Bruxelas
pode impor aos Estados políticas orçamentais absurdas, para depois os condenar
pelo insucesso das medidas de que ela é a principal responsável! É um absurdo
político e uma realidade moralmente revoltante.
Viriato Soromenho Marques
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Em apoio à tese de Viriato Soromenho Marques, deixei, no Diário de Notícias o seguinte comentário.
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Sem
dúvida alguma. As instituições da troika (UE/FMI/BCE) têm de assumir a
responsabilidade do fracasso do modelo de resgate aplicado à Grécia e a
Portugal. Aceitaram os programas das medidas de austeridade, que os governos
lhe apresentaram, em troca do resgate (no caso português, essas medidas até foram para "além da
troika", vangloriou-se Passos Coelho), deram o seu aval à sua progressiva
implementação, nas várias avaliações trimestrais efectuadas, dando nota
positiva a todo o processo, e manifestaram-se satisfeitas no final do programa. No entanto, em
Portugal, o ano de 2015, o último da governação da coligação de direita, correu
muito mal e, parece, deitou tudo a perder. Subitamente, os papagaios da direita
deixaram de poder dizer que Portugal não era a Grécia, comparação esta que
nunca perfilhei, pois sempre pensei e disse que Portugal seguiria
"irrevogavelmente" o caminho acidentado e trágico da Grécia, só que
estava um ano a ano e meio atrasado.
Agora,
aquelas instituições lavam as mãos como Pilatos, em relação ao que supervisionaram e sancionaram, e vêm, em tom de ameaça, insistir na aplicação da
mesma receita, que, como se constata, não deu resultado no passado recente.
Mas,
se as instituições da troika não dão a mão à palmatória, também a comunicação
social, na sua maior parte constituída em vanguarda da direita política, está a
tentar uma manobra de diversão, querendo fazer passar, de uma forma subtil e
implícita, de que a culpa do desastre de 2015 é da responsabilidade do governo de
António Costa e da coligação de esquerda que o sustenta.O caso mais flagrante
foi um artigo do Director do Observador, José Manuel Fernandes (JMF), que pegou
em todos os índices macro económicos das estatísticas do INE, relativas ao 1º
trimestre deste ano, para concluir, do alto da sua sapiência, que o governo de
António Costa era inepto e incompetente, quando se sabe que, naquele curto
período de tempo, o governo não teve a oportunidade (nem podia tê-la) de tomar
medidas de fundo, pois o Orçamento de Estado de 2016, onde essas medidas se
encontram inseridas, foi aprovado em finais daquele trimestre. Que se saiba, o
orçamento não produz efeitos retroactivos.
Este
artigo de JMF é bem o exemplo típico do mau jornalismo (principalmente o
jornalismo de opinião) que campeia em Portugal, em que os órgãos de informação,
além de servirem de caixa de ressonância dos partidos da direita, promovem
campanhas bem orquestradas de intoxicação mediática.
Alexandre
Lopes de Castro
Jornalista (C.P 5907)
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