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domingo, 31 de maio de 2009

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades...


Como será daqui a quarenta anos?

Enviado pela amiga P.Vicente

Um Poema ao Acaso (3) - Esplanada - Manuel António Pina

ESPLANADA

Naquele tempo falavas muito de perfeição,
da prosa dos versos irregulares
onde cantam os sentimentos irregulares.
Envelhecemos todos, tu, eu e a discussão,

Agora lês saramagos & coisas assim
e eu já não fico a ouvir-te como antigamente
olhando as tuas pernas que subiam lentamente
até um sítio escuro dentro de mim.

O café agora é um banco, tu professora do liceu;
Bob Dylan encheu-se de dinheiro, o Che morreu.
Agora as tuas pernas são coisas úteis, andantes,
e não caminhos por andar como dantes.

Manuel António Pina

Um mau serviço do Expresso



Por vezes somos surpreendidos por peças jornalísticas noticiosas, ou que obedecem a interesses clientelares, ou que têm por objectivo o aumento das vendas, explorando cirurgicamente o quadro emocional da opinião pública.
Não sei qual foi a motivação do Expresso ao noticiar espalhafatosamente um facto verídico, mas destituído de interesse relevante, para que fosse decidida a sua publicação, já que os actos de compra e venda de acções por um qualquer cidadão, e a obtenção das respectivas mais valias, não estão feridos de nenhuma ilegalidade, nem podem ser, sequer, considerados imorais. Cavaco Silva tem pois todo o direito de comprar e vender o que muito bem entender, desde que as operações se insiram num quadro de licitude. E a divulgação pública destes seus actos violentaram o direito da sua privacidade.

Com esta notícia, o que alegadamente se pretendeu, numa grosseira manobra subliminar, foi a tentativa de associar aa figura do Presidente da República ao escândalo do BPN, tentando levar o leitor a poder pensar se não haveria por ali algum comportamento irregular e ilegal por parte do titular do mais alto cargo do Estado.

Com este comportamento, a indiciar má fé, o Expresso prestou um mau serviço à imprensa portuguesa. E, curiosamente, a notícia surge no preciso momento em que Vital Moreira e alguns dirigentes do PS resolveram, num claro oportunismo mediático, inserir na campanha eleitoral o tema BPN, esquecendo-se já das exigências feitas no caso do Freeport, ao reprovarem o seu aproveitamento político, e remetendo para os tribunais o apuramento da verdade. Ao politizar o caso do BPN, nos termos em que o fez, lançando a suspeita generalizada sobre todos os dirigentes do PSD, Vital Moreira entrou em clamorosa contradição com o que escreveu no seu blogue em defesa da inocência de José Sócrates, e onde não se poupou a esforços em vergastar acintosamente todos aqueles que, na imprensa, escreviam fundamentadamente sobre o caso.

Seria interessante que o Expresso começasse a investigar também a origem dos recursos financeiros que estão a sustentar a faraónica campanha eleitoral do PS e tentasse descobrir as conexões de eventuais redes de cumplicidades nascidas em recentes negócios bancários, envolvendo instituições dependentes do Estado e uns certos figurões do mundo da alta finança, que se dedicam à gloriosa especulação bolsista.


Declaração de interesses: Fui e sou um anti-cavaquista militante.

Não chegaram para as encomendas!


Com este gadget, a maioria absoluta está garantida. Os bonecos esgotaram logo no primeiro dia da campanha eleitoral.
Fotografia enviada pela minha amiga A. Goulart

Há bancos para tudo! E este não vai à falência.


Não se aceitam cartões de crédito.

sábado, 30 de maio de 2009

Verdadeiros irmãos siameses

Nestas eleições, Paulo Rangel e Vital Moreira estão a fazer o seu tirocínio para secretário-geral dos seus respectivos partidos. Ambos ambicionam substituir, na chefia do governo, José Sócrates, já sem condições para fazer o seu espectáculo circense, principalmente o número da acrobacia e o dos palhaços, pois não consegue actuar sem aquele confortável cenário de maioria absoluta, que lhe garanta os aplausos, ao mesmo tempo que vem revelando um horror patológico pela dolorosa visão de poder vir a ser lançado na jaula dos leões, por causa do caso Freeport.
Manuela Ferreira Leite já esgotou o seu prazo de validade, e sente-se mais vocacionada para fazer o papel de Madre Teresa Calcutá. O seu esqueleto já não aguentaria o enorme peso do cargo de primeiro-ministro.

