terça-feira, 30 de agosto de 2011
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
Libertai-vos e gozai. Deus já não se importa. E até gosta!
O padre Ksawery Knotz |
Kama Sutra para católicos é êxito
O ‘Kama Sutra para Católicos’, da autoria de um padre franciscano polaco, é já um verdadeiro sucesso editorial na Polónia. O livro, aprovado pela Igreja Católica polaca, defende, por exemplo, a prática do sexo oral.
A publicação, um guia teórico--prático, destina-se a ‘apimentar’ a vida sexual dos casais católicos, que deve ser "atrevida e surpreendente", como afirma o próprio autor, o padre Ksawery Knotz. "Todo o acto – uma carícia, uma posição sexual – com o intuito de excitar é permitido e agrada a Deus", escreve o autor. "Durante o interlúdio sexual, os casais podem mostrar o seu amor e carícias de todas as formas. Podem empregar os estímulos manual e oral", refere ainda aquele sacerdote na publicação.
"Algumas pessoas, quando ouvem falar na sacralidade do sexo no matrimónio, imediatamente imaginam que deve haver privação de alegria, de jogos frívolos, de fantasias e posições atractivas. Pensam que deve ser triste como um hino tradicional eclesiástico", escreve ainda o frade franciscano.
A editora Sw. Pawel, que publica o livro, está já a preparar mais cópias, depois de cinco mil exemplares terem sido vendidos em poucas semanas.
Correio da Manhã- 17 Maio 2009
***
Esta notícia já não é de hoje. Guardei-a em arquivo, por a considerar uma curiosidade, já que reporta a uma iniciativa arrojada de um padre polaco, levada a cabo num país profundamente católico e conservador. Ao tropeçar no recorte, questiono-me o que teria acontecido, depois do livro ter sido lançado com êxito na Polónia. Não me dei conta que, em Portugal, tivesse sido publicado, o que é pena, pois poderia aliviar a consciência de muitos católicos portugueses que, em segredo, já quebraram os tabus impostos por uma religião que nunca soube conviver com a sexualidade.
domingo, 28 de agosto de 2011
EUA e Israel preocupados com arsenal de armas químicas da Síria
Os Estados Unidos e Israel temem que a actual instabilidade na Síria possa facilitar o acesso de grupos terroristas a um perigoso arsenal de agentes químicos e armas não-convencionais produzidas e armazenadas pelo regime do Presidente Bashar al-Assad.
Fontes dos serviços secretos dos dois países estimaram ao The Wall Street Journal que a Síria detém pelo menos cinco unidades de produção de armas químicas, como por exemplo gás mostarda e gás sarin. Também existem suspeitas de que Damasco estará na posse de material nuclear, fornecido pela Coreia do Norte, além de sistemas de artilharia e mísseis.
PÚBLICO
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Inicio este comentário com uma declaração de intenções. Não morro de amores pelas ditaduras árabes, e, muito menos, pelo regime teocrático dos Ayatollah do Irão, que detesto. Mas este juízo de valor, assim formulado explicitamente, não me impede de condenar veementemente todas as manobras subversivas do mundo ocidental contra as ditaduras árabes que, usufruindo das riquezas proporcionadas pelo petróleo, fogem, contudo, ao seu controlo.
Conquistado e destruído o Iraque, com o argumento pueril da existência de perigosas armas de destruição massiva, seguiu-se a Líbia, invadida pela França, que, se serviu da cumplicidade da Liga Árabe e da complacência das potências emergentes, para invadir este país com mercenários do Qatar, que, nas televisões alinhadas, se fizeram passar por rebeldes líbios, além de ter coordenado cerca de oito mil acções de bombardeamentos aéreos, que mataram milhares de civis e destruíram estruturas básicas (electricidade, serviços de saúde e património imobiliário). Agora, está dado o pontapé de saída para o ataque à rebelde Síria, também governada por uma ditadura, mas, por mais que pretendam os meios de comunicação social alinhados com o imperialismo, não é comparável, assim como o de Kadafi não foi, à sanguinária ditadura de Pinochet, no Chile, concebida, alinhada e apoiada pelos EUA.
E é inconcebível como o jornal PÚBLICO dá guarida acriticamente a esta notícia, habilmente montada pelos serviços secretos ocidentais e com a conivência de jornalistas pouco escrupulosos, e que remete para uma incongruência gritante, que passa despercebida à maioria da opinião pública. Como é possível admitir a divulgação de uma notícia, baseada no anonimato de fontes de serviços secretos de dois países ocidentais, sem que não tivesse havido nenhum inquérito para averiguar a fuga de informações, que se presumem serem estratégicas? Dá que pensar!
Estamos, pois, na eminência de mais uma guerra de invasão a um país soberano, a Síria. E, agora, o pretexto será a eventual existência de perigosas armas químicas, que poderão destruir o planeta, e que, se o país for invadido, nunca serão encontradas, tal como aconteceu com as armas secretas de Saddam Hussein.
Já há muito tempo que se percebeu a estratégia dos EUA em relação à defesa dos seus interesses vitais no Médio Oriente. Exercendo um controlo indirecto sobre todos os países do golfo, ricos em reservas de petróleo, é fundamental conquistar o Irão, o segundo país a deter maiores reservas do ouro negro no seu subsolo. Falhadas as tentativas de derrubar o regime dos Ayatollah, há dois anos, estimulando e apoiando os movimentos dissidentes, e, por outro lado, renunciando ao paradigma, utilizado na invasão do Iraque, de pretender disseminar o modelo democrático ocidental na região, os EUA mudaram de táctica, mantendo contudo a estratégia, que já vem dos tempos de Clinton, e que é muito parecida com aquela que é utilizada para fabricar um imaginário inimigo externo.
Prepare-se pois o leitor. Nos próximos tempos, irá ser bombardeado, não pelas bombas da NATO, mas por uma artilharia informativa, que tentará persuadi-lo que, por baixo da cada pedra da calçada daquela célebre estrada de Damasco, percorrida a pé, há mais de dois mil anos, pelo apóstolo S. Paulo, jazem, escondidas, milhares de toneladas de bombas químicas, capazes de destruir a Humanidade inteira.
Prepare-se pois o leitor. Nos próximos tempos, irá ser bombardeado, não pelas bombas da NATO, mas por uma artilharia informativa, que tentará persuadi-lo que, por baixo da cada pedra da calçada daquela célebre estrada de Damasco, percorrida a pé, há mais de dois mil anos, pelo apóstolo S. Paulo, jazem, escondidas, milhares de toneladas de bombas químicas, capazes de destruir a Humanidade inteira.
sábado, 27 de agosto de 2011
O mundo à beira do caos - por Miguel Urbano Rodrigues
A crise do capitalismo é tão profunda que até os líderes dos EUA e da União Europeia e os ideólogos do neoliberalismo assumem essa realidade. Estão alarmados por não enxergarem uma solução que possa deter a corrida para o abismo. Esforçam-se sem êxito para que apareça luz no fim do túnel.
Apesar das contradições existentes, os EUA e as grandes potências da União Europeia puseram fim às guerras inter-imperialistas – como a de 1914-18 e a de 1939-45 – substituindo-as por um imperialismo colectivo, sob a hegemonia norte-americana, que as desloca para países do chamado Terceiro Mundo submetidos ao saque dos seus recursos naturais.
Mas a evolução da conjuntura mundial demonstra também com clareza que a crise do capital não pode ser resolvida no quadro de uma "transnacionalização global", tese defendida por Toni Negri e Hardt no seu polémico livro em que negam o imperialismo tal como o definiu Lenine. Entre os EUA e a União Europeia (e os países emergentes da Ásia e da América Latina) existe um abismo histórico que não foi nem pode ser eliminado em tempo previsível.
