento.
AC  

2 comentários:

Ana disse...

Eu já não tenho pachorra para esta escumalha...claro que tudo é criado com um fim....de colocar os catraios dos acenos e que lhes prometeram um cargo...Curriculum esta gente??? Nunca souberam o que era trabalhar....nem a mama da mãe ainda largaram...Pois claro...venham os cortes para os magros...e vem aquele canalha dizer, que tem que ser...que a dívida tem que ser paga e a austeridade um dia tem que acabar...e só com cortes é possível...E, continua tudo impávido e sereno a aceitar esta fantochada toda. Pois é, cada vez mais céptica....ai se as minhas pernas deixassem.....não era cá que eu estava de certeza......

Alexandre de Castro disse...

Ana: A situação, principalmente nas zonas rurais do norte do país e nos bairros periféricos do Porto, começa a ficar explosiva. Nesses sítios, a fome é uma realidade concreta e dramática.