Votamos Freeport ou BPN?


Eis o grande dilema dos banqueiros e da Pátria!

Vital avisa que não se calará até Ferreira Leite falar


De acordo. Mas, Manuela Ferreira Leite também deve dizer o que pensa sobre o caso Freeport e das tergiversações de José Sócrates, nas suas declarações contraditórias e ínvias sobre o caso, onde é alegadamente suspeito.

2- Questionar os grandes empreendimentos (continuação)


Recuperar o emprego através de investimentos regionais e locais


Insistentemente, tem sido propalado que a construção do novo aeroporto e do TGV teria um impacto muito positivo na criação de postos de trabalho, directos e indirectos, o que é uma verdade elementar. No entanto, aqueles que sustentam esta afirmação, para defender a sua opção, omitem que a maioria dos postos de trabalho directos iriam ser preenchidos por uma nova vaga de emigrantes africanos, de custo mais baixo, estreitando, assim, a margem de manobra aos trabalhadores portugueses disponíveis.
Por outro lado, a grande incidência da incorporação de tecnologia estrangeira, principalmente no que diz respeito ao TGV, iria imediatamente beneficiar os países fornecedores, a França e a Alemanha, ficando Portugal a ter de ficar a aguardar pela ocorrência do efeito benéfico propiciado a estes países, ao nível do crescimento do seu PIB, e pelo deferido e consequente aumento da procura de produtos das indústrias exportadoras tradicionais de Portugal, por parte daqueles países, o que viria a beneficiar a sua balança comercial, através do aumento das exportações. Assim se compreende o aviso das instituições internacionais, quando os seus porta-vozes afirmam que a recuperação económica de Portugal vai ser mais lenta do que a das economias europeias mais importantes.
Para recuperar rapidamente o emprego e, por esta via, dinamizar a economia pela via do aumento do consumo interno, o aconselhável seria dispersar os investimentos públicos pelas várias regiões do país, numa proporcionalidade aproximada ao respectivo nível do desemprego, e vocacionados principalmente para a construção e reparação de escolas, de estradas e de outras infra-estruras públicas, de pequena e média envergadura.
Nesta opção, o endividamento do Estado seria menor, porque menores seriam os investimentos. A contrapartida positiva seria a recuperação rápida do emprego, o que deve constituir uma prioridade para qualquer governo.

sexta-feira, 29 de maio de 2009

Provedor da Justiça: um falhanço escandaloso



O calculismo político do PS, na sua afincada obsessão de abocanhar tudo o que é cargo público importante, e que, pela eventual acção desalinhada do seu titular, possa ser incómodo para os interesses do governo, conduziu a uma situação insustentável e gravosa para os interesses do cidadão.
A Provedoria da Justiça, embora não tenha poder de coacção efectivo, tem, todavia, um grande poder de influência, ajudando, através dos seus pareceres, a amplificar o eco das injustiças praticadas pelo Estado e a refrear as pulsões autoritaristas dos governos, que, por vezes, sobrepõem o interesse particular de alguns ao interesse geral de todos. Veja-se o vergonhoso caso da recente legislação, que vai permitir a libertação de solos da Reserva Agrícola Nacional para a construção de infra-estruturas industriais, e que reflecte claramente uma ausência total de escrúpulos, em relação à agressão e à violação de um conjunto de valores: alimentares, ambientais, paisagísticos e culturais.
Durante um ano, o país vai ficar sem a acção vigilante e protectora da Provedoria da Justiça, amputando-se, assim, mais um direito do cidadão, consignado na Constituição da República.

http://ultimahora.publico.clix.pt/noticia.aspx?id=1383833&idCanal=22



Lello repreende Maria de Belém


Já era conhecida a vocação miguelista e caceteira do deputado José Lello, e que, pelos vistos, está a ser bem aproveitada pela estrutura aparelhista do PS, que não perdoa nenhum desvio à verdade do "chefe", nem admite nenhuma voz discordante no seu seio. Lello assume-se como guardião da fortaleza sitiada e desautoriza todas a veleidades de quem não aceita o pensamento único. Foi assim com Manuel Alegre. Agora foi a vez de Maria Belém ser a vítima.
Toda a gente está a perceber que a intenção de colocar na agenda mediática da campanha eleitoral o escândalo do BPN, desta forma desabrida e primária, como o fez Vital Moreira, pretende desviar as atenções da opinião pública do caso Freeport, que, subitamente, caiu no esquecimento, para sossego de José Sócrates.
Alguém já disse que se o PSD fez a "roubalheira" no BPN, o governo do PS anda lá a injectar o dinheiro dos nossos impostos, num esbulho descarado e escandaloso, que se verifica também em relação ao BPP, para o qual, através de um malabarismo formal, está a ser engendrada uma solução que, como tudo o indica, irá indemnizar os clientes que, naquele banco, para satisfazer o ego e a carteira, entregaram o seu dinheiro para fins especulativos, e cujos prejuízos serão agora injustamente transferidos para os contribuintes.


