Resposta a um leitor, que, em relação a um meu
comentário, deixado na revista VISÃO, afirmou: [Tenha em mente, "os
mercados que nos governam" e emprestam dinheiro para pagar a nossa divida
crónica. Goste ou não, é a realidade].
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"Os mercados que nos governam" eram os
credores de uma gigantesca dívida pública da Alemanha, gerada pelas pesadas
indemnizações de guerra, exigidas pelos países vencedores das duas guerras
mundiais. Essa dívida da Alemanha foi renegociada e reestruturada em 1953, em Londres (ver aqui), o que levou os credores a
perdoar metade do respectivo montante, a diminuir a taxa de juro e a alargar as
maturidades (a Grécia até ficou a arder, pois a Alemanha deixou de
pagar-lhe o que estava estipulado e até, recentemente, a "Hitler de
saias" recusou a retoma do seu pagamento, da parte que estava em falta, o que ilustra bem como
ela leva muito a sério o respeito pelos sagrados compromissos internacionais,
tão endeusados pelo actual bacoco do Palácio de Belém). Se a Europa quer ajudar
Portugal, a Grécia e, agora, também o Chipre (de quem ninguém fala), tal como a
propaganda da direita alardeava em 2011, não sei como não é possível replicar o
método com as dívidas soberanas destes três países. "Tenha isto em
mente", s.f.f.
Por outro lado, imagine-se que Portugal tinha
uma moeda nacional, com um valor monetário, alinhado com a produtividade da sua
economia. Essa moeda teria um valor de cerca de um terço do valor do euro (lá
se ia o BMW e o Mercedes, topo de gama). O que acontecia: A competitividade da
economia subia, promovendo as exportações, e as importações diminuíam. O saldo
comercial com o exterior passaria a ser francamente positivo, permitindo
amealhar divisas estrangeiras, de valor significativo. É claro que, nos
primeiros três anos, a "coisa" ia doer. Mas doía a todos,
proporcionalmente, e não apenas a alguns, como aconteceu com a aplicação das
calculistas políticas de austeridade da sinistra parelha Passos/Paulo Portas,
acolitados pelo não menos sinistro ministro das Finanças, Vitor Gaspar, de má
memória (que, posteriormente, até foi premiado com um alto cargo no FMI). Este
período de constrangimento seria, pois, de curta duração, uma vez que a
economia iria crescer sustentadamente, a caminho da retoma e valorizando
progressivamente a moeda, sempre de acordo com a taxa de produtividade da
economia. O desemprego teria diminuído, o investimento interno aumentado, os
salários e as pensões melhorados e haveria mais recursos para a Saúde, para
Educação e para a Segurança Social, os três pilares do Estado Social.
Ao traçar este cenário, não estou a inventar
nada. Este modelo económico, ressalvando as diferenças impostas por outras
realidades condicionantes, foi aplicado com sucesso na grande crise financeira
de 1893/95, em que Portugal estava afogado por uma colossal dívida à
Inglaterra, acumulada durante os cinquenta anos anteriores, devido ao esforço
de construir as infraestruturas para a industrialização do país. Um dos
mentores e executantes dessa política foi Ferreira Leite, o bisavô de Manuela
Ferreira Leite. "Tenha em mente isto", s.f.f.
Imagine-se também que, em paralelo com o cenário
anterior, se procedia à nacionalização dos bancos, sem indemnizações. Aquele
argumento, utilizado até à exaustão, quando da sua privatização, na década de
oitenta do século passado, que dizia que os privados geriam melhor os bancos do
que o Estado, já caiu por terra. A boa gestão bancária, por privados, ficou
amplamente demonstrada nos casos BPP, BPN, Millenium, Espírito Santo e BANIF e,
também será demonstrada nos casos que virão a seguir. Com a nacionalização da
banca, acabava-se de vez com a especulação bolsista, cujos ganhos não chegam à
economia real, e também com a "teta" dos offshors e de todas as outras
criativas formas, para proceder à imoral exportação de capitais. Os lucros
proporcionados pelos créditos dos bancos nacionalizados, concedidos ao próprio
Estado, às empresas e às famílias, serviriam para o Estado investir nas infra
estruturas de apoio ao desenvolvimento económico. Tenha em mente também isto.
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