A crescente internacionalização da gestão não desemboca automaticamente na globalização da propriedade. O Estado transnacional, a que aspiram uma ONU instrumentalizada, o FMI, o Banco Mundial e a OMC é ainda uma aspiração distante do sistema de poder.
O caos em que o mundo está a cair ilumina o desespero do capital perante a crise pela qual é responsável.
A ascensão galopante da direita neoliberal ao governo em países da União Europeia ressuscita o fantasma do fascismo na República de Weimar. A História não se repete porem da mesma maneira e é improvável que a extrema-direita se instale no Poder no Velho Mundo. Mas a irracionalidade do assalto à razão é uma realidade.
O jogo do dinheiro nas bolsas é hoje muito mais importante na acumulação de gigantescas fortunas do que a produção. O papel dos "mercados" – eufemismo que designa o funcionamento da engrenagem da especulação nas manobras do capital – tornou-se decisivo no desencadeamento de crises que levam à falência países da União Europeia. Uma simples decisão do gestor de "uma agência de notação" pode desencadear o pânico em vastas áreas do mundo.
O surto de violência em bairros degradados de Londres, Birmingham, Manchester e Liverpool alarma a Inglaterra de Cameron e motiva nas televisões e jornais ditos de referência torrentes de interpretações disparatadas de sociólogos e psicanalistas que falam como porta-vozes da classe dominante.
Em Washington, congressistas influentes manifestam o temor de que, o "fenómeno britânico" alastre aos EUA e, nos guetos das suas grandes cidades, jovens latinos e negros imitem os da Grã-Bretanha, estimulados por mensagens e apelos no Twitter e no Facebook.
Mas enquanto a pobreza e a miséria alastram, mesmo nos países mais ricos, a crise não afecta os banqueiros e os gestores das grandes empresas. Segundo a revista Fortune, as fortunas de 357 multimilionários ultrapassam o PIB de vários países europeus desenvolvidos.
Nos EUA, na Alemanha, na França, na Itália os detentores do poder proclamam que a democracia política atingiu um patamar superior nas sociedades desenvolvidas do Ocidente. Mentem. A censura à moda antiga não existe. Mas foi substituída por um tipo de manipulação das consciências eficaz e perverso. Os factos e as notícias são seleccionados, apresentados, valorizados ou desvalorizados, mutilados e distorcidos, de acordo com as conveniências do grande capital. O objectivo é impedir os cidadãos de compreender os acontecimentos de que são testemunhas e o seu significado.
Os jornais e as cadeias de televisão nos EUA, na Europa, no Japão, na América Latina dedicam cada vez mais espaço ao "entretenimento" e menos a grandes problemas e lutas sociais e ao entendimento do movimento da História profunda.
Os temas impostos pelos editores e programadores – agentes mais ou menos conscientes do capital – são concursos alienantes, a violência em múltiplas frentes, a droga, o crime, o sexo, a subliteratura, o quotidiano do jet set, a vida amorosa de príncipes e estrelas, a apologia do sucesso material, as férias em lugares paradisíacos, etc.
Evitar que os cidadãos, formatados pela engrenagem do poder, pensem, é uma tarefa permanente dos media.
As crónicas de cinema, de televisão, a música, a crítica literária reflectem bem a atmosfera apodrecida do tipo de sociedade definida como civilizada e democrática por aqueles que, colocados na cúpula do sistema de poder, se propõem como aspiração suprema a multiplicar o capital.
Em Portugal surgiu como inovação grotesca um clube de pensadores; e os debates na televisão e as mesas redondas e entrevistas com dóceis comentadores, mascarados de "analistas", são insuportáveis pela ignorância, hipocrisia e mediocridade da quase totalidade desses serventuários do capital. Contra-revolucionários como Mário Soares, António Barreto, Medina Carreira, Júdice; formadores de opinião como Marcelo Rebelo de Sousa, um intoxicador de mentes influenciáveis que explica o presente e prevê o futuro como se fora o oráculo de Delfos; jornalistas his master's voice, como Nuno Rogeiro e Teresa de Sousa; colunistas arrogantes que odeiam o povo português e a humanidade, como Vasco Pulido Valente, pontificam nos media imitando bruxos medievais, servindo o sistema em exercícios de verborreia que ofendem a inteligência.
O Primeiro-ministro e o seu lugar-tenente Portas, exibindo posturas napoleónicas, pedem "sacrifícios" e compreensão aos trabalhadores enquanto, submissos, aplicam o projecto do grande capital e cumprem exigências do imperialismo.
Desde o inicio do primeiro governo Sócrates, o que restava da herança revolucionária de Abril foi mais golpeado e destruído do que no quarto de século anterior.
Ao Portugal em crise exige-se o pagamento de uma factura enorme da crise maior em que se afunda o capitalismo.
Nos EUA, pólo hegemónico do sistema, o discurso do Presidente Obama, despojado das lantejoulas dos primeiros meses de governo, aparece agora como o de um político disposto a todas as concessões para permanecer na Casa Branca. A sua última capitulação perante o Congresso estilhaçou o que sobrava da máscara de humanista reformador. Para que o Partido Republicano permitisse aumentar de dois biliões de dólares o tecto de uma dívida pública astronómica – já superior ao Produto Interno Bruto do país – aceitou manter intocáveis os privilégios indecorosos usufruídos por uma classe dominante que paga impostos ridículos e golpear duramente um serviço de saúde que já era um dos piores do mundo capitalista. A contrapartida da debilidade interior é uma agressividade crescente no exterior.
Centenas de instalações militares estado-unidenses foram semeadas pela Ásia, Europa, América Latina e África.
Mas "a cruzada contra o terrorismo" não produziu os resultados esperados. As agressões americanas aos povos do Iraque e do Afeganistão promoveram o terrorismo em escala mundial em vez de o erradicar. Crimes monstruosos foram cometidos pela soldadesca americana no Iraque e no Afeganistão. O Congresso legalizou a tortura de prisioneiros. A "pacificação do Iraque", onde a resistência do povo à ocupação é uma realidade não passa de um slogan de propaganda. No Afeganistão, apesar da presença de 140 mil soldados dos EUA e da NATO, a guerra está perdida.
Os bombardeamentos de aldeias do noroeste do Paquistão por aviões sem piloto, comandados dos EUA por computadores, semeiam a morte e a destruição, provocando a indignação do povo daquele país.
O bombardeamento da Somália (onde a fome mata diariamente milhares de pessoas) por aviões da USAF, e de tribos do Iémen que lutam contra o despotismo medieval do presidente Saleh tornou-se rotineiro. Como sempre, Washington acusa as vítimas de ligações à Al Qaeda.
Na África, a instalação do AFRICOM, um exército americano permanente, e a agressão da NATO ao povo da Líbia confirmam a mundialização de uma a estratégia imperial.
O terrorismo de Estado emerge como componente fundamental da estratégia de poder dos EUA.
Obviamente, Washington e os seus aliados da União Europeia tentam transformar o crime em virtude. Os patriotas que no Iraque, no Afeganistão, na Líbia resistem às agressões imperiais são qualificados de terroristas; os governos fantoches de Bagdad e Cabul estariam a encaminhar os povos iraquiano e afegão para a democracia e o progresso; o Irão, vítima de sanções, é ameaçado de destruição; o aliado neofascista israelense apresentado como uma democracia moderna.
A perversa falsificação da Historia é hoje um instrumento imprescindível ao funcionamento de uma estratégia de poder monstruosa que, essa sim, ameaça a Humanidade e a própria continuidade da vida na Terra.
O imperialismo acumula porém derrotas e os sintomas do agravamento da crise estrutural do capitalismo são inocultáveis.
O capitalismo, pela sua própria essência, não é humanizável. Terá de ser destruído. A única alternativa que desponta no horizonte é o socialismo. O desfecho pode tardar. Mas a resistência dos povos à engrenagem do capital que os oprime cresce na Ásia, na Europa, na América Latina, na África. Eles são o sujeito da História e a vitória final será sua.
