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sexta-feira, 30 de dezembro de 2016

PCP lança campanha sobre saída do euro


PCP lança campanha sobre saída do euro

O PCP anunciou hoje [17 de Dezembro] que vai realizar uma campanha sobre a saída do euro, entre janeiro e junho de 2017.
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Trata-se de uma grande iniciativa do PCP, que faltava ao país. Só com uma moeda própria, adaptada, no ponto de vista cambial, à produtividade da economia nacional, se poderá caminhar no sentido do crescimento e do desenvolvimento, que o elevado valor do euro está a estrangular, pois não favorece o aumento desejável e sustentável das exportações, o que é urgente e importante, ao mesmo tempo que facilita o aumento das importações, o que não é favorável para a economia O consumo, através da importação de bens de luxo, não enriquece o país, antes o empobrece.
Sempre que abordo este tema, costumo referir a minha metáfora, que é assim: ao aderir ao euro, Portugal fez a figura daquela criança, que vestiu o casaco do pai. Ficava-lhe grande e dificultava-lhe os movimentos. O alfaiate cortou-o e tentou adaptá-lo ao corpo da criança. Ficou mal amanhado. A solução, concluiu-se, é comprar um casaco novo (ou seja, regressara ao escudo).
Claro como água cristalina. Só não vê quem é cego ou quem, por conveniência interesseira, finge que é cego.
É certo que uma saída do euro tem custos e vai exigir sacrifícios (a todos e não apenas a alguns, até aqui os mesmos de sempre), mas que serão temporários, e podendo ser eliminados quando começarem a surgir os resultados positivos de uma nova política, assente no vigoroso aumento das exportações, proporcionado por uma moeda de menor valor, e no investimento público e privado. No entanto, esse sacrifícios, quer na intensidade, quer na interinidade, serão muito menos gravosos do que os existentes na situação actual, que vão perpetuare-se por muito tempo, e em que a economia não conseguirá gerar uma balança comercial, com um folgado superávit, para poder pagar-se a dívida, mesmo que reestruturada.
Alexandre de Castro

quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

A casa de ler no escuro _ Maria Azenha


Tive o privilégio de conhecer, no final do mês passado, a “poeta” Maria Azenha de quem sou um admirador incondicional. O pretexto foi o de receber das suas mãos o seu último livro de poesia, que recentemente publicou, e onde inseriu, como nota preambular, uma pequena frase minha, que, previamente, me solicitara para o efeito, e que aqui transcrevo:

“Todos anseiam escrever um poema num muro escuro.
Se possível, com gomos de lume, para incendiar as pedras.”

Entendi o honroso convite, que volto a agradecer, como uma prova de estima.
***
Maria Azenha, já com duas dezenas de livros publicados, exprime-se poeticamente num estilo literário inconfundível, que ninguém consegue imitar, enquadrando os seus poemas numa geometria metafórica grandiosa, em que o segredo dos efeitos reside na precisão de cada palavra, milimetricamente escolhida, o que me levou a dizer que os seus poemas são verdadeiras “catedrais góticas”.
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Do livro em causa, “A casa de ler no escuro”, escolhi, para aqui deixar, o poema da página 11 e o da página 33.

O Anjo do desastre

Chegou a morte com a boca cheia de cravos.
Chegou numa certa manhã escura
com sirenes no deserto e
cavalos

contra a primavera
contra a chuva

sem que o sangue de deus existisse num milagre
ou num mícron de segundo.

Vi o anjo do desastre colocar os pés no mundo.

***

A noite da europa

Toda a violência procura o disfarce
de uma virgem que é perseguida por
um louco.

Auschwitz é um cão que morde o poema
triunfante de ruína.

O seu verso de saída é um imperador morto
Que busca o ouro nos destroços

Maria Azenha.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Tenho um minuto para escrever este poema _ maria azenha


Tenho um minuto para escrever este poema

Tenho um minuto para escrever este poema
Um poema que fala de amor e de um deus morto
A minha pena é uma faca de luz e sou o anjo do desespero
Com os dentes trituro a esperança e a tinta da boca
escorre pelas ruas cobrindo-me os ombros.
Sou a nuvem que sobrevoa o silêncio.
O meu voo é o abismo da neve que grita:
Obrigada, meu Deus, por não existires.

