domingo, 24 de janeiro de 2016
O abraço mortal do "euro" e o impasse da economia portuguesa...
Resposta a um leitor, que, em relação a um meu
comentário, deixado na revista VISÃO, afirmou: [Tenha em mente, "os
mercados que nos governam" e emprestam dinheiro para pagar a nossa divida
crónica. Goste ou não, é a realidade].
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"Os mercados que nos governam" eram os
credores de uma gigantesca dívida pública da Alemanha, gerada pelas pesadas
indemnizações de guerra, exigidas pelos países vencedores das duas guerras
mundiais. Essa dívida da Alemanha foi renegociada e reestruturada em 1953, em Londres (ver aqui), o que levou os credores a
perdoar metade do respectivo montante, a diminuir a taxa de juro e a alargar as
maturidades (a Grécia até ficou a arder, pois a Alemanha deixou de
pagar-lhe o que estava estipulado e até, recentemente, a "Hitler de
saias" recusou a retoma do seu pagamento, da parte que estava em falta, o que ilustra bem como
ela leva muito a sério o respeito pelos sagrados compromissos internacionais,
tão endeusados pelo actual bacoco do Palácio de Belém). Se a Europa quer ajudar
Portugal, a Grécia e, agora, também o Chipre (de quem ninguém fala), tal como a
propaganda da direita alardeava em 2011, não sei como não é possível replicar o
método com as dívidas soberanas destes três países. "Tenha isto em
mente", s.f.f.
Por outro lado, imagine-se que Portugal tinha
uma moeda nacional, com um valor monetário, alinhado com a produtividade da sua
economia. Essa moeda teria um valor de cerca de um terço do valor do euro (lá
se ia o BMW e o Mercedes, topo de gama). O que acontecia: A competitividade da
economia subia, promovendo as exportações, e as importações diminuíam. O saldo
comercial com o exterior passaria a ser francamente positivo, permitindo
amealhar divisas estrangeiras, de valor significativo. É claro que, nos
primeiros três anos, a "coisa" ia doer. Mas doía a todos,
proporcionalmente, e não apenas a alguns, como aconteceu com a aplicação das
calculistas políticas de austeridade da sinistra parelha Passos/Paulo Portas,
acolitados pelo não menos sinistro ministro das Finanças, Vitor Gaspar, de má
memória (que, posteriormente, até foi premiado com um alto cargo no FMI). Este
período de constrangimento seria, pois, de curta duração, uma vez que a
economia iria crescer sustentadamente, a caminho da retoma e valorizando
progressivamente a moeda, sempre de acordo com a taxa de produtividade da
economia. O desemprego teria diminuído, o investimento interno aumentado, os
salários e as pensões melhorados e haveria mais recursos para a Saúde, para
Educação e para a Segurança Social, os três pilares do Estado Social.
Ao traçar este cenário, não estou a inventar
nada. Este modelo económico, ressalvando as diferenças impostas por outras
realidades condicionantes, foi aplicado com sucesso na grande crise financeira
de 1893/95, em que Portugal estava afogado por uma colossal dívida à
Inglaterra, acumulada durante os cinquenta anos anteriores, devido ao esforço
de construir as infraestruturas para a industrialização do país. Um dos
mentores e executantes dessa política foi Ferreira Leite, o bisavô de Manuela
Ferreira Leite. "Tenha em mente isto", s.f.f.
Imagine-se também que, em paralelo com o cenário
anterior, se procedia à nacionalização dos bancos, sem indemnizações. Aquele
argumento, utilizado até à exaustão, quando da sua privatização, na década de
oitenta do século passado, que dizia que os privados geriam melhor os bancos do
que o Estado, já caiu por terra. A boa gestão bancária, por privados, ficou
amplamente demonstrada nos casos BPP, BPN, Millenium, Espírito Santo e BANIF e,
também será demonstrada nos casos que virão a seguir. Com a nacionalização da
banca, acabava-se de vez com a especulação bolsista, cujos ganhos não chegam à
economia real, e também com a "teta" dos offshors e de todas as outras
criativas formas, para proceder à imoral exportação de capitais. Os lucros
proporcionados pelos créditos dos bancos nacionalizados, concedidos ao próprio
Estado, às empresas e às famílias, serviriam para o Estado investir nas infra
estruturas de apoio ao desenvolvimento económico. Tenha em mente também isto.
quarta-feira, 20 de janeiro de 2016
Vem aí o segundo resgate...
