Os nomes
estavam escolhidos e os convites feitos. Mas a oposição do cirurgião obrigou
Adalberto Campos a passar ao plano B na nomeação dos novos responsáveis
hospitalares.
O cirurgião Eduardo Barroso obrigou o ministro
da Saúde a segundas escolhas no convite que tinha feito para substituir a
direção do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC). Teresa Sustelo
apresentou a demissão em dezembro, juntamente com outros responsáveis de saúde
da Grande Lisboa, na sequência da morte de um jovem de 29 anos enquanto
aguardava por uma cirurgia no Hospital de São José, mas as objeções do médico
levaram Francisco Ramos a recusar o convite de Adalberto Campos Fernandes.
Os momentos deste filme a cinco tempos – escolha
de nomes, convite, objeção, recusa e segundas escolhas – passam-se entre os
últimos dias de 2015 e a primeira semana e meia de 2016.
Os convites Dois dias antes do Natal, os
presidentes da Administração_Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo
(ARSLVT), do Centro Hospitalar de Lisboa Norte e do CHLC apresentaram a sua
demissão em bloco – estavam todos em final de mandato e, com a morte de David
Duarte a ecoar na comunicação social, decidiram afastar-se de imediato.
Cerca de uma semana depois, o ministro liga a
Francisco Ramos, atual presidente do IPO de Lisboa, e convida-o para o lugar de
Teresa Sustelo na direção do CHLC. Para o lugar de Luís Cunha Ribeiro na
direção da ARSLVT, Adalberto Campos Fernandes terá escolhido Rosa Zorrinho
(mulher do eurodeputado socialista Carlos Zorrinho e atual presidente do
conselho de administração da Saudaçor).
Depois de receber o convite do ministro,
Francisco Ramos começou a preparar a sua equipa. E para a direção clínica do
centro hospitalar, o médico convidou Isabel Fragata. Foi aí que o conselheiro
do ministro interveio.
Ameaças de demissão Ao i, o cirurgião
limita-se a dizer que “é preciso confiar nas escolhas do sr. ministro”. Eduardo
Barroso recusa fazer comentários sobre os nomes apontados por Francisco Ramos,
mas admite que o seu esteve na lista de opções a considerar: “Eu próprio fui
convidado para diretor clínico do centro hospitalar.”
Quando a opção foi outra, Eduardo Barroso,
diretor do Centro Hepatobiliopancreático e de Transplantação do Hospital Curry
Cabral, terá ameaçado demitir-se. “O dr. Eduardo Barroso achou que eu não
merecia ser diretora clínica do hospital, possivelmente porque pensou que,
sendo eu uma mulher de decisão, poderia mexer nos serviços e ameaçar o seu
statu quo”, diz ao i Isabel Fragata, atual diretora do serviço de
anestesiologia e dos blocos centrais.
A posição de Barroso terá sido de tal forma
intransigente que, passados poucos dias de apresentar o convite a Isabel Fraga,
Francisco Ramos volta a ligar--lhe para retirar a proposta.
As consequências não ficaram por aí: o próprio
diretor do IPO decidiu recusar o convite do ministro Adalberto Fernandes. De
acordo com o jornal digital “Observador”, a (segunda) escolha do governante
para a direção do CHLC acabou por recair sobre Ana Escoval. Para o lugar que
caberia a Isabel Fragata, Escoval terá chamado Sousa Guerreiro.
O i não conseguiu obter uma posição de Francisco
Ramos. Apesar de garantir que não tem “ambições políticas”, Isabel Fragata não
esconde a “mágoa” com o episódio, ao mesmo tempo que se mostra surpresa com o
facto de, “num Estado de direito, o dr. Eduardo Barroso poder influenciar
decisões desta maneira”.
Isabel Fragata não aponta razões para o bloqueio
levantado por Barroso ao seu nome. Mas o marido, José Fragata, também ele
cirurgião e diretor da unidade de cirurgia cardiotorácica do Hospital de Santa
Marta, em Lisboa, não nega uma certa “rivalidade” que existirá entre os dois
cirurgiões. E considera mesmo que a posição “tentacular” de Eduardo Barroso “é
um problema que o Estado de direito devia atacar de frente”.
***«»***
O actual ministro da Saúde já foi alvo de uma
acusação, por parte do vice presidente da Federação Nacional dos Médicos
(FNAM), o médico Mário Jorge, por ter
um plano de reforma para o Serviço Nacional de Saúde, inspirado no modelo que
Margaret Thatcher aplicou, nos anos oitenta, na Grã Bretanha, e que
descaracterizou o Serviço de Saúde daquele país, até ali exemplar, ao ponto de
ter inspirado os modelos aplicados em vários países europeus, incluindo
Portugal. Agora, vemo-lo, numa atitude de cobardia política, a vergar-se ao
poderoso lobie maçónico, onde os notáveis do PS têm assento. Ao recuar, na sua
decisão, obedecendo à voz ameaçadora de um troglodita, o ministro da Saúde
mostrou não ter o perfil adequado para ocupar o seu cargo. Espero que se
demita.
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