Crónica: Uma guerra civil quase anunciada





Uma Guerra Civil quase anunciada


Primeiro dia do ano. Ruas desertas. Um ou outro passante, descontraído na preguiça de mais um feriado. Ia olhando para os cafés que me são habituais, de tanto os frequentar. Tudo fechado, que o negócio já acabara no dia anterior. Refugiei-me na Mexicana, que pouco frequento. Entrei, distraído, e logo ali senti sobre mim o peso de mil olhos, fixados num cachimbo que, apagado, levava pendurado na boca.

Ao fundo, havia uma mesa vaga e, enquanto me dirigia para a ocupar, verifiquei que ninguém estava a fumar, o que, para mim, já não constituía novidade, já que, ainda em casa, vira numa reportagem televisiva o respectivo gerente deste já histórico café de Lisboa a vangloriar-se com militante entusiasmo que ali estava a cumprir-se a nova lei antitabagista, embora se tivesse engasgado, perante a jornalista que o entrevistava, ao debitar a escusa à realização de quaisquer obras, a fim de reservar um espaço apropriado, para os clientes fumadores, refugiando-se no argumento dos elevados custos, argumento este de muito peso e que possivelmente não escapou à matreirice do zeloso legislador, que assim adivinhou, divertido, o efeito paralisante das respectivas exigências técnicas para essas obras.

Mal me sentei numa cadeira, confrontei-me com os olhares agrestes e suspensos de três velhas, que pararam a sua viva palração, quando repararam no meu cachimbo, pendurado nos dentes. Agitaram-se, e todas, ao mesmo tempo, como se fossem autómatos, impulsionados por uma mola, inclinaram-se para a frente, muito hirtas e concentradas. Nem pestanejavam, tal era a sua ânsia em descortinar uma onda de fumo a sair do fornilho do cachimbo. Pareciam sanguessugas, pensei.

Comecei a ler o jornal, fingindo não ter reparado na animosidade da recepção, enquanto lhes espiolhava os gestos pelo canto do olho. Reclinaram-se nos espaldares das cadeiras e começaram a cochichar umas com as outras, fazendo esgares alarmantes. Voltaram a olhar-me, e eu resolvi sacar da bolsa do tabaco, que pousei no tampo da mesa. A excitação reacendeu-se nos olhos das três velhas, que voltaram a inclinar-se para a frente, agora com um ar mais determinado. Deixei que se cansassem naquela incómoda posição - até resolverem, todas ao mesmo tempo, encostarem-se novamente ao espaldar das suas cadeiras - para eu iniciar com gestos vagarosos o enchimento do fornilho do cachimbo, enquanto aparentava mostrar muita atenção ao que simuladamente estava a ler no jornal. Um ritual mil vezes ensaiado, mas que ali eu sopesava com extrema paciência e rigor. Os dedos e o calcador iam, vagarosamente, apertando o tabaco no fornilho, e as velhas seguiam, como se de um maléfico efeito hipnótico se tivesse apossado delas, todos os meus movimentos, os quais as exasperavam, como se podia deduzir através da evidência dos irreprimíveis sinais de impaciência, que manifestavam.

E foi quando abandonei o cachimbo no tampo da mesa, para poder segurar o jornal com ambas as mãos - último gesto, este, assim exigido ao leitor que tropeça, sem disso estar à espera, numa inusitada notícia que lhe desperta subitamente o interesse - que voltaram a recostar-se, soltando uma exclamação que, ainda hoje, não sei se foi de alívio ou de desilusão.

Assim as deixei, entregues às tagarelices, que rapidamente retomaram, ao mesmo tempo que passaram a ignorar-me, enquanto eu, segurando o jornal com as duas mãos, continuei a ler a tal notícia, e que me obrigou, com estudada simulação, a uma maior fingida concentração.

