Seis meses de geringonça, modo
de usar
O
que está a correr pior é, sem surpresa, a economia. Porque sucedeu exactamente
o contrário do prometido. O ritmo de crescimento económico abrandou. Não foram
criados empregos, antes foram destruídos postos de trabalho. O investimento
estancou. E o consumo, o prometido “motor” da retoma, não dá suficientes sinais
de vida.
José
Manuel Fernandes
In Observador
***«»***
Aplique
José Manuel Fernandes os mesmos critérios de análise política e o mesmo perfil
de elementos estatísticos aos quatro anos de governação PSD/CDS e compreenderá
quem é que destruiu a economia, quem é que promoveu o desemprego e a emigração
dos jovens e quem é que golpeou a Educação e o Serviço Nacional de Saúde. E,
pelo caminho, talvez fosse interessante olhar para os números da Dívida
Pública, contraída através do Memorando de Entendimento com a Troika, que o PSD
estimulou e também alegremente subscreveu.
Esquece-se
José Manuel Fernandes que a maioria das medidas adoptadas pelos governos tem
efeitos a médio e longo prazo e que os resultados recolhidos das estatísticas,
referentes aos quatro meses deste ano, são consequência do desastre provocado
pela governação da coligação de direita, durante quatro anos. Ou não será
assim?...
Comentário que deixei no Observador.
***
Comentário posterior
Acabei
de ler o Macroscópio de hoje, de José Manuel Fernandes. Tal como neste artigo,
"Seis meses de geringonça...", ele volta ao delírio das estatísticas,
aplicando-lhes o seu olhar enviesado e feroz, o que o leva a torcer e a
retorcer os números, para que eles reflictam o que a sua "partidite"
reclama. Se houvesse da sua parte mais isenção e se, previamente, ele
consultasse os dados estatísticos do Eurostat, chegaria facilmente à conclusão
que todos os países do euro, com uma ou duas excepções, viram as suas
exportações a diminuir, contrariando as previsões, assim como aconteceu aos
números do PIB. É preciso considerar que houve uma diminuição da procura
global, e, no caso português, e para sermos justos e isentos, temos de
considerar que as exportações de Portugal se ressentiram com a queda da procura
da economia de Angola, que hoje se debate com a baixa do preço de petróleo, o
pulmão da sua economia.
Esta
modalidade de ler as estatísticas, sem as contextualizar com as envolventes
externas, faz-me lembrar o que se passou com a evolução das taxas de juro da
Dívida Pública. A partir do início de 2014, e depois de uma subida em flecha,
os juros começaram a baixar ao mesmo ritmo com que subiram. Logo os arautos das
verdades definitivas, os comentadores direitinhas (não sei se JMF foi um deles)
desataram, em júbilo, a cantar hossanas ao governo de Passos Coelho, para, numa
manobra de ilusionismo, tirarem da cartola o argumento conclusivo de que a
acção do governo estava a ser positiva e que os sacrifícios impostos aos
portugueses estavam a dar resultados. Os incautos, os distraídos e os
ignorantes acreditaram. No entanto, os mais atrevidos e os mais curiosos não se
conformaram com o laconismo dos irmãos e primos políticos de JMF e descobriram
a marosca. Olharam para o que se passava com os juros das dívidas de Espanha,
Itália, Grécia e Irlanda. Todas elas, embora com valores diferentes, tinham o
mesmo perfil evolutivo, o mesmo percurso paralelo. Em gráfico, as curvas
respeitantes a cada país considerado tinham a forma de uma campânula, com o seu
vértice na mesma linha vertical, o que quer dizer que elas começaram a descer
ao mesmo tempo, evidenciando o mesmo paralelismo, verificado na subida. Conclusão:
a descida dos juros da dívida soberana portuguesa teve a ver, essencialmente,
com a envolvente externa, no caso, as manobras especulativas dos investidores
nas bolsas de valores, e muito pouco com os cantados méritos do governo.
A
saga prossegue agora com o PIB e o défice. O método de iludir a realidade é o
mesmo. Nada há a fazer para nos livrarmos da intoxicação mediática.
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