©maria azenha

***«»***
Um poema original na forma, arrebatador na essência e divinal na existência...
O poema é fabuloso! Arranca-nos da solidão do Tempo.
Parece-me que a Poesia continua viva. Não morreu na voragem predadora da Nova Idade.

sábado, 17 de dezembro de 2016

Morreu Laura Ferreira dos Santos


Morreu Laura Ferreira dos Santos. Morreu sem ter acabado o seu último combate - o Direito à morte assistida.
Era irmã do poeta Ademar Santos, também já falecido, que eu muito admirava e com quem me correspondia.
A vida é sempre curta, para quem tem sonhos grandiosos, ao serviço da plena cidadania dos direitos, que as instituições políticas e religiosas pretendem negar-nos, como se fossem donas do nosso destino.
Laura Ferreira dos Santos foi um exemplo para todos nós, quer na vida, quer na morte. Morreu naquela idade em que ainda se alimenta o sonho.
Alexandre de Castro

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sexta-feira, 16 de dezembro de 2016

O regime sírio não é o agressor…


O regime sírio não é o agressor…

Não foi o regime sírio, que iniciou esta fratricida guerra. Nem os sectores da oposição a Bashar-al-Assad teriam meios para a desencadear, se não fossem os países ocidentais, particularmente os EUA e a França, a proporem-a aos respectivos dirigentes e a comprometerem-se a treinar e a armar os seus combatentes.
A CIA aplicou na Síria o mesmo estratagema que utilizou em relação ao ISIS (Estado Islâmico), e a França enviou os seus militares para o terreno, a fim de treinar os chamados rebeldes, o que o presidente francês já admitiu publicamente. Além disto, a CIA, tal como procedeu na Líbia, mobilizou mercenários do Catar para o teatro das operações. Não foram, pois, os oposicionistas sírios que, por iniciativa própria e autónoma, desencadearam as hostilidades. Os verdadeiros agressores foram os EUA e a França, que descobriram, a fim de se furtarem à condenação pública, que a melhor maneira de fazer a guerra, a guerra que convém aos seus interesses estratégicos, seria encomendá-la a terceiros.
 
Perante este quadro, o regime legítimo da Síria defendeu-se, defendendo também o seu povo, cuja maioria não se identifica com as políticas dos países ocidentais, em relação ao Médio Oriente. A legítima defesa é um direito universal. O ónus da causa desta guerra é a interferência estrangeira num país independente, que faz parte da ONU.

O envolvimento da Rússia (um país aliado da Síria, desde os tempos da União Soviética) foi determinante para inverter o sentido da guerra, que passou a ser favorável às forças do regime. E foi precisamente a partir do momento desta inversão que a imprensa ocidental iniciou a sua campanha a favor do Direitos Humanos do povo sírio, quando antes se tinha remetido a um silêncio cúmplice e comprometedor, em relação às barbaridades cometidas pelos rebeldes, nas cidades que ocupou. O primeiro cessar-fogo, entre as forças beligerantes, fracassou, porque os rebeldes, em vez de deixar sair a população civil das cidades sitiadas, que era o objectivo do cessar-fogo, manteve-a prisioneira, a fim de lhe servir de escudo, pois sabiam que, a partir daí, ficariam mais expostos a um ataque fortíssimo das forças militares do regime. E este aprisionamento da população civil é um crime, previsto no Direito Internacional. Mas isto não pesou na consciência dos media ocidentais, que persistem na intoxicação e na desinformação da opinião pública.
Alexandre de Castro

sábado, 10 de dezembro de 2016

O Estado Social não pode ser descentralizado nem privatizado...


"A melhor forma de celebrar estes 40 anos do poder local democrático é confiar e apostar na necessidade de maior descentralização", reiterou.
Na sua opinião, os autarcas serão capazes de "governar melhor o mundo", o que justifica um reforço da descentralização de competências da Administração Central para as autarquias.
António Costa - primeiro-ministro
***«»***
[Fica a faltar pouco, para privatizar os municípios].

Eu penso que António Costa, pressionado pelos apertos orçamentais, provocados pelo torniquete da comissão europeia e do BCE, vai iniciar a sua deriva à direita. E uma das fugas para a frente, poderá muito bem ser - à boleia dos propalados méritos da descentralização (que serão úteis e aconselháveis em alguns aspectos) - a transferência de competências para as autarquias, de algumas áreas da Saúde e da Educação, o que será um erro, pois estes dois pilares do Estado Social, que é necessário defender, têm de ser geridos de uma forma holística, tal é a sua complexidade. 

E, por outro lado, nunca fica garantido que, no presente e no futuro, o poder central não venha a cortar no financiamento respectivo. Perante um cenário destes, as autarquias, principalmente as da ala direita do espectro partidária, seriam tentadas a avançar para a privatização dessas competências. Seria uma segunda frente para, por exemplo, os privados prosseguirem a sua estratégia de se instalarem no aparelho do SNS, principalmente na área hospitalar. E falamos em segunda frente, porque a primeira já está em marcha, com a cumplicidade e o apoio da actual equipa ministerial da Saúde, e que consiste em enviar doentes do sector público para gabinetes privados de meios auxiliares de diagnóstico, que, no último ano, nasceram como cogumelos nas principais cidades do país. A explicação oficial é que o sector público, na área dos meios auxiliares de diagnóstico, se encontra saturado, aumentando dia a dia as correspondentes listas de espera. O slogan é a enganadora frase, muito atractiva e sedutora, além de bem elaborada, "o dinheiro anda atrás do doente". 