Não lhes dei tréguas por muito tempo. Num gesto rápido e decidido, largo o jornal, coloco o cachimbo na boca e começo a apalpar todos os bolsos à procura do isqueiro, que eu sabia já estar em cima da mesa, por aí o ter colocado, mal me sentei. As três velhas deram um estremeção nas cadeiras e, novamente, voltaram-se para mim. Uma delas já olhava para trás, para o balcão, julgo que para descobrir o gerente, que já estava, a resguardada distância, e numa presença vigilante, a observar-me atentamente. A velha esboçou um sorriso de satisfação, depois de certificar-se de que se poderia contar com a inestimável ajuda daquele importante aliado, nesta sua primeira investida da sagrada cruzada antitabagista.

Peguei finalmente no isqueiro. Agarrei-o e coloquei-o em posição para o accionar, mas reincidi na descoberta de uma outra notícia do jornal a despertar-me a atenção, e ali fiquei a lê-la com afincada concentração, enquanto o antebraço, com o cotovelo assente no tampo da mesa, ficara em suspensão, por um tempo indeterminado, que, para as três velhas, nunca mais acabava.

A velha que se certificara da presença vigilante do gerente e que, das três, era a que revelava maior impaciência, levantou-se, ajeitou o casaco, que trazia pelos ombros, e, lesta, encaminhou-se para uma mesa próxima, onde um senhor anafado lia o jornal. A intimidade entre ambos era visível, pois a um cochicho da velha, aquele senhor, com um ar de funcionário público aposentado, levantou os olhos por cima dos óculos e olhou na minha direcção, para depois, perante as palavras da velha - que deveriam ser de indignação, tal como se podia observar pelos seus esgares que lhe arrepelavam as peles do rosto - ensaiar com a cabeça sucessivos gestos afirmativos de inteira e absoluta concordância.

Quando o gerente estava quase a desistir da sua apertada vigilância, por, possivelmente, outros afazeres lhe reclamarem a imprescindível presença, accionei a chama do isqueiro. As velhas, o gerente e o senhor anafado estancaram de repente e ali ficaram estáticos e com a respiração suspensa, a olhar, ansiosos, a chama bruxuleante do meu isqueiro, que eu mantinha aceso, com o braço apoiado e imóvel, enquanto voltei a uma nova e concentrada leitura.

As velhas pareciam hipnotizadas, o senhor anafado olhou em redor, com um sorriso imbecil, para se certificar se outros clientes também estavam a ver aquilo que ele via, e o gerente levou a mão ao bolso, dando-me tempo, no entanto, para observar o movimento discreto da sua mão a agarrar um pequeno objecto cinzento, ficando-me a dúvida, ainda hoje não esclarecida, se se tratava de um telemóvel ou de uma pistola.

Apaguei a chama do isqueiro, pois já estava a queimar-me, e coloquei-o novamente no tampo da mesa para dar toda a minha atenção à leitura concentrada do jornal. As velhas soltaram em simultâneo, e com uma estridente sonoridade, um suspiro de desânimo, o gerente retirou a mão do bolso e encostou-se a uma coluna, não renunciando à sua atitude vigilante, e o senhor anafado procurava o olhar da velha, que antes se lhe dirigira, mas que, agora, já lá vai, muito aflita, em passinhos miudinhos e rápidos, num trejeito cómico, a caminho dos lavabos, talvez movida pela urgência de uma provável incontinência urinária a manifestar-se, devido à excitação do momento.

Sem me dar conta, já os clientes de todas as mesas estavam a olhar-me com interessada curiosidade e uma pouca discreta animosidade, enquanto alguns, para demonstrar o lado da trincheira em que combatiam, teciam em voz mais alta, para eu ouvir, comentários laudatórios à nova lei, entrada naquele dia em vigor.

As velhas, agora com o trio recomposto, pois aquela, que tinha ido, aflita, aos lavabos, já regressara, aliviada, ao seu lugar, entraram em grande excitação, visível na forma como nervosamente agitavam as pernas, ao verificarem que toda a clientela da Mexicana, ali presente, estava alertada para se lançar sobre mim, se eu cometesse a ousadia de acender o cachimbo, infringindo a nova lei, que protege os não fumadores, mas estigmatiza os fumadores.

Correndo riscos, resolvi regressar à encenação do isqueiro. Ali ficou pendurada a chama a excitar toda a gente, com alguns clientes, onde não estavam incluídas as velhas, nem o senhor anafado, nem o gerente, já a suspeitarem das minhas verdadeiras intenções, e a adivinharem a pilhéria ou a provocação de mais um fumador ressabiado com a lei proibicionista.