Apesar das contradições existentes, os EUA e as grandes potências da União Europeia puseram fim às guerras inter-imperialistas – como a de 1914-18 e a de 1939-45 – substituindo-as por um imperialismo colectivo, sob a hegemonia norte-americana, que as desloca para países do chamado Terceiro Mundo submetidos ao saque dos seus recursos naturais.
Mas a evolução da conjuntura mundial demonstra também com clareza que a crise do capital não pode ser resolvida no quadro de uma "transnacionalização global", tese defendida por Toni Negri e Hardt no seu polémico livro em que negam o imperialismo tal como o definiu Lenine. Entre os EUA e a União Europeia (e os países emergentes da Ásia e da América Latina) existe um abismo histórico que não foi nem pode ser eliminado em tempo previsível.
A crescente internacionalização da gestão não desemboca automaticamente na globalização da propriedade. O Estado transnacional, a que aspiram uma ONU instrumentalizada, o FMI, o Banco Mundial e a OMC é ainda uma aspiração distante do sistema de poder.
O caos em que o mundo está a cair ilumina o desespero do capital perante a crise pela qual é responsável.
A ascensão galopante da direita neoliberal ao governo em países da União Europeia ressuscita o fantasma do fascismo na República de Weimar. A História não se repete porem da mesma maneira e é improvável que a extrema-direita se instale no Poder no Velho Mundo. Mas a irracionalidade do assalto à razão é uma realidade.
O jogo do dinheiro nas bolsas é hoje muito mais importante na acumulação de gigantescas fortunas do que a produção. O papel dos "mercados" – eufemismo que designa o funcionamento da engrenagem da especulação nas manobras do capital – tornou-se decisivo no desencadeamento de crises que levam à falência países da União Europeia. Uma simples decisão do gestor de "uma agência de notação" pode desencadear o pânico em vastas áreas do mundo.
O surto de violência em bairros degradados de Londres, Birmingham, Manchester e Liverpool alarma a Inglaterra de Cameron e motiva nas televisões e jornais ditos de referência torrentes de interpretações disparatadas de sociólogos e psicanalistas que falam como porta-vozes da classe dominante.
Em Washington, congressistas influentes manifestam o temor de que, o "fenómeno britânico" alastre aos EUA e, nos guetos das suas grandes cidades, jovens latinos e negros imitem os da Grã-Bretanha, estimulados por mensagens e apelos no Twitter e no Facebook.
Mas enquanto a pobreza e a miséria alastram, mesmo nos países mais ricos, a crise não afecta os banqueiros e os gestores das grandes empresas. Segundo a revista Fortune, as fortunas de 357 multimilionários ultrapassam o PIB de vários países europeus desenvolvidos.
Nos EUA, na Alemanha, na França, na Itália os detentores do poder proclamam que a democracia política atingiu um patamar superior nas sociedades desenvolvidas do Ocidente. Mentem. A censura à moda antiga não existe. Mas foi substituída por um tipo de manipulação das consciências eficaz e perverso. Os factos e as notícias são seleccionados, apresentados, valorizados ou desvalorizados, mutilados e distorcidos, de acordo com as conveniências do grande capital. O objectivo é impedir os cidadãos de compreender os acontecimentos de que são testemunhas e o seu significado.
Os jornais e as cadeias de televisão nos EUA, na Europa, no Japão, na América Latina dedicam cada vez mais espaço ao "entretenimento" e menos a grandes problemas e lutas sociais e ao entendimento do movimento da História profunda.
Os temas impostos pelos editores e programadores – agentes mais ou menos conscientes do capital – são concursos alienantes, a violência em múltiplas frentes, a droga, o crime, o sexo, a subliteratura, o quotidiano do jet set, a vida amorosa de príncipes e estrelas, a apologia do sucesso material, as férias em lugares paradisíacos, etc.
Evitar que os cidadãos, formatados pela engrenagem do poder, pensem, é uma tarefa permanente dos media.
As crónicas de cinema, de televisão, a música, a crítica literária reflectem bem a atmosfera apodrecida do tipo de sociedade definida como civilizada e democrática por aqueles que, colocados na cúpula do sistema de poder, se propõem como aspiração suprema a multiplicar o capital.
Em Portugal surgiu como inovação grotesca um clube de pensadores; e os debates na televisão e as mesas redondas e entrevistas com dóceis comentadores, mascarados de "analistas", são insuportáveis pela ignorância, hipocrisia e mediocridade da quase totalidade desses serventuários do capital. Contra-revolucionários como Mário Soares, António Barreto, Medina Carreira, Júdice; formadores de opinião como Marcelo Rebelo de Sousa, um intoxicador de mentes influenciáveis que explica o presente e prevê o futuro como se fora o oráculo de Delfos; jornalistas his master's voice, como Nuno Rogeiro e Teresa de Sousa; colunistas arrogantes que odeiam o povo português e a humanidade, como Vasco Pulido Valente, pontificam nos media imitando bruxos medievais, servindo o sistema em exercícios de verborreia que ofendem a inteligência.
O Primeiro-ministro e o seu lugar-tenente Portas, exibindo posturas napoleónicas, pedem "sacrifícios" e compreensão aos trabalhadores enquanto, submissos, aplicam o projecto do grande capital e cumprem exigências do imperialismo.
Desde o inicio do primeiro governo Sócrates, o que restava da herança revolucionária de Abril foi mais golpeado e destruído do que no quarto de século anterior.
Ao Portugal em crise exige-se o pagamento de uma factura enorme da crise maior em que se afunda o capitalismo.
Nos EUA, pólo hegemónico do sistema, o discurso do Presidente Obama, despojado das lantejoulas dos primeiros meses de governo, aparece agora como o de um político disposto a todas as concessões para permanecer na Casa Branca. A sua última capitulação perante o Congresso estilhaçou o que sobrava da máscara de humanista reformador. Para que o Partido Republicano permitisse aumentar de dois biliões de dólares o tecto de uma dívida pública astronómica – já superior ao Produto Interno Bruto do país – aceitou manter intocáveis os privilégios indecorosos usufruídos por uma classe dominante que paga impostos ridículos e golpear duramente um serviço de saúde que já era um dos piores do mundo capitalista. A contrapartida da debilidade interior é uma agressividade crescente no exterior.
Centenas de instalações militares estado-unidenses foram semeadas pela Ásia, Europa, América Latina e África.
Mas "a cruzada contra o terrorismo" não produziu os resultados esperados. As agressões americanas aos povos do Iraque e do Afeganistão promoveram o terrorismo em escala mundial em vez de o erradicar. Crimes monstruosos foram cometidos pela soldadesca americana no Iraque e no Afeganistão. O Congresso legalizou a tortura de prisioneiros. A "pacificação do Iraque", onde a resistência do povo à ocupação é uma realidade não passa de um slogan de propaganda. No Afeganistão, apesar da presença de 140 mil soldados dos EUA e da NATO, a guerra está perdida.
Os bombardeamentos de aldeias do noroeste do Paquistão por aviões sem piloto, comandados dos EUA por computadores, semeiam a morte e a destruição, provocando a indignação do povo daquele país.
O bombardeamento da Somália (onde a fome mata diariamente milhares de pessoas) por aviões da USAF, e de tribos do Iémen que lutam contra o despotismo medieval do presidente Saleh tornou-se rotineiro. Como sempre, Washington acusa as vítimas de ligações à Al Qaeda.
Na África, a instalação do AFRICOM, um exército americano permanente, e a agressão da NATO ao povo da Líbia confirmam a mundialização de uma a estratégia imperial.
O terrorismo de Estado emerge como componente fundamental da estratégia de poder dos EUA.
