Tive o privilégio de conhecer, no final do mês passado, a “poeta”
Maria Azenha de quem sou um admirador incondicional. O pretexto foi o de
receber das suas mãos o seu último livro de poesia, que recentemente publicou,
e onde inseriu, como nota preambular, uma pequena frase minha, que, previamente,
me solicitara para o efeito, e que aqui transcrevo:
“Todos
anseiam escrever um poema num muro escuro.
Se
possível, com gomos de lume, para incendiar as pedras.”
Entendi o honroso convite, que volto a agradecer,
como uma prova de estima.
***
Maria Azenha, já com duas dezenas de livros publicados,
exprime-se poeticamente num estilo literário inconfundível, que ninguém
consegue imitar, enquadrando os seus poemas numa geometria metafórica
grandiosa, em que o segredo dos efeitos reside na precisão de cada palavra,
milimetricamente escolhida, o que me levou a dizer que os seus poemas são
verdadeiras “catedrais góticas”.
***
Do livro em causa, “A casa de ler no escuro”, escolhi, para aqui deixar, o poema da
página 11 e o da página 33.
O Anjo do
desastre
Chegou a morte com a boca cheia de cravos.
Chegou numa certa manhã escura
com sirenes no deserto e
cavalos
contra a primavera
contra a chuva
sem que o sangue de deus existisse num milagre
ou num mícron de segundo.
Vi o anjo do desastre colocar os pés no mundo.
***
A noite da
europa
Toda a violência procura o disfarce
de uma virgem que é perseguida por
um louco.
Auschwitz é um cão que morde o poema
triunfante de ruína.
O seu verso de saída é um imperador morto
Que busca o ouro nos destroços
Maria Azenha.
1 comentário:
PARABÉNS À POETA MARIA AZENHA.
Enviar um comentário