Apaguei a chama, dobrei o jornal, a sinalizar o fim da leitura, e voltei a accionar o isqueiro, atrevendo-me a simular o gesto de acender o cachimbo. A tensão atingiu o rubro. O gerente desencostou-se da coluna e ensaiou com estudada energia uns passos na minha direcção, o senhor anafado tirou os óculos e debruçou-se para a frente com as mãos apoiadas no tampo da mesa, e as três velhas, excitadíssimas, saltaram das cadeiras, como se uma mola as impulsionasse, e já se preparavam para também saltar sobre mim, se eu, num gesto rápido, não tivesse apagado o isqueiro, e rapidamente o recolhesse no bolso, juntamente com a bolsa do tabaco. Levantei-me com um ar descontraído, como se desconhecesse toda aquela súbita agitação e, calmamente, saí do café, para grande desilusão das velhas, que ficaram ali de pé, especadas, e com um ar espantado, e também para grande alívio do gerente, que viu afastado do seu estabelecimento o perigo de um desagradável incidente.

Já cá fora, em plena Praça de Londres, pensei que, se, na realidade, tivesse acendido o cachimbo no interior do café, poderia ter desencadeado uma trágica guerra civil em Portugal.

Alexandre de Castro  

Janeiro de 2008
***«»***
Este texto foi escrito na sequência da entrada em vigor da lei antitabágica e foi publicado no abnoxio, um blogue de um grande rigor editorial, do prestigiado poeta Ademar Santos.



Agradeço ao autor a partilha do texto.
Posted by Ademar Santos at 12:46 PM

abnoxio 29 JAN 08

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Um Poema ao Acaso (2) - Epígrafe- Mário Sá Carneiro


«EPÍGRAFE»


A sala do castelo é deserta e espelhada.

Tenho medo de Mim. Quem sou? De onde cheguei?...
Aqui, tudo já foi… Em sombra estilizada,
A cor morreu – e até o ar é uma ruína…
Vem de Outro tempo a luz que me ilumina ­­–
Um som opaco me dilui em Rei…

Mário Sá Carneiro (1890-1916)

Paris, 1916

ERCS- advertência exemplar a Manuela Moura Guedes


A postura assumida por Manuela Moura Guedes, na condução do "'Jornal Nacional de 6ª Feira", da TVI, é jornalisticamente condenável, porque, na realidade, viola os deveres de isenção, consignados nas normas deontológicas da profissão.
Enquanto espaço noticioso, a sua função deve cingir-se à prestação de uma informação objectiva, rigorosa e isenta, e sempre apoiada em fontes fundamentadas e credíveis, e, ao mesmo tempo, assumir uma posição independente (sem tomar partido), perante as questões colocadas aos seus entrevistados e comentadores, a quem compete a tarefa do exercício de opinião. Se Manuela Moura Guedes pretende emitir opiniões públicas num programa informativo, deve passar para o outro lado da cadeira, e deixar o lugar de pivot para outro jornalista, que lhe faça as perguntas necessárias sobre um qualquer assunto.
No jornalismo, a separação entre a notícia, a opinião pessoal e publicidade, encapotada ou não, é essencial e obrigatória, a fim de não ludribiar as expectativas e a credulidade do leitor ou do telespectador.
E teria de ser nestes termos, numa forma clara e sem ambiguidades, que a Entidade Reguladora da Comunicação Social (ERCS) deveria ter centrado a sua condenação, e não, como manifestamente fez, ter enveredado pela deriva sub-reptícia de questionar implicitamente os critérios editoriais de um órgão de informação. Ao insistir habilmente na tónica da perseguição ao primeiro ministro, a ERCS foi inspirar-se nos argumentos da "cabala" e da "campanha negra", colocando-se, também ela, numa posição pouco cómoda, em relação à sua isenção na mediação deste conflito de interesses, onde a pertinência da crítica reside na forma e não no conteúdo.

http://www.correiomanha.pt/noticia.aspx?contentid=33183200-99CE-430F-84AA-E1AA686B29A6&channelid=00000021-0000-0000-0000-000000000021

BPN quer ser indemnizado


Depois de ter lido a proposta original do braganzamothers, declaro a minha disponibilidade para fornecer a pólvora.

terça-feira, 26 de maio de 2009

Um Poema ao Acaso - Para o Ernesto Veiga de Oliveira no dia da sua morte- Sophia de Mello Breyner Andresen