Obviamente, Washington e os seus aliados da União Europeia tentam transformar o crime em virtude. Os patriotas que no Iraque, no Afeganistão, na Líbia resistem às agressões imperiais são qualificados de terroristas; os governos fantoches de Bagdad e Cabul estariam a encaminhar os povos iraquiano e afegão para a democracia e o progresso; o Irão, vítima de sanções, é ameaçado de destruição; o aliado neofascista israelense apresentado como uma democracia moderna.
A perversa falsificação da Historia é hoje um instrumento imprescindível ao funcionamento de uma estratégia de poder monstruosa que, essa sim, ameaça a Humanidade e a própria continuidade da vida na Terra.
O imperialismo acumula porém derrotas e os sintomas do agravamento da crise estrutural do capitalismo são inocultáveis.
O capitalismo, pela sua própria essência, não é humanizável. Terá de ser destruído. A única alternativa que desponta no horizonte é o socialismo. O desfecho pode tardar. Mas a resistência dos povos à engrenagem do capital que os oprime cresce na Ásia, na Europa, na América Latina, na África. Eles são o sujeito da História e a vitória final será sua.
Vila Nova de Gaia, 15/Agosto/2011
In Jornal Avante e resistir.info
terça-feira, 23 de agosto de 2011
Notas do meu rodapé: Ditadores bons e ditadores maus...
Anders Fogh Rasmussen: a declaração piedosa de um falcão |
A NATO anunciou esta madrugada que o fim do regime de Khadafi está perto do fim. A Aliança Atlântica, que bombardeia as forças do ditador líbio há seis meses, apela aos rebeldes para manterem a unidade do país e a trabalharem a favor da reconciliação nacional.
PÚBLICO
***
Nas revoluções da Tunísia e do Egipto, apenas foi usado o Facebook e o telemóvel para derrubar as duas ditaduras. Curiosamente, na Líbia, as armas apareceram nas mãos dos rebeldes por geração espontânea. Em relação à Tunísia e ao Egipto, os países ocidentais, apanhadas de surpresa, nunca declararam, enquanto as revoluções seguiam o seu curso, um apoio inequívoco às forças da mudança, e foram sempre muito ambíguas na condenação dos dois ditadores. Na Líbia, e recorrendo ao falso pretexto da ajuda humanitária, os países ocidentais, através do seu braço armado, a NATO, optaram por uma abusiva política de ingerência, iniciando uma guerra contra a Líbia, através de sucessivos bombardeamentos aéreos, que também atingiram a população civil, e lançando para o terreno um verdadeiro exército de mercenários, que as televisões não mostraram.
Ficou assim claro que, para os países ocidentais, existem duas espécies de ditadores: os ditadores bons e os ditadores maus. Kadafi é, para os países ocidentais um ditador mau. Porquê? Por duas simples razões. A primeira, é que Kadafi não é um ditador domestificável. Preferiu escolher os seus aliados entre os países que nunca se submeteram aos interesses dos EUA e da União Europeia. Já o presidente Reagan, há uns atrás, tentara assassiná-lo, através do bombardeamento aéreo de uma das suas residências, em Tripoli, acção criminosa que contou com a cumplicidade de Portugal, ao autorizar a passagem dos aviões americanos pelo seu espaço aéreo. A segunda razão, esta talvez decisiva na determinação de abater Kadafi, tem a ver com a opção tomada por este dirigente em decretar o alinhamento o valor da moeda do seu país pelo padrão ouro, libertando assim a Líbia da ditadura do dólar, opção que os EUA não toleram. Sadam Hussein também morreu, não por ser um ditador, mas porque se atreveu a desafiar os EUA, ao decidir aceitar outras moedas, além do dólar, para o pagamento da venda de petróleo do Iraque.
Não são razões de ordem ideológica que levam os países ocidentais a apoiar ou a condenar os ditadores. As verdadeiras razões prendem-se apenas com a necessidade de assegurar a sobrevivência do capitalismo internacional, através do controlo estratégico das zonas consideradas vitais pelo imperialismo americano. A ideologia vai à frente ou atrás, conforme as conveniências.
sábado, 20 de agosto de 2011
Alberto João Jardim: Madeira precisa "urgentemente de liquidez"
O líder do PSD-Madeira, Alberto João Jardim, disse na sexta-feira à noite que a Região Autónoma da Madeira necessita "urgentemente" de liquidez, acreditando ser possível um acordo com o Governo para solucionar a questão financeira.
“A Madeira tem muito património, graças a Deus, o património que a Madeira tem é mais do que suficiente para cobrir muitas vezes a sua dívida, o problema é liquidez e nós precisamos, urgentemente, dessa liquidez para poder pagar os fornecedores em atraso, para poder terminar as obras que estão em curso”, afirmou Alberto João Jardim.
Jornal de Negócios
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Chegou o momento de Alberto João Jardim pedir a independência total da Madeira. Ele que vá pedir dinheiro aos cubanos de outro continente.
Agradecimento
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
Tubarões avistados no Algarve são boa notícia para a costa portuguesa
O avistamento de dois tubarões no Algarve é boa notícia porque significa que a costa portuguesa está rica em peixe, disse hoje ao PÚBLICO Élio Vicente, biólogo do Zoomarine do Algarve, reagindo à notícia do avistamento de dois animais numa praia em Vila do Bispo, que fez com que os banhistas fugissem da água.
PÚBLICO
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Os tubarões vieram ao cheiro das privatizações. Eles vão voltar para o festim que se avizinha. Almas piedosas dizem sempre que eles vêm por bem.
Krugman: Portugal dificilmente escapa a uma reestruturação da dívida
Paul Krugman e Vítor Constâncio |
O Nobel da Economia, Paul Krugman, disse hoje, em entrevista à Bloomberg a partir de Estocolmo, que os problemas europeus se dividem em dois níveis e que Grécia, Portugal e Irlanda pertencem ao grupo dos países que "provavelmente estão insolventes" e serão palco de uma reestruturação de dívida. No segundo grupo estão Espanha e Itália que têm algum risco de ter de sair do euro mas apenas se o pânico crescer, enquanto os líderes europeus tentam encontrar forma de conter a crise da dívida soberana na região, explica Krugman.
"Há países que provavelmente podem sobreviver à crise, mesmo que vivam tempos muito difíceis, desde que não haja pânico; refiro-me a Espanha e a Itália. E depois há aqueles que estão, provavelmente, insolventes e onde terá de haver uma reestruturação da dívida - casos de Grécia, Portugal, Irlanda."
O colunista do "The New York Times" advertiu ainda que o BCE precisa de uma política monetária "muito mais expansionista" já que o risco de uma recessão global é já "superior a um em três".
Os líderes europeus têm-se visto e desejado para encontrar uma solução para a crise da dívida. Esta semana, a cimeira franco-alemã deitou mais uma acha para a fogueira, com Angela Merkel, e Nicolas Sarkozy a negar a Bruxelas a expansão do fundo de resgate 440 mil milhões de euros e a querer impor regras mais duras aos países do euro. Paul Krugman defende que os líderes precisam de deixar claro que haverá financiamento disponível para evitar que a crise afecte para além de qualquer remédio Itália e Espanha.
Dinheiro Vivo - Tiago Lourenço
***
Há dias, avancei com uma imagem que evidencia o desnorte dos dirigentes da UE, perante a situação financeira de Portugal e da Grécia. Enquanto lançam a bóia de salvação aos dois náufragos, por outro lado, mergulham-lhes a cabeça dentro de água, para os afogarem. Impor brutais medidas de austeridade às populações destes países e pretender que as suas economias venham a crescer, depois de corrigidos os défices orçamentais, é o mesmo que fechar a torneira da água e ficar à espera que a banheira encha. Não se pode curar um doente, prescrevendo-lhe medicamentos que agravam os seus sintomas. As medidas de austeridade não estão a corrigir nada. Estão apenas a desmantelar o Estado e a destruir a economia. Na Grécia, em muitas cidades do interior, o Estado já não funciona na plenitude dos seus poderes. Tal como tenho vindo a dizer há muito tempo - o que era então considerado uma heresia - Portugal, para sair a médio prazo desta grave crise, necessita de, pacificamente, reestruturar a sua dívida externa e sair do euro. O euro é um moeda sobrevalorizada, que nunca serviu os interesses da economia portuguesa, já que ele foi desenhado para responder às necessidades da Alemanha e dos outros países da zona euro, que apresentam significativos saldos positivos nas suas balanças comerciais e de pagamentos. O resto é conversa fiada para enganar o pagode.
