Nem será tanto a glorificação do esplendor do
nu, aquilo que o autor nos propõe. Talvez o mais importante, em termos de
técnica pictórica, seja a subtil precisão da captação do movimento do “instante”,
entre a formulação gestual de um pedido e a expressão terna da sua recusa. É
esta impressão da ideia de movimento, a animar duas estáticas figuras humanas,
que a pintura ganha grandeza e notoriedade. Tracemos várias rectas paralelas imaginárias, a partir do ombro e da cabeça da criança, até à esfera translúcida e até à cabeça da mulher, e aí descobriremos o “truque” do autor. É nesse espaço que se
concentra a força da representação do movimento com que a pintura ganha vida. É
este, pois, o ponto central da pintura, o seu eixo estruturante, uma pintura que
se enquadra no cânone da corrente artística do Realismo.
Para provocar um maior deslumbramento no
espectador, mas assumindo o risco de não poder errar na descrição anatómica
figurativa, o que seria fatal, o autor opta por preencher todo o iluminado
espaço do primeiro plano com as duas figuras humanas, deixando difuso e
escurecido, intencionalmente, o plano de fundo. O efeito, em termos de conjunto,
é notável. O nu atinge o seu máximo esplendor, ao mesmo tempo que o espectador
é envolvido num ambiente aristocrático, aqui identificado e sinalizado, de uma
forma discreta, pelo mármore da balaustrada e do peitoril da varanda.
Em 1895, data da execução desta pintura, a
corrente do Realismo, na literatura e nas artes, aproximava-se do fim. A
seguir, iria assistir-se à grande revolução do modernismo, nas suas múltiplas
expressões, em que se abandona a ideia da representação e da captação do mundo
real. As artes passarão a ser comandadas pela “febril” e criativa imaginação
dos seus autores e pela descoberta de novas formas e de novas leituras.
AC
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