Ora, seria melhor que esse dinheiro andasse à frente do doente, aplicando-o na compra de novos equipamentos e alargando a dimensão dos respectivos serviços, o que, em termos de escala e a longo prazo, ficaria mais barato para o Estado.

Este conceito e este slongan não são uma novidade lusitana. Um e outro foram usados com sucesso na Grã-Bretanha, durante o doloroso governo de  Margaret Tatcher, na sua ofensiva brutal contra o Serviço Nacional de Saúde britânico, que era exemplar. A Dama de Ferro desvirtuou-o totalmente.

Em Portugal, a estratégia dos privados está a avançar com pèzinhos de lã, para não causar alarme social. De início, até vão ser pródigos no estabelecimento de custos acessíveis, para o utente, enquanto o Estado pagar, e no atendimento, até ao dia em que, já completamente instalados e com o poder de decisão na mão, possam avançar com uma estratégia predadora e com um outro slogan, do género, "quem quer saúde paga-a".

Por isso, afirmamos: deve optar-se pela descentralização, não para destruir direitos, mas para os reforçar. Descentralizar a Saúde e a Educação seria tão desastroso como se se descentralizassem as Forças Armadas, pois não seria uma boa ideia ver o presidente da Junta de Freguesia de Ranholas de Cima, promovido a segundo sargento...
Alexandre de Castro 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

Le Pen dá os parabéns a Salvini


 Le Pen dá os parabéns a Salvini

Marine Le Pen, líder da Frente Nacional, já deu os parabéns ao líder do considerado partido-irmão da força extremista gaulesa, a Liga do Norte. Além dos parabéns dados a Matteo Salvini, Le Pen aproveita ainda, num outro post publicado no Twitter, para considerar que "os italiano renunciaram à UE e a Renzi". A Liga do Norte defende o regresso à lira italiana e a saída do projecto europeu.
Jornal de Negócios
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Regozijo-me com os resultados de referendo em Itália, por ver neles uma abertura de oportunidades para, num futuro próximo, poder desarmar-se a ditadura do euro, que é um verdadeiro torniquete para as economias dos países do sul da Europa. Mas, por outro lado, preocupa-me o facto de verificar que, na generalidade dos países, com excepção de Portugal, de Espanha e da Grécia, o processo está a ser conduzido pelas forças da extrema-direita xenófoba e fascizante, o que é um mau sinal para o futuro. E a culpa não é desses partidos. A culpa tem de ser assacada, por inteiro, a todos os dirigentes governamentais europeus e a todos os altos funcionários das estruturas da UE, que, através do euro e da centralização de poderes soberanos, extorquidos aos países membros, quiseram construir uma Europa desigual, facilitando o saque dos países do sul da Europa, pelo capital financeiro dos países dominantes (a Alemanha e a França). E os povos, embora tardiamente, começaram a perceber a engenhosa armadilha que proporcionou o enriquecimento dos mais ricos, à custa do empobrecimento dos mais pobres.
AC

domingo, 4 de dezembro de 2016

PCP saiu reforçado do XX Congresso e Jerónimo de Sousa saiu consagrado...


O PCP saiu reforçado deste congresso, com Jerónimo de Sousa a equacionar correctamente aquilo que, para alguns, seria uma contradição insanável, o de estar, por um lado, a apoiar um governo minoritário do Partido Socialista, e, por outro lado, ao nível do discurso, comportar-se como um partido da oposição, não se eximindo a fazer a denúncia de algumas e importantes posições governamentais. Em boa verdade, pode dizer-se que, desde o início do processo da viabilização de um governo minoritário do PS, com o apoio dos dois partidos à sua esquerda, essa contradição nunca existiu, pois o PCP não fez um acordo de incidência parlamentar para toda a legislatura e, por outro lado, soube traçar as linhas vermelhas da sua colaboração, que não poderiam ser ultrapassadas. O que o PCP pretendeu, ao propor um entendimento à esquerda, para viabilizar um governo minoritário do PS, foi a necessidade urgente de bloquear a possibilidade da ascensão da direita ao poder, assim poupando os portugueses a mais quatro anos de dura austeridade e à continuação da sonegação de direitos, ao nível laboral e ao nível da Saúde, da Educação e da Segurança Social (as tais linhas vermelhas, entre outras).

