Estas são as "malhas que o Império
tece" (*)
Os
portugueses escreveram na História uma página bem negra, ao levantarem do chão
de África o gigantesco mercado global da escravatura.
Marcados
a ferro e fogo, como gado, os escravos eram encurralados nos negreiros, que os
levariam para o Brasil e para as Américas. Mais de metade morria de doença, na
dolorosa viagem, sem regresso. Muitos morriam de saudade.
Os
que chegavam, acorrentados ao ferro de um cruel destino, eram vendidos em
leilão, na praça pública, e tratados como animais domésticos.
Desapossados de tudo,
principalmente da sua dignidade, quando morriam, apenas deixavam à sua
descendência, como herança, a sua humilde condição: a condição de escravo,
em mercadoria transformado.
Portugal
ainda não fez a catarse. Ainda não fez tudo, para se redimir desta dor, que do
Império nasceu, e que na escuridão dos porões, caminhou pelos mares, lado a
lado, com a incandescência da glória, ostentada pela cruz e pela espada, nos
pendões pendurados nos mastros das caravelas.
Estas
são as "malhas que o Império tece".
Alexandre
de Castro
09 JUL 2016
***«»***
(*)
Texto escrito, a propósito da inauguração
do primeiro memorial da escravatura, em Cacheu, no norte da Guiné-Bissau (Ver aqui), e onde vão ficar guardados vários artefactos, relacionados com o tema:
colheres de cozinha, tachos, chicotes e ferros que, depois de ficarem em brasa, pelo lume, serviam para marcar os
escravos.
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