PARA O ERNESTO VEIGA DE OLIVEIRA NO DIA DA SUA MORTE

Àquele que hoje morreu
tendo sido
Fiel a cada hora do vivido
Trago o poema desse tempo antigo:
Irisado cintilar dos areais
Na breve eternidade desse instante
Que não pode jamais ser repetido

Foi nesse tempo o tempo:
Longas tardes conversas demoradas
No extático fervor adolescente
Das grandes descobertas deslumbradas
Versos dança música pintura
Um mundo vivo em canto e em figura
Que a vida inteira ficará comigo
Agradecendo a graça do ter sido

Assim pudesse o tempo regressar
Recomeçarmos sempre como o mar

Sophia de Mello Breyner Andresen

segunda-feira, 25 de maio de 2009

O incómodo de usar o apelido "Pau"

Paisagem típica da região onde nasceu Maria José Pau

Quando passarem por Beja, poderão certificar-se se é verdade ou não.......

O Registo Civil de Beja recebeu o seguinte requerimento:

Beja, 5 de Fevereiro 2006.
Eu, Maria José Pau, gostaria de saber da possibilidade de se abolir o sobrenome Pau do meu nome, já que a presença do Pau me tem deixado embaraçada em várias situações. Desde já agradeço a atenção dispensada.
Peço deferimento,
Maria José Pau.

Em resposta,  a requerente recebeu a seguinte mensagem:

Cara Senhora Pau:
Sobre a sua solicitação da remoção do Pau, gostaríamos de lhe dizer que a nova legislação permite a remoção do Pau, mas o processo é complicado e moroso.
Se o Pau tiver sido adquirido após o casamento, a remoção é mais fácil, pois, afinal de contas, ninguém é obrigado a usar o Pau do cônjuge se não quiser. Se o Pau for do seu pai, torna-se mais difícil, pois o Pau a que nos referimos é de família e tem sido utilizado há várias gerações.
Se a senhora tiver irmãos ou irmãs, a remoção do Pau torná-la-ia diferente do resto da família.
Cortar o Pau do seu pai pode ser algo muito desagradável para ele. Outro senão está no facto do seu nome conter apenas nomes próprios, e poderá ficar esquisito, caso não haja nada para colocar no lugar do Pau. Isto sem mencionar que as pessoas estranharão muito ao saber que a senhora não possui mais o Pau do seu marido.
Uma opção viável seria a troca da ordem dos nomes. Se a senhora colocar o Pau na frente da Maria e atrás do José, o Pau pode ser escondido, pois poderia assinar o seu nome como 'Maria P. José'.
A nossa opinião é a de que o preconceito contra este nome já acabou há muito tempo e visto que a senhora já usou o Pau do seu marido por tanto tempo, não custa nada usá-lo um pouco mais.
Eu mesmo possuo Pau, sempre o usei e muito poucas vezes o Pau me causou embaraços.
Atenciosamente,
Bernardo Romeu Pau Grosso
Registo Civil de Beja

domingo, 24 de maio de 2009

Economia subterrânea - alterne e prostituição


A prostituição e o negócio das casas de alterne movimentam uma quantidade colossal de dinheiro, juntando-se a outras actividades da economia subterrânea, que, no seu conjunto, representam em Portugal, cerca de 22 por cento do PIB anual.
Começa a saber-se também que não são as mulheres, que se dedicam à prostituição e ao alterne, quem mais beneficia dos avultados rendimentos gerados. Nestas actividades, existem situações claras de escravatura e de tráfico de mulheres, que as autoridades têm dificuldade em identificar e desmantelar.
O congresso do Sindicato das Carreiras de Investigação e Fiscalização do SEF, realizado este fim de semana em Bragança, traçou um quadro negro desta situação, bem caracterizada quando se afirmou que "O dinheiro ilegal realizado pelas casas de alterne durante um ano dava para pagar uma nova auto-estrada entre Amarante e Bragança".
Esclarecedor!
AC

1-Questionar os grandes empreendimentos




A importância do novo aeroporto e do TGV

Temos por adquirido que ninguém coloca em questão a importância estratégica para a economia portuguesa da construção de um novo aeroporto e da rede do TGV. Um novo aeroporto, moderno e com grande capacidade de tráfego, responderia a um dos grandes objectivos, traçados há quinze anos para a Região de Lisboa e Vale do Tejo, e que consistia em elevar o centro de Portugal à categoria de porta de entrada da Europa, disputando a Madrid esse estatuto e primazia .