Commerzbank:
“Portugal é a nova criança problemática” da zona euro
De "bom aluno" para a "nova
(velha) criança problemática" da zona euro. Os economistas do influente
Commerzbank dizem que Portugal arrisca ver-se na mesma situação da Grécia. Um
relatório demolidor.
O novo Governo português está a levar a cabo uma
“mudança fundamental da política” que levará a um aumento da dívida e
a uma erosão da competitividade. Num relatório demolidor, o influente
banco alemão Commerzbank diz que rapidamente a situação portuguesa
pode evoluir para algo muito parecido ao que viveu a Grécia no último verão. Se
o rating da agência DBRS cair, Portugal deixará de contar com o
respaldo decisivo das compras de dívida por parte do BCE. A menos que peça um
novo resgate, nota o banco alemão.
***«»***
Ainda, sem sequer António Costa ter começado a
fazer verdadeiramente a sua revoluçãozinha doméstica, e já o buldózer da
Alemanha, qual infernal máquina trituradora, arrancou em força, a fazer a
contra-revolução.
É claro que os mercados (que nos governam) vão
ficar nervosos, não por terem percepcionado anomalias graves na economia
portuguesa e nas suas finanças públicas, mas sim pelo efeito perverso desta
notícia e de outras semelhantes, que irão ser replicadas e ampliadas pela
comunicação social e por uma caterva de comentadores no activo e na reserva,
até que a cabala seja tomada como verdade absoluta. A intenção conspirativa e
sabotadora é evidente. O cerco a Portugal começa a ser montado, ou seja, a
exigência de um segundo resgate. O circo vem depois. A Grécia já vem a caminho.
Tal como disse, já várias vezes, Portugal está atrasado, em relação à Grécia,
apenas um ano, ano e meio.
Polémica na saúde com Eduardo Barroso a bloquear nomeações do ministro para centro hospitalar
Os nomes
estavam escolhidos e os convites feitos. Mas a oposição do cirurgião obrigou
Adalberto Campos a passar ao plano B na nomeação dos novos responsáveis
hospitalares.
O cirurgião Eduardo Barroso obrigou o ministro
da Saúde a segundas escolhas no convite que tinha feito para substituir a
direção do Centro Hospitalar de Lisboa Central (CHLC). Teresa Sustelo
apresentou a demissão em dezembro, juntamente com outros responsáveis de saúde
da Grande Lisboa, na sequência da morte de um jovem de 29 anos enquanto
aguardava por uma cirurgia no Hospital de São José, mas as objeções do médico
levaram Francisco Ramos a recusar o convite de Adalberto Campos Fernandes.
Os momentos deste filme a cinco tempos – escolha
de nomes, convite, objeção, recusa e segundas escolhas – passam-se entre os
últimos dias de 2015 e a primeira semana e meia de 2016.
Os convites Dois dias antes do Natal, os
presidentes da Administração_Regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo
(ARSLVT), do Centro Hospitalar de Lisboa Norte e do CHLC apresentaram a sua
demissão em bloco – estavam todos em final de mandato e, com a morte de David
Duarte a ecoar na comunicação social, decidiram afastar-se de imediato.
Cerca de uma semana depois, o ministro liga a
Francisco Ramos, atual presidente do IPO de Lisboa, e convida-o para o lugar de
Teresa Sustelo na direção do CHLC. Para o lugar de Luís Cunha Ribeiro na
direção da ARSLVT, Adalberto Campos Fernandes terá escolhido Rosa Zorrinho
(mulher do eurodeputado socialista Carlos Zorrinho e atual presidente do
conselho de administração da Saudaçor).
Depois de receber o convite do ministro,
Francisco Ramos começou a preparar a sua equipa. E para a direção clínica do
centro hospitalar, o médico convidou Isabel Fragata. Foi aí que o conselheiro
do ministro interveio.