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Nouriel Roubini: “Karl Marx estava certo”
O professor de Economia que há quatro anos previu a crise financeira global diz que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está a provar-se verdadeira na actual crise financeira global. Por Joseph Lazzaro
Cortar os gastos do governo prematuramente feriu a economia dos EUA em 1937, ao reduzir a procura, e Roubini vê o mesmo padrão ocorrendo hoje. Foto +ecumenix/Flickr
Na avaliação de Nouriel Roubini, professor de economia na Universidade de Nova York, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistémico identificado primeiramente por Karl Marx há mais de um século.
Há um velho axioma que diz que “sábia é a pessoa que aprecia a sinceridade quase tanto como as boas notícias”, e com ele como guia, situa decididamente o futuro na categoria da sinceridade.
O professor de economia da Universidade de Nova York, Nouriel “Dr. Catástrofe” Roubini disse que, a não ser que haja outra etapa de massivo incentivo fiscal ou uma reestruturação da dívida universal, o capitalismo continuará a experimentar uma crise, dado o seu defeito sistémico identificado primeiramente pelo economista Karl Marx há mais de um século.
Roubini, que há quatro anos previu acuradamente a crise financeira global disse que uma das críticas ao capitalismo feitas por Marx está se provando verdadeira na atual crise financeira global.
A crítica de Marx em vigor, agora
Dentre outras teorias, Marx argumentou que o capitalismo tinha uma contradição interna que, ciclicamente, levaria a crises e isso, no mínimo, faria pressão sobre o sistema económico. As corporações, disse Roubini, motivam-se pelos custos mínimos, para economizar e fazer caixa, mas isso implica menos dinheiro nas mãos dos empregados, o que significa que eles terão menos dinheiro para gastar, o que repercute na diminuição da receita das companhias.
Dentre outras teorias, Marx argumentou que o capitalismo tinha uma contradição interna que, ciclicamente, levaria a crises e isso, no mínimo, faria pressão sobre o sistema económico. As corporações, disse Roubini, motivam-se pelos custos mínimos, para economizar e fazer caixa, mas isso implica menos dinheiro nas mãos dos empregados, o que significa que eles terão menos dinheiro para gastar, o que repercute na diminuição da receita das companhias.
Agora, na actual crise financeira, os consumidores, além de terem menos dinheiro para gastar devido ao que foi dito acima, também estão motivados a diminuírem os custos, a economizarem e a fazerem caixa, ampliando o efeito de menos dinheiro em circulação, que assim não retornam às companhias.
“Karl Marx tinha clareza disso”, disse Roubini numa entrevista ao The Wall Street Journal: "Em certa altura o capitalismo pode destruir a si mesmo. Isso porque não se pode perseverar desviando a renda do trabalho para o capital sem haver um excesso de capacidade [de trabalho] e uma falta de procura agregada. Nós pensamos que o mercado funciona. Ele não está funcionando. O que é racional individualmente ... é um processo autodestrutivo”.
Roubini acrescentou que uma ausência forte, orgânica, de crescimento do PIB – coisa que pode aumentar salários e o gasto dos consumidores – requer um estímulo fiscal amplo, concordando com outro economista de primeira linha, o prêmio Nobel de economia Paul Krugman, em que, no caso dos Estados Unidos, o estímulo fiscal de 786 bilhões de dólares aprovado pelo Congresso em 2009 era pequeno demais para criar uma procura agregada necessária para alavancar a recuperação da economia ao nível de uma auto expansão sustentável.
Na falta de um estímulo fiscal adicional, ou sem esperar um forte crescimento do PIB, a única solução é uma reestruturação universal da dívida dos bancos, das famílias (essencialmente das economias familiares), e dos governos, disse Roubini. No entanto, não ocorreu tal reestruturação, comentou.
Sem estímulo fiscal adicional, essa falta de reestruturação levou a “economias domésticas zombies, bancos zombies e governos zombies”, disse ele.
Fora o estímulo fiscal ou a reestruturação da dívida, não há boas escolhas
Os Estados Unidos, disse Roubini, pode, em tese: a) crescer ele mesmo por fora do actual problema (mas a economia está crescendo devagar demais, daí a necessidade de mais estímulo fiscal); ou b) retrair-se economicamente, a despeito do mundo (mas se muitas companhias e cidadãos o fizerem junto, o problema identificado por Marx é ampliado); ou c) inflacionar-se (mas isso gera um extenso dano colateral, disse ele).
No entanto, Roubini disse que não pensa que os EUA ou o mundo estão actualmente num ponto em que o capitalismo esteja em autodestruição. “Ainda não chegamos lá”, disse Roubini, mas ele acrescentou que a tendência actual, caso continue, “corre o risco de repetir a segunda etapa da Grande Depressão”—o erro de ‘1937’.
Em 1937, o presidente Franklin D. Roosevelt, apesar do fato de os primeiros quatro anos de massivo incentivo fiscal do New Deal ter reduzido o desemprego nos EUA, de um cambaleante 20,6% na administração Hoover no começo da Grande Depressão, a 9,1%, foi pressionado pelos republicanos congressistas – como o actual presidente Barack Obama fez com o Tea Party, que pautou a bancada republicana no congresso em 2011 – , rendeu-se aos conservadores e cortou gastos do governo em 1937. O resultado? O desemprego estadunidense começou o ano de 1938 subindo de novo, e bateu a casa dos 12,5%.
Cortar os gastos do governo prematuramente feriu a economia dos EUA em 1937, ao reduzir a procura, e Roubini vê o mesmo padrão ocorrendo hoje, ao se seguir as medidas de austeridade implementadas pelo acordo da dívida implementadas pela nova lei.
Roubini também argumenta que os levantes sociais no Egipto e em outros países árabes, na Grécia e agora no Reino Unido têm origem económica (principalmente no desemprego, mas também, no caso do Egipto, no aumento do custo de vida). Em seguida, argumenta que, ao passo que não se deve esperar um colapso iminente do capitalismo, ou mesmo um colapso da sua versão estadunidenseexperimentando uma crise não é correcto.
ESQUERDA.NET
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Por preconceito ideológico, Karl Marx foi banido dos currículos da maioria das faculdades de Economia, ou, o que também é grave, o seu pensamento foi deliberadamente distorcido. Por influência do grande capital financeiro, a corrente doutrinária do neoliberalismo foi elevada ao estatuto de pensamento único e totalitário. É por isso que muitos economistas, que escrevem nos jornais e aparecem a comentar nas televisões, não conseguem libertar-se das baias que lhe puseram nos olhos, debitando apenas o discurso da cartilha por onde aprenderam.
terça-feira, 16 de agosto de 2011
"Parem de acarinhar os super-ricos", pede o milionário Warren Buffett
O norte-americano escreve no "New York Times" um artigo em que indica que é altura de subirem as taxas de impostos sobre os milionários. "Enquanto a maior parte dos americanos luta para fazer face às despesas, nós os mega-ricos continuamos a ter isenções fiscais extraordinárias"
“Os nossos líderes têm pedido ‘sacrifícios partilhados’. Mas quando fazem o pedido, têm misericórdia de mim. Verifiquei com os meus amigos mega-ricos para saber que sacrifícios estavam à espera. Tal como eu, também eles ficaram intactos”.
