Cortes catalãs sec. XV |
A
Catalunha será independente…
Inés Arrimadas, a líder parlamentar do
Ciudadanos, partido que se perfila contra a independência da Catalunha, no seu
discurso no Parlamento, no dia em que estava programado que Carles Puigdemont
proferisse a declaração unilateral da independência da Catalunha, ridicularizou
os independentistas, e, para acentuar o verrume, até foi buscar uma frase de um
artigo de 2008, de um outro independentista, o vice-presidente Oriol Junqueras
(da Esquerda Republicana), que dizia: “os catalães têm mais proximidade
genética com os franceses do que com os espanhóis; mais com os italianos do que
com os portugueses e um pouco com os suíços”.
Eu não sei se essa identidade genética dos
catalães com os franceses e os italianos é real. Talvez seja, já que até 1714,
ano em que a anexação da Catalunha pelo reino espanhol se consumou, através de
uma intervenção militar, a Catalunha mantinha um intercâmbio comercial intenso
com a Itália e o sul de França.
Por outro lado, o Condado de Barcelona chegou a
integrar a Sardenha, Sicília, Minorca (nas Ilhas Baleares) e o reino de
Nápoles. Daí que tivesse havido uma miscigenação populacional. Mas mesmo que
esse argumento possa ser rejeitado, devido à ausência de uma objectiva
demonstração científica, será válido recuperar o argumento da identidade
cultural e nacionalista dos catalães. A requintada cultura renascentista entrou
na Península Ibérica pela Catalunha e não por Bayona, no outro extremo dos
Pirenéus, e foi na Catalunha, principalmente em Barcelona, que essa cultura
avançada se entranhou, deixando marcas civilizacionais importantes. Nos séculos
XIV e na primeira metade do século XV, a Catalunha era a fronteira ocidental da
cultura renascentista, e que separava a civilização erudita italianizante da “barbárie"
ibérica, ainda a cheirar a mouros e a visigodos. E o refinamento cultural da
Catalunha constituiu-se sempre no fermento da forte pulsão independentista, que
os néscios de hoje querem ignorar.
Por outro lado, a Catalunha tomou a dianteira no
processo da industrialização, a partir da segunda década do século XIX, o que
lhe garantiu a supremacia económica, na Península Ibérica, supremacia esta que
persiste, nos dias de hoje. É a Catalunha que trabalha para Espanha e não o
contrário.
Perante esta supremacia cultural e económica, no
futuro, vai ser difícil ao governo de Madrid manter as coisas, tal como estão,
pois, uma coisa é certa: os catalães de
gema nunca se reviram na cultura ibérica e, principalmente, na cultura de
Castela. No seu passado, Castela privilegiou mais o culto de guerra e das armas
e a usura da terra pela nobreza, do que o culto das Artes, das Letras, das
Ciências e das Indústrias. O conflito, já secular, entre as duas entidades
culturais e económicas esteve sempre latente, como está ainda hoje.
Como “água mole em pedra dura tanto dá até que
fura”, a independência da Catalunha acabará por acontecer, mais tarde ou mais
cedo. Neste momento, ela apenas foi adiada.
Quem é que, no Portugal salazarento, no dia 24
de Abril de 1974, adivinhava a manhã redentora do dia seguinte. A História dos
povos é feita de saltos bruscos no Tempo e esses saltos vêm sempre, na maior
parte das vezes, de surpresa.
2017 10 13
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