Uma premonição sobre o fim da União
Europeia
Se
é verdade que a economia do Reino Unido precisa da Europa, não é menos verdade
que a economia europeia também precisa do Reino Unido. E também é verdade que,
a David Cameron, a ideia de convocar um referendo, sobre a permanência da Grã-Bretanha
na UE, não lhe surgiu de repente, quando ele, numa certa manhã, no início de
2015, em que se preparava para obter o seu segundo mandato, como primeiro-ministro,
estava a olhar para o espelho, a barbear-se. Esta ideia já lhe bailava na cabeça,
quando, quatro antes, e sob a sua égide, a Grã-Bretanha recusou assinar o Pacto
Orçamental (Tratado sobre a Estabilidade, Coordenação e Governação na
UEM).
E
nem sequer se poderá acreditar que estas duas importantes decisões, contra a
Europa, tivessem sido tomadas por um capricho individual ou devido a uma sua
exacerbação ideológica anti europeísta. Não... Essa era a vontade dos donos da
City (o conglomerado do grande e poderoso capital financeiro).
Londres
percebeu, desde os primórdios da fundação da UE, que não podia ser potência
dominante num espaço, que era ferreamente controlado por Berlim e Paris. E se
aderiu à UE, pelas mãos de Margaret Thatcher, foi porque a UE teve de fazer
muitas cedências e concessões (algumas delas verdadeiramente escandalosas).
Mas,
com o incontestável crescimento da França e, principalmente, da Alemanha, à
custa dos outros países da UE, a Grã-Bretanha, no futuro próximo, iria acabar
por vir a perder importância estratégica, a nível internacional. A City tinha
de fazer alguma coisa, para se salvar do declínio. E escolheu-se uma estratégia
secreta de afrontamento camuflado. Se a Grã-Bretanha não pode combater a
Alemanha por dentro, a opção é combatê-la, tendo um pé dentro e o outro fora,
que é como ela está agora, após o referendo, e será assim que irá continuar, por
alguns anos, com a Grã-Bretanha a adiar constantemente e sucessivamente o acionamento
do artigo 50º do Tratado de Lisboa - a fim de formalizar o pedido de saída da EU
- e fazendo exigências exorbitantes que a Alemanha não poderá aceitar, para não
perder a face, e também porque não quer perder o seu domínio imperial sobre uma
dócil Europa (até ver), que a não tem incomodado.
Além
disso, a Grã-Bretanha lançou o seu ataque no momento certo, o momento de uma
maior fragilidade da UE, atascada em crises sucessivas, e onde, em alguns
países, começam a emergir forças centrífugas, que irão ganhar alento com a
posição da Grã-Bretanha, e até tornarem-se suas aliadas, no seio da UE.
A
Grã-Bretanha vai jogar forte e feio na desagregação da UE, deixando que as
intermináveis negociações comecem a minar a confiança dos governos, dos
políticos, dos investidores e dos cidadãos. Regressa-se, assim, ao ambiente
político que gerou a Primeira Guerra Mundial, em que o objecto da disputa se concentrava
na posse de territórios ultramarinos, que a Alemanha não possuía, mas de que
necessitava.
Entretanto,
a situação económica dos dois lados, em conflito político, irá agravar-se, naturalmente.
Não há partos sem dor. Talvez com mais prejuízos para a UE, que terá grandes
dificuldades em encontrar plataformas comuns de entendimento sobre os caminhos
a seguir e em gerar consensos entre os vários governos dos países, que a
compõem, até porque esses governos vão começar a ter de enfrentar-se com uma
opinião pública hostil e com uma grande agitação social, que todas as crises
fazem emergir. Por outro lado, o sentimento anti germânico irá recrudescer em
espiral, motivando os partidos anti europeístas a pedir a realização de
referendos.
Neste
quadro de confusão, a França poderá vir a dar o golpe mortal na UE, se Marie Le
Pen ganhar as próximas eleições.
Uma
coisa é certa: será a Grã-Bretanha a ter a chave na mão, nestas negociações
preliminares, e será o governo de Sua Majestade que irá comandar o seu ritmo e
prioridades. Aliás já se percebeu o nervosismo dos dirigentes europeus, que já
estão a ver o chão fugir-lhes debaixo
dos pés.
Nesta
análise (ou será mais uma tese de conspiração?), fica-se sem saber qual vai ser
o comportamento dos EUA e da Rússia.
Os
EUA têm quase terminado o tal secreto TTIP (Transatlantic Trade and Investment
Partnership) com a Comissão Europeia, que ainda precisa de ser aprovado pelo
Conselho Europeu e pelo Parlamento Europeu. Trata-se de um tratado (tanto
quanto se sabe) que é um autêntico Cavalo de Troia, pois vem dar mão livre às multinacionais
americanas, em solo europeu, como se fossem verdadeiras companhias majestáticas
e que vem sonegar direitos aos trabalhadores europeus, entre outras
malfeitorias, que ainda não são conhecidas. Com uma Europa em ebulição política,
e a viver um período de crispação, será difícil a conclusão do processo. E
ainda bem…
Quanto
à Rússia, se a evolução e as conveniências estratégicas assim o determinarem,
alinhará com a Grã-Bretanha, a quem, até, poderá compensar os efeitos de
algumas das perdas comerciais dos britânicos com a Europa, começado a importar
muitos dos seus produtos.
Não
nos esqueçamos que o país de Sua Majestade ganhou os mares em Trafalgar e
venceu Napoleão em Waterloo. E a Armada Invencível e os exércitos napoleónicos
eram temíveis!
E
a Alemanha perdeu as duas guerras que, no século XX, desencadeou na Europa. E o
Kaiser Guilherme II e Hitler também eram temíveis e considerados invencíveis.
Alexandre de Castro
2016 07 06
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