É assim que Warren Buffett começa um artigo no “New York Times” intitulado “Parem de acarinhar os super-ricos”. No artigo, o conhecido milionário analisa as distintas formas de tratamento fiscal a quem consegue o dinheiro através do capital e a quem consegue através do trabalho.
“Enquanto as classes baixas e médias lutam por nós no Afeganistão, e enquanto a maior parte dos americanos luta para fazer face às despesas, nós os mega-ricos continuamos a ter isenções fiscais extraordinárias”, continua o presidente da Berkshire Hathaway.
No artigo no jornal norte-americano, Buffett escreve vários exemplos de taxas de imposto brandas sobre os que ganham milhões só num dia. “É bom ter amigos em lugares altos”, ironiza o norte-americano.
E dá o seu próprio exemplo. “No último ano, a minha conta fiscal – o imposto sobre rendimento que paguei, tal como os impostos sobre salários pagos por mim e por aqueles sobre o meu cuidado – era de 6.938.744 dólares. Parece muito dinheiro. Mas foi apenas 17,4% dos meus rendimentos tributáveis”, confessa. Além disso, salienta que representa uma diferença face às 20 pessoas que trabalham consigo. “As suas taxas de impostos iam de 33% a 41%”.
“Se fazem dinheiro com dinheiro, como muitos dos meus amigos super-ricos, a vossa percentagem pode ser ainda mais baixa do que a minha. Mas se fazem dinheiro através do emprego, a vossa taxa vai certamente superar a minha – muito provavelmente por muito”, avisa o milionário.
É assim que Warren Buffett começa um artigo no “New York Times” intitulado “Parem de acarinhar os super-ricos”. No artigo, o conhecido milionário analisa as distintas formas de tratamento fiscal a quem consegue o dinheiro através do capital e a quem consegue através do trabalho.
“Enquanto as classes baixas e médias lutam por nós no Afeganistão, e enquanto a maior parte dos americanos luta para fazer face às despesas, nós os mega-ricos continuamos a ter isenções fiscais extraordinárias”, continua o presidente da Berkshire Hathaway.
No artigo no jornal norte-americano, Buffett escreve vários exemplos de taxas de imposto brandas sobre os que ganham milhões só num dia. “É bom ter amigos em lugares altos”, ironiza o norte-americano.
E dá o seu próprio exemplo. “No último ano, a minha conta fiscal – o imposto sobre rendimento que paguei, tal como os impostos sobre salários pagos por mim e por aqueles sobre o meu cuidado – era de 6.938.744 dólares. Parece muito dinheiro. Mas foi apenas 17,4% dos meus rendimentos tributáveis”, confessa. Além disso, salienta que representa uma diferença face às 20 pessoas que trabalham consigo. “As suas taxas de impostos iam de 33% a 41%”.
“Se fazem dinheiro com dinheiro, como muitos dos meus amigos super-ricos, a vossa percentagem pode ser ainda mais baixa do que a minha. Mas se fazem dinheiro através do emprego, a vossa taxa vai certamente superar a minha – muito provavelmente por muito”, avisa o milionário.
"Eu e os meus amigos temos sido acarinhados durante muito tempo"
Buffett insurge-se contra a teoria que indica que elevados impostos afastam os investidores. “As pessoas investem para ganhar dinheiro, e os possíveis impostos não os assustam”. “E para aqueles que defendem que as taxas mais altas impedem a criação de empregos, eu digo apenas que foram criados 40 milhões de postos entre 1980 e 2000. Sabem o que tem acontecido desde aí: impostos muito mais baixos e muito menor criação de emprego”, acrescenta num artigo bastante crítico à política fiscal de Washington.
Por essa razão, um dos homens mais ricos do mundo conhecido também por participar em várias acções de caridade, salienta que é altura de subir impostos aos milionários, ou seja, a quem tem um rendimento tributável acima de um milhão de dólares, incluindo “é claro”, dividendos e mais-valias.
E conclui: “Eu e os meus amigos temos sido acarinhados durante muito tempo pelos amigos dos milionários no Congresso. Já é tempo de o nosso Governo assumir seriedade no que diz respeito à partilha de sacrifícios”.
Diário de Notícias
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Foi este milionário, Warren Buffett, que há tempos, num acervo crítico semelhante, classificou a actual crise económica e financeira, como uma guerra planetária entre os ricos e os pobres, guerra essa que os ricos estavam a ganhar. Agora denuncia a escandalosa permissividade fiscal em relação aos detentores do capital.
Em Portugal, assim como na grande maioria dos países, onde o neo-liberalismo triunfou, por um efeito mimético, reproduz-se esta escandalosa situação. A tributação fiscal do capital é tratada pelo Estado com uma cúmplice benevolência. E esta situação é muito evidente na tributação extraordinária, incluída nas medidas de austeridade. O governo do PSD/CDS está a pedir todos os sacrifícios apenas aos trabalhadores, aos reformados e aos desempregados, excluindo os fabulosos rendimentos do capital . E como salienta Warren Buffett, não colhe aquele estafado argumento da fuga dos capitais. Mesmo beneficiando de um tratamento benevolente, o capital formado pelos dividendos e pelos lucros dos bancos e das grandes empresas sai do país para ir procurar maiores rendibilidades nos off shore e nos grandes bancos de investimento internacionais, ao abrigo da sagrada lei, que consagra a trilogia da da livre circulação de capitais, de mercadorias e de pessoas (as pessoas aparecem aqui para enfeitar o ramalhete).
Trata-se de um esbulho dissimulado, que passa ao lado da percepção para a grande maioria da população.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Portugal e Grécia devem sair do euro, defende George Soros
Sair da moeda única e deixar a União Europeia (UE). Para o histórico investidor húngaro-americano George Soros, a crise da dívida em que está mergulhada a zona euro não deixa margem às economias portuguesa e grega que não seja abandonar o projecto europeu.
PÚBLICO
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Desde há muito tempo que venho advogando esta hipótese. Portugal deverá sair pacificamente da moeda única, à qual nunca deveria ter aderido. Recorde-se que foi precisamente desde a adesão ao euro que o défice orçamental e o valor da dívida começaram a subir. A crise, iniciada em 2008, apenas veio agravar a tendência que já se manifestava desde 2001. Só com a adopção de uma moeda nacional, Portugal poderá ganhar a competitividade, que não conseguiu obter através do aumento da taxa de produtividade, o verdadeiro calcanhar de Aquiles da economia portuguesa. É evidente que o recurso à desvalorização não resolvia os problemas, mas, numa primeira fase, iria promover um aumento rápido da exportações e uma diminuição das importações, aumentando assim a o saldo da balança comercial. Com menos produtos importados, novas actividades económicas surgiriam, para produzir produtos de substituição, o que iria aumentar o emprego e manter o consumo interno. Foi o que fez a Grã-Bretanha. Desvalorizou a libra no final do ano passado, e, no primeiro trimestre deste ano, a sua economia regressou ao crescimento.
É certo que, no conjunto, o país irá empobrecer. Mas o empobrecimento não seria maior do que aquele a que nos está a conduzir a actual política imposta pela UE e pelo FMI. As políticas de austeridade são meras aspirinas para curar a pneumonia. A saída do euro seria um potente antibiótico.
Mas para que esta política tivesse o sucesso desejado, também seria necessário fazer as reformas estruturais que se impõem, concebidas e conduzidas por um governo honesto, que trabalhasse para o bem comum.
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
Itália prepara imposto de 20 por cento sobre ganhos financeiros
Giulio Tremonti., ministro da Economia e Finanças de Itália |
O Governo italiano planeia aumentar os impostos sobre os ganhos financeiros até vinte por cento, disse hoje o ministro da Economia e Finanças, Giulio Tremonti.
