As eleições americanas serão o princípio do fim?
O que eu valorizei mais, nestas eleições dos
EUA, foi a estrondosa derrota do establishment.
Além das elites políticas e económicas americanas, quem também está
verdadeiramente assustado, com a vitória de Trump, são os dirigentes políticos
dos países da ortodoxia neoliberal, aliados do império, e que já estão a ver o
poder a fugir-lhes debaixo dos pés. Foi confrangedor ouvir e ver Holland, no
seu discurso de felicitações (a fazer fisgas) ao novo presidente dos EUA, que
mais parecia um discurso fúnebre, da assumpção da derrota, numas eleições francesas.
Trump, como elemento off side do sistema, baralhou o jogo do discurso do politicamente
correcto, ao falar para todos aqueles americanos, que já não se reviam no
sistema do bipartidarismo instituído, e que os impedia de aceder a uma vida
digna. A população branca americana, marginalizada e pobre, descobriu, nestas
eleições, um processo de dar uma grande machadada nas elites da política, da
economia e das do mundo académico, que sempre a ignoraram, não optando, agora,
pela clássica abstenção, mas votando em Donald Trump. Assim, Donald Trump seria
o elefante, que iria entrar numa loja de porcelanas.
É certo que Trump é um populista perigoso e a
sua eleição lembra-me a eleição de Hitler, como chanceler, que centrou o seu
discurso na xenofobia, no antissemitismo e na restauração do orgulho germânico,
humilhado em Versalhes.
De qualquer forma, não deixo de recorrer ao
paradigma da História: os impérios nascem, crescem, atingem o firmamento na
idade adulta, envelhecem e morrem. E o império americano e os seus apêndices
ocidentais já estão, de forma acelerada, a envelhecer. Não sei se será Trump,
que, inadvertidamente, lhes dará a machadada final. No entanto, uma coisa é
certa: as contradições do imperialismo já são enormes e não têm solução à vista
(a crise da dívida e do euro já dura há seis anos - são muitos anos - e uma nova
crise financeira mundial está prevista para breve).
O Brexit constituiu o primeiro alarme, a
evidenciar o desconforto de grande parte do eleitorado, em relação ao sistema, principalmente
o oriundo da classe média. E, possivelmente, outras hecatombes eleitorais irão
ocorrer brevemente na Europa (França, Itália e Alemanha).
Será o princípio do fim?
Alexandre
de Castro
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