Jerónimo de Sousa deixou o congresso tranquilo. Não houve, não há, nem haverá nenhum recuo do Partido Comunista Português, a nível ideológico, político e programático.

Um outro aspecto importante, que o congresso assinalou e registou, foi a afirmação inequívoca da necessidade urgente de Portugal sair do euro, começando-se desde já a preparar essa saída, matéria que o PCP, anteriormente, sempre abordou com cautela, porque, entre os comunistas, quer do topo, quer da base, e também entre o seu tradicional eleitorado, não haveria uma unanimidade absoluta e garantida. Pela minha parte, direi que esta proposta só pecou por tardia, mas que vem muito a tempo, e até, talvez, mais amadurecida, para vir a mobilizar os militantes, simpatizantes e os trabalhadores para esta inevitabilidade, que já está a ser assumida pelos economistas marxistas e os economistas keinesianos e tamém por muitos portugueses que já perceberam que, com uma moeda forte - que não pode servir de esteio a uma política orçamental nacional, independente dos poderes de Bruxelas e do BCE - o crescimento económico do país será sempre fraco e débil, assim aumentando a exposição dos portugueses a mais austeridade, austeridade essa, que teria de passar por fortes desvalorizações dos salários e das pensões e (isto é uma opinião pessoal) pela entrega progressiva dos pilares do Estado Social aos privados. E os lobies dos grupos económicos - ligados às instituições privadas, que gerem hospitais, e às que gerem estabelecimentos do ensino secundário e do ensino universitário, bem como o poderoso lobie das seguradoras – estão à espera que a cereja lhes caia em cima do bolo. Uma proposta recente, que anda por aí, escondida e envergonhada, de tentar mudar o estatuto público da Universidade de Coimbra, para se constituir numa Fundação, é uma das cerejas desse bolo. É que, através das leis, é mais fácil privatizar uma fundação do que uma universidade pública. Esta e outras “manhosices” vão ser a massa com que os privados querem fazer o pão. O Estado Social tem um potencial de negócio enorme, que nenhum grupo económico português iguala em valor. São muitos milhares de milhões de euros, que estão em causa. Mas, além disso, ficariam comprometidos os direitos dos portugueses, em relação à Saúde, à Educação e à Segurança Social.

Em relação ao congresso do PCP, uma palavra final. Este congresso foi o congresso da consagração de Jerónimo de Sousa, como Secretário-Geral do Partido Comunista Português. Um líder de elevado mérito, que conseguiu manter intacta a matriz original do partido. Vai ficar na galeria da História do PCP e na memória dos militantes, dos actuais e dos futuros. Impressiona a sua modéstia e humildade, modéstia e humildade que são apanágio dos grandes líderes.
Alexandre de Castro

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

A verdade de Jerónimo de Sousa no XX Congresso do PCP


APONTAMENTO SOBRE 
O XX CONGRESSO DO PCP

Esta opção, sublinhou o secretário-geral do PCP, no seu discurso de abertura do XX Congresso do partido, passa por "enfrentar o problema da dívida, preparar o país para se libertar do euro, rejeitar as imposições do tratado orçamental e de outros instrumentos, assegurar o controlo público sobre a banca e o setor financeiro".
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Socorrendo-nos da célebre frase de Émile-Auguste Chartier, e adaptando-a à situação, poderemos dizer que Jerónimo de Sousa identificou a mãe de todos os vícios – a colossal dívida do Estado à troika e aos privados – mas também a mãe de todas as virtudes – a saída de Portugal do euro, a ruptura com o Tratado Orçamental e o controlo público sobre banca e o sector financeiro.
Por mais piruetas que os paladinos do europeísmo façam, por mais cantigas de embalar, que entoem, por mais vantagens que apresentem, em relação à construção europeia (cheia de entorses) a realidade acabará, tragicamente, por se impor, se não aparecer um outro Alexandre que, com a sua espada, decepe o nó górdio de Portugal.
Com uma crise demográfica, que vai agravar-se no futuro, e sem investimento público e privado (quem é que quer apostar num país falido - uma falência já instalada, tal como afirmou recentemente Thomas Mayer, ex-economista-chefe do Deutsche Bank), Portugal não conseguirá crescer sustentadamente, nem gerar excedentes para satisfazer compromissos financeiros, o que vai obrigar a alienar a privados o Estado Social (saúde, educação e segurança social), uma opção que, segundo consta, já estará a ser planeada secretamente, com o beneplácito da Alemanha e da Comissão Europeia, e que envolve muitos lobies instalados.
Alexandre de Castro