“Excepto os títulos do Estado, todos os títulos financeiros seriam taxados entre 12,5 a 20 por cento”, precisou o ministro durante uma audição no Parlamento italiano.
Esta é uma das medidas previstas no novo plano de austeridade a ser aplicado em Itália, que Tremonti disse que vai incluir “medidas muito fortes” para os próximos dois anos, que pretende arrecadar entre 20 a 30 mil milhões de euros, citada pelas agências.
Esta é uma das medidas previstas no novo plano de austeridade a ser aplicado em Itália, que Tremonti disse que vai incluir “medidas muito fortes” para os próximos dois anos, que pretende arrecadar entre 20 a 30 mil milhões de euros, citada pelas agências.
PÚBLICO
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Aqui está uma medida que a troika e o governo PSD/CDS não assumiram nos seus planos de austeridade. Ao contrário do que vai acontecer em Itália, em Portugal, os rendimentos do capital ficaram a salvo de qualquer tributação suplementar. E isto, apesar dos escandalosos privilégios concedidos anteriormente a estes rendimentos, em sede fiscal.
O peso da austeridade recaiu em cheio sobre os trabalhadores, os pensionistas e os desempregados, que também vão ser os mais castigados com as fortes restrições orçamentais ao nível do Serviço Nacional de Saúde, que está a ser paulatinamente destruído, e do ensino.
Este governo, que não está ao serviço do bem comum, pois limita-se servilmente a ser a correia de transmissão do imperialismo financeiro e dos grandes capitalistas indígenas, não está apenas a castigar a actual geração de portugueses. Está a comprometer seriamente as gerações futuras, que irão receber uma indesejável herança.
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
Portugueses não conseguem poupar e põem travão no consumo
As expectativas dos portugueses são cada vez mais pessimistas. Nos próximos meses, 64 por cento admite que não vai conseguir poupar dinheiro e 81 por cento vai comprar o indispensável e não planeia aumentar as despesas.
Os dados constam do Observador Cetelem, feito a partir de um inquérito realizado a 600 pessoas, e foram analisados em colaboração com a Nielsen. “Estas conclusões mostram claramente que a prudência será o comportamento adoptado pelos consumidores portugueses durante o período de recessão”, refere o estudo.
Da amostra, apenas 32 por cento acredita que vai conseguir aumentar as poupanças. E a percentagem sobe nos inquiridos entre os 25 e os 34 anos (43 por cento). A faixa etária dos 55-65 anos é a mais pessimista: 69 por cento garante que não vai conseguir poupar.
Os dados constam do Observador Cetelem, feito a partir de um inquérito realizado a 600 pessoas, e foram analisados em colaboração com a Nielsen. “Estas conclusões mostram claramente que a prudência será o comportamento adoptado pelos consumidores portugueses durante o período de recessão”, refere o estudo.
Da amostra, apenas 32 por cento acredita que vai conseguir aumentar as poupanças. E a percentagem sobe nos inquiridos entre os 25 e os 34 anos (43 por cento). A faixa etária dos 55-65 anos é a mais pessimista: 69 por cento garante que não vai conseguir poupar.
PÚBLICO
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Os 32 por cento dos portugueses que, no inquérito, responderam acreditar que iriam aumentar as suas poupanças, são precisamente aqueles que votaram convictamente no PSD ou no CDS, e que estão de acordo com o memorando da troika. Nesta conjuntura, só pode poupar quem aufere rendimentos elevados. E é daquele grupo que vêm os piedosos apelos de que é necessário fazer sacrifícios. Os outros, claro.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
A grande armadilha da dívida
Trecho - Documentário "Let's make money" - Ex-assassino econômico John Perkins
Amabilidade do João Fráguas
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Embora já publicada neste espaço, nunca será demais, nos tempos de hoje, voltar a publicar este testemunho desassombrado de John Perkins. Através dele, percebe-se a grande maquinação, organizada pelo imperialismo americano e pelo grande capital financeiro internacional, para, utilizando a dívida, subjugar os países e os povos. Em Portugal, o assassino económico já chegou, a famigerada troika, não tendo sido necessário enviar os chacais.
As minhas notas: As revoluções dos jovens deserdados
Ralf Dahrendorf, um brilhante sociólogo alemão, mas que fez a maior parte da sua carreira académica em Inglaterra, chegando a ser director da prestigiada London School of Economics, previu, no início deste século, que as revoltas sociais não iriam ter o figurino da era industrial e da era pós-industrial, nem a classe média seria a protagonista principal. As revoltas iriam ser feitas, de forma caótica e sem uma organização política centralizada, pela juventude deserdada, que o sistema neoliberal deixou sem horizontes, principalmente aquela que se acumula nas cinturas das grandes metrópoles, e proveniente, na sua parte, das comunidades imigrantes. As revoltas em Paris, em 2007, e os recentes levantamentos populares na Tunísia e no Egipto confirmam a sua tese. O que se passou em Londres é a expressão consumada do profundo descontentamento que está a minar a ordem política, económica e social, que prevaleceu após a II Grande Guerra Mundial até aos nossos dias. Os sinais de degeneração dos países ocidentais, bem expressos no problema das dívidas soberanas, que são a parte mais visível do icebergue, vai colapsar inevitavelmente. O sistema imposto, na base do domínio do capital internacional, esgotou-se nas suas contradições. Percebe-se agora que o desenvolvimento se baseou na grande onda especulativa, que retirou investimentos à produção de bens serviços, e que ignorou o desenvolvimento de uma economia ao serviço do bem comum.
E, nestas coisas, nunca se sabe para que lado a História vai rodar, pois encontramos-nos no mesmo estado de ignorância, ao nível da previsão do futuro, em que se encontravam os europeus nas vésperas da Revolução Francesa, revolução que decisivamente impulsionou para melhor os destinos do Ocidente.
domingo, 7 de agosto de 2011
Notas do meu rodapé: O Euro não serve a economia portuguesa
"É inevitável Portugal sair do euro", diz antigo director do FMI
Desmond Lachman, antigo director-adjunto do Fundo Monetário Internacional (FMI), traça um cenário negro para a economia portuguesa já para os próximos meses.Em entrevista ao Expresso, este responsável diz que é inevitável Portugal sair do euro, acrescentando ainda que o país só tem uma solução para evitar os próximos dois anos de crise: "Saindo do euro", uma opção "inevitável".O director-adjunto do FMI entre 1994 e 1996 e actualmente professor na Universidade de Georgetown acrescenta que "Portugal não vai aguentar as políticas do FMI sem deixar o euro. Mas, se esse será o fim, porquê esperar dois anos que se avizinham de recessão profunda" Não percebo como é que o país conseguirá, simultaneamente, pagar a dívida e resistir a um programa de austeridade imposto pelo FMI, que resultará em contracção económica e em deflação, o que aumentará o problema da dívida pública".
Lachman considera ainda que o caso português é mais grave que o grego, devido à elevada dívida externa.
Lachman considera ainda que o caso português é mais grave que o grego, devido à elevada dívida externa.