O TGV, ao colocar-nos na rota ferroviária europeia, e tal como já acontece com as auto-estradas, diminuiria os efeitos negativos da condição periférica do país, aumentando o potencial da sua integração no espaço europeu, com visíveis benefícios no domínio económico, social e cultural. E todos sabemos que, para além da herança histórica recebida, o atraso secular de Portugal só poderá ser explicado pelo seu afastamento em relação aos centros mais dinâmicos da Europa. As ideias, as modas, as técnicas, a tecnologia, as novidades culturais, e tudo o mais, aterram em Portugal, quando na Europa desenvolvida já estão em fim de ciclo, num desfazamento temporal que lhes encurta o prazo de validade, e condicionando os seus potenciais benefícios para o progresso e para o desenvolvimento . Para caracterizar bem esta asserção, poder-se-ia dizer que Portugal anda sempre em contra-ciclo, ou, utilizando outra metáfora,compra tudo em segunda mão, embora a situação actul não possa comparar-se à estagnação e ao estiolante isolamento, vivido antes do 25 de Abril.


Mas, com a ruptura provocada pela crise económica e financeira, a que se seguirá, inevitavelmente, uma profunda crise social e política, manda a prudência que a construção dessas duas gigatescas infra-estruturas, a exigirem um grande esforço financeiro, seja reequacionada, até porque todos os estudos de viabilidade económica encontram-se ultrapassados, já que foram realizados sob a expectativa de um quadro expansionista da economia mundial. Os indicadores respeitantes ao tráfego aéreo e ferroviário já não correspondem à realidade previsível, pondo-se assim em causa a rentabilidade do capital investido e o seu retorno. AC

sábado, 23 de maio de 2009

Belmiro desmente ministro

Belmiro de Azevedo não teve papas na língua e desmentiu categoricamente o ministro das Finanças, Teixeira dos Santos, ao afirmar que não há quaisquer sinais de retoma na economia portuguesa, o que é verdade.
O poder político, as instituições reguladoras e os comentadores, quer aqui, quer noutros países, já nos habituaram ao movimento pendular das suas opiniões, obedecendo a uma centralizada estratégia de tentar ocultar da opinião pública a verdadeira natureza da profunda crise e os seus estragos colatrais, assim como as suas verdadeiras causas . De manhã, ao acordar, dizem-nos que a economia já apresenta sinais animadores; ao almoço, dizem-nos que a crise já tocou no fundo; e à noite, para adormecermos sem pesadelos, afirmam, a medo, que, afinal, ainda existem sinais preocupantes.
Vou inverter o meu ciclo biorítimico, dormindo durante o dia e estando vigil durante a noite, para não ser enganado. AC

http://www.jornaldenegocios.pt/index.php?template=SHOWNEWS&id=369314

Novo perdão?




Será que o Estado também vai perdoar as dívidas e os juros aos clientes que contraíram empréstimos junto do BPP? No final deste conturbado processo, alguém terá de fazer o balanço do dinheiro que o governo injectou naquele casino, entre avales, indemnizações de falsos depósitos e um eventual perdão das dívidas de empréstimos concedidos, bem como assumir as respectivas responsabilidades políticas e outras, pelo esbulho dos dinheiros dos impostos dos portugueses.


Penhor público de activos de clientes do BPP "não tem impacto" nas contas
23.05.2009-PÚBLICO

O Banco de Portugal (BdP) está a notificar os clientes do Banco Privado Português (BPP) sobre a existência de uma penhora realizada pelo Estado sobre os seus activos. No entanto, "a medida não tem qualquer impacto nas contas dos clientes", disse ao PÚBLICO fonte oficial do Banco Privado Português (BPP), instada a comentar uma notícia da agência Lusa, segundo a qual o Banco de Portugal (BdP) está a notificar os clientes da instituição financeira a recordar-lhes que estão obrigados a pagar juros e amortizações de empréstimos que tenham contraído e que sobre eles foi constituído penhor a favor do Estado. Em causa esteve o aval público dado à banca a operar em Portugal para sustentar um empréstimo de 450 milhões de euros concedido ao BPP em Dezembro. A Lusa revelou que o BdP decidiu recordar aos clientes do retorno de absoluto "que estão obrigados a pagar juros e amortizações de empréstimos que tenham contraído e que sobre eles foi constituído penhor a favor do Estado". A iniciativa surge seis meses depois de vários bancos terem avançado com um empréstimo ao BPP de 450 milhões de euros. Este financiamento, que vence a 6 de Junho (não renovável), foi sustentado num aval público que tem por base um contrapenhor de activos do balanço do BPP no valor de 672 milhões de euros. Entre os activos penhorados estão os investimentos directos realizados por clientes com aplicações de capital garantido, que têm as suas contas cativas. C.F.

