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segunda-feira, 23 de novembro de 2020

 


ERA QUATERNÁRIA

 

Olho aquele sílex desta era, 
a Quaternária,
moldado por aquela mão rugosa,
de nervos e veias em relevo,
que, enfim,
uniu o polegar aos outros dedos ...
A gruta guardou a escuridão do tempo,
no silêncio cortante de arestas,
e o sílex  rasgou a pedra
em riscos imberbes da primeira infância,
pela mão do homem
que, balbuciando preces
à luz, ao sol e ao trovão,
estremeceu aos vagidos de cada alvorada
Bípede, ergueu-se na altivez
da coluna erecta ...
Façanha única!...
Foi daquela mão talhando a pedra
que nasceu o inacabado poema
que a humanidade escreveu.

                                       Alexandre de Castro
 
Lisboa, Maio de 1991

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