Dinheiro Vivo-06/08/2011
Dinheiro Vivo-06/08/2011
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Não resisti à tentação de vir a terreiro, socorrendo-me de um computador alheio, já que o meu sistema informático se encontra avariado, para comentar esta notícia de hoje, sobre as declarações do antigo e insuspeito director do FMI, Desmond Lachman, a evidenciarem a necessidade urgente de Portugal sair do euro, posição esta que eu, neste espaço, tenho repetidamente defendido, a partir do PEC 4. As razões que invocava em defesa desta tese, e que se fundamentavam nas opiniões de vários economistas, entre os quais os nobilizados, Amartya Sen e Joseph Stiglitz, partiam do racional princípio de que o crescimento das exportações portuguesas, a um nível que a economia pudesse suportar o pagamento da dívida e o seu serviço (juros), só poderia ser alcançado com a sua reestruturação, com a dilatação do prazo para a correcção orçamental, e com o regresso a uma moeda nacional. A reestruturação da dívida já começa a ser aceite pela ortodoxia do BCE e da Alemanha, pelo menos para a Grécia. Em relação à dilatação do prazo para corrigir o défice orçamental, ninguém fala, embora, quando essa obtusa exigência foi anunciada, muitos economistas, não ligados ao sistema, se interrogassem sobre a sua razoabilidade e fundamento. Porque não em 2014 ou em 2015? Em relação à saída do euro, era considerada uma perfeita heresia colocar tal hipótese, lançando-se imediatamente o epíteto de ignorante a quem se atrevesse a propalar tal dislate. Foi o que me chamaram a mim. Mas a irracionalidade encontrava-se no campo contrário, naqueles que da economia têm apenas uma visão redutora do processo económico, fingindo esquecer-se de que a economia tem de ser orientada para o bem comum, e não só para as elites sociais e económicas, à quais convinha uma moeda forte para poderem continuar a comprar os bens importados, o que também afectaria o crescimento do PIB.
É completamente absurdo projectar crescimento económico, como também pretendeu o actual e inefável ministro das Finanças, para 20114. Não há dúvida que haverá um aumento ligeiro do PIB e das exportações, mas não num valor suficiente para liquidar as dívidas. Nesta equação, esquece-se a drástica diminuição do consumo, motivada pelo crescente desemprego e pela suicida política restritiva, apenas orientada para os rendimentos do trabalho, deixando de fora os rendimentos do capital, excepto os juros dos depósitos, porque muitos deles são constituídos pelas poupanças dos trabalhadores, daqueles que dispõem de uma maior folga salarial (os mais ricos não têm o dinheiro nos vulgares depósitos).
Hoje, já começa a ser muito claro para muitos portugueses que, paralelamente à democracia política, que a demagogia dos políticos transforma num carrocel de ilusões e mentiras, existe um verdadeira ditadura do capital, cuja única teologia que se lhe conhece obedece cegamente à divinização do mercado e à subalternização do Estado e das suas políticas sociais, e que o recurso à estratégia do endividamento das famílias e dos estados não passou de uma grande armadilha, que proporcionou inimagináveis e colossais proventos, (mesmo durante a crise), e acentuou, numa desproporção gigantesca, a hegemonia universal do capital. Um milionário, há dias, talvez por condenável distracção, afirmou que a crise não era mais de que uma luta fraticida entre ricos e pobres, e que ela estava a ser ganha pelos ricos. E tem toda a razão. No fundo, e a estratégia é igual nos dois lados do Atlântico. Assistiu-se e assiste-se a uma gigantesca transferência de rendimentos do trabalho para o capital. A pobreza, que vem aí, servirá para reforçar esse enriquecimento.
sábado, 6 de agosto de 2011
Informação
Uma nova avaria no meu sistema informático, sequela da avaria anterior, que foi mal resolvida, não vai permitir a edição regular do Alpendre da Lua. Do facto, peço desculpa aos leitores habituais. Espero que os trabalhos de manutenção a executar não sejam demorados.
Alexandre de Castro
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
Governo nomeou 51 especialistas em 42 dias
O Governo de Pedro Passos Coelho tinha, até ontem, contratado 51 especialistas para os seus gabinetes. Um número total que poderá estar incompleto, já que falta ainda colocar no portal do Governo as nomeações nos ministérios da Educação, Negócios Estrangeiros e Justiça. A admissão de especialistas foi dos aspectos mais criticados pelo Tribunal de Contas na primeira e única "Auditoria aos Gabinetes Governamentais".
No relatório de 2007, os governantes eram criticados por recorrerem, "de modo ilimitado e sem justificação ou fundamento expressos, à admissão de pessoal". A auditoria citava, "como exemplo, os especialistas", cuja nomeação se traduzia numa "forma de tornear o cumprimento das limitações impostas ao número de pessoal do quadro dos gabinetes governamentais". Além de alertar para o facto de não existir número-limite para a contratação e de avisar sobre a ausência de um tecto para o vencimento dos especialistas, o relatório denunciava também a "transformação de pessoal que deveria apenas ser recrutado para atendimento de necessidades temporárias em pessoal permanente".Num mês, o actual Governo ficou perto do número de especialistas contratados pelos antecessores. Nos primeiros quatro anos de José Sócrates em São Bento, entraram 74 especialistas. Nos dois anos de Durão Barroso tinham sido admitidos 70. Nos meses de Santana Lopes foram 48.
Mas não é só aí que o actual Governo revela semelhanças com práticas do passado. Parece não existir um critério na definição dos salários dos especialistas. Entre os 51 nomeados, os vencimentos brutos variam dos 2167 até aos 4615 euros.
E é na Estrutura de Acompanhamento dos Memorandos (ESAME) que está sob a alçada do secretário de Estado adjunto do primeiro-ministro, Carlos Moedas, que se encontra o especialista com a remuneração mais elevada. Que, assim, ganha mais do que o chefe de gabinete de Passos Coelho, que se fica pelos 4592 euros.
O Ministério da Economia está no centro do fenómeno. Os vencimentos dos nomeados por este sector governativo destacam-se do restante executivo. Álvaro Pereira contratou um especialista que ganha tanto quanto a maior parte dos chefes de gabinete dos ministros: 3892 euros. E o secretário de Estado da Energia, que está sob a tutela de Pereira, nomeou um especialista que aufere 4519 euros. A maioria dos especialistas não atinge estes valores, mas em média os seus vencimentos ficam acima dos três mil euros. Até ao momento, o ministro desta pasta, Álvaro Santos Pereira, é responsável pela nomeação de 40 por cento dos especialistas do Governo.
O assunto gerou ontem polémica na primeira audição parlamentar do ministro. Santos Pereira teve de justificar por que é que a sua chefe de gabinete ganhava mais (5821 euros) que o chefe de gabinete de Passos Coelho. "Porque é uma superchefe de gabinete", disse, antes de acrescentar que acumulava "várias funções e está a perder cerca de 50 mil euros de ordenado pelas funções que desempenha actualmente". Marta Maria Dias Quintas Neves era directora de Regulação da PT. De 2004 a 2005, foi adjunta do ministro da Economia, Álvaro Barreto.
O PÚBLICO questionou o gabinete do primeiro-ministro sobre a nomeação dos 51 especialistas e a propósito do vencimento da "superchefe de gabinete". Foi prometida resposta para hoje.
Mas o portal do Governo (www.portugal.gov.pt) foi acrescentando informação relativa às nomeações. Publicou um quadro com o estatuto remuneratório nos gabinetes ministeriais, incluindo as despesas de representação, para os chefes de gabinete, assessores, adjuntos e secretários. Os vencimentos dos especialistas não fazem parte do quadro.
PÚBLICO
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Este governo, que, em nome da ética, condenava o esbanjamento dos dinheiros públicos do governo anterior, já está a dar sinais que vai seguir pelo mesmo ínvio caminho. Para cúmulo, o ministro que declarou na Assembleia da República ter ficado estupefacto com o ambiente de ostentação que encontrou no(s) seu(s) ministério(s), e que reduziu drasticamente o número de motoristas, é precisamente o mesmo que, à sua conta, mais "especialistas" contratou, no cômputo geral do governo. Não contente com este luxuoso plantel de especialistas, ainda se permitiu contratar uma chefe de gabinete que ganha mensalmente cerca de seis mil euros.
Um governo, que exibe este tipo de comportamento, reproduzindo os tiques dos novos sobas africanos, perde toda a autoridade moral para disciplinar o aparelho de Estado, já totalmente minado por uma teia complexa de compadrios com interesses privados, além de se descredibilizar junto de uma opinião pública, que já desconfia de todos os políticos e de todos os governos.
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