Moralização da vida política

Por uma questão de higiene pública, este exemplo de saneamento poderia ser, também, aplicado em Portugal, para acabar com a impunidade.

Deputado trabalhista poderá ser obrigado a abandonar cargo por ter apresentado despesas da casa da filha
23.05.2009, Isabel Gorjão Santos-PÚBLICO

O deputado britânico Ian Gibson poderá perder o direito de continuar a ser candidato pelo Partido Trabalhista após ser acusado de apresentar despesas relativas a um apartamento onde vivia a filha e o namorado. Gibson alegou que, durante algum tempo, ficou naquela casa três vezes por semana, mas depois vendeu o apartamento à filha por um montante muito abaixo do preço de mercado. O caso de Gibson, ontem divulgado pelo diário Daily Telegraph, segue-se a várias outras situações de deputados que abusaram das despesas com a segunda habitação pagas pelo erário público e que têm sido divulgadas desde 8 de Maio. Isto está a causar uma crise que afecta o Governo trabalhista de Gordon Brown e a oposição conservadora de David Cameron. Os trabalhistas estão com uma considerável desvantagem nas sondagens.Ao todo, Gibson apresentou nos últimos quatro anos 80 mil libras (cerca de 90.800 euros) em despesas relacionadas com a hipoteca e outras contas relativas a um apartamento em Londres. No entanto, adiantou o Telegraph, a filha do deputado, Helen Gibson, viveu naquele apartamento com o namorado vários anos, com a renda e as contas pagas pelos contribuintes, até comprar em Junho a casa por um preço muito abaixo do mercado. Segundo o próprio Gibson, o apartamento foi comprado por 195 mil libras e depois vendido à sua filha por 162 mil, numa altura em que o imóvel estaria avaliado num montante entre 250 mil e 300 mil libras.O caso de Gibson foi agora submetido a uma comissão do Comité Executivo Nacional do Partido Trabalhista. O deputado disse à BBC que o apartamento foi a sua casa durante muitos anos e que, quando a vendeu, porque queria mudar para uma casa arrendada junto a Westminster, "os preços estavam a baixar".O escândalo das despesas está também a afectar deputados conservadores, como Anthony Steen, que ontem foi repreendido pelo líder do partido por dizer que os que criticaram as suas despesas têm "inveja" da sua casa. Cameron disse ao deputado que poderá ser expulso se voltar a dizer algo semelhante. "É completamente inaceitável", disse à BBC. Steen pediu desculpa pelo comentário, que considerou "impróprio".A deputada conservadora Nadine Dorries defendeu que os políticos britânicos estão a ser vítimas de uma "caça às bruxas" e disse recear que algum deputado cometa o suicídio. Um porta-voz dos conservadores disse que essa opinião "não reflecte a visão do partido". Gibson alegou que morou naquela casa e que a vendeu mais barata "porque os preços estavam a baixar".

Óbito


Morreu o General Lemos Pires

O General Lemos Pires (na foto, o segundo a contar da esquerda, a meu lado) morreu na última sexta-feira, vítima de doença prolongada. Concedeu-me a honra de ter sido ele a apresentar o meu livro «O Bando do Liceu», na sessão de lançamento, realizada no Liceu de Lamego, que ambos frequentámos.

Foi um oficial distinto das Forças Armadas, que se notabilizou em Timor, tendo sido o último governador daquela colónia. Perante a invasão indonésia e a negligente indiferença do governo central de Lisboa, apanhado de surpresa pelos acontecimentos na sua última colónia e a braços com uma revolução no país, Lemos Pires conduziu com discernimento e coragem a retirada das tropas portuguesas para a ilha de Ataúro, evitando assim uma humilhação perante o exército invasor, desproporcionadamente muito mais numeroso e muito melhor equipado.

A história dessa conturbada época naquela longínqua ilha do Pacífico recebeu um notável contributo com o livro que publicou, «A descolonização de Timor- Missão», e que é uma obra de referência importante e de consulta obrigatória para os historiadores interessados neste tema específico.

O General Lemos Pires também dedicou um carinho especial pelo renascido movimento dos antigos alunos do Liceu de Lamego, que anualmente realiza um grande encontro naquela cidade, no dia 1º de Dezembro.