Ameaças de demissão Ao i, o cirurgião
limita-se a dizer que “é preciso confiar nas escolhas do sr. ministro”. Eduardo
Barroso recusa fazer comentários sobre os nomes apontados por Francisco Ramos,
mas admite que o seu esteve na lista de opções a considerar: “Eu próprio fui
convidado para diretor clínico do centro hospitalar.”
Quando a opção foi outra, Eduardo Barroso,
diretor do Centro Hepatobiliopancreático e de Transplantação do Hospital Curry
Cabral, terá ameaçado demitir-se. “O dr. Eduardo Barroso achou que eu não
merecia ser diretora clínica do hospital, possivelmente porque pensou que,
sendo eu uma mulher de decisão, poderia mexer nos serviços e ameaçar o seu
statu quo”, diz ao i Isabel Fragata, atual diretora do serviço de
anestesiologia e dos blocos centrais.
A posição de Barroso terá sido de tal forma
intransigente que, passados poucos dias de apresentar o convite a Isabel Fraga,
Francisco Ramos volta a ligar--lhe para retirar a proposta.
As consequências não ficaram por aí: o próprio
diretor do IPO decidiu recusar o convite do ministro Adalberto Fernandes. De
acordo com o jornal digital “Observador”, a (segunda) escolha do governante
para a direção do CHLC acabou por recair sobre Ana Escoval. Para o lugar que
caberia a Isabel Fragata, Escoval terá chamado Sousa Guerreiro.
O i não conseguiu obter uma posição de Francisco
Ramos. Apesar de garantir que não tem “ambições políticas”, Isabel Fragata não
esconde a “mágoa” com o episódio, ao mesmo tempo que se mostra surpresa com o
facto de, “num Estado de direito, o dr. Eduardo Barroso poder influenciar
decisões desta maneira”.
Isabel Fragata não aponta razões para o bloqueio
levantado por Barroso ao seu nome. Mas o marido, José Fragata, também ele
cirurgião e diretor da unidade de cirurgia cardiotorácica do Hospital de Santa
Marta, em Lisboa, não nega uma certa “rivalidade” que existirá entre os dois
cirurgiões. E considera mesmo que a posição “tentacular” de Eduardo Barroso “é
um problema que o Estado de direito devia atacar de frente”.
***«»***
O actual ministro da Saúde já foi alvo de uma
acusação, por parte do vice presidente da Federação Nacional dos Médicos
(FNAM), o médico Mário Jorge, por ter
um plano de reforma para o Serviço Nacional de Saúde, inspirado no modelo que
Margaret Thatcher aplicou, nos anos oitenta, na Grã Bretanha, e que
descaracterizou o Serviço de Saúde daquele país, até ali exemplar, ao ponto de
ter inspirado os modelos aplicados em vários países europeus, incluindo
Portugal. Agora, vemo-lo, numa atitude de cobardia política, a vergar-se ao
poderoso lobie maçónico, onde os notáveis do PS têm assento. Ao recuar, na sua
decisão, obedecendo à voz ameaçadora de um troglodita, o ministro da Saúde
mostrou não ter o perfil adequado para ocupar o seu cargo. Espero que se
demita.
segunda-feira, 11 de janeiro de 2016
Poder económico controla leis e políticos a seu favor, confirma ex-director-geral da Autoridade Tributária
José Azevedo Pereira, antigo director-geral da
Autoridade Tributária, revelou que quase mil multimilionários escapam à teia do
fisco em Portugal. São conhecidos pelas finanças como ‘high-net-worth
individuals’, ou contribuintes de alto rendimento: uma categoria onde estão os que
acumulam mais de 25 milhões de euros de património ou, alternativamente,
recebem mais de 5 milhões de rendimento por ano.
No programa Negócios da Semana, transmitido
na SIC Notícias a 9 de Dezembro (ver vídeo acima), Azevedo Pereira afirmou que “este
tipo de pessoas em Portugal (e também no estrangeiro) influenciam o poder
político, têm fácil acesso aos decisores políticos que fazem as leis – e a
única coisa que as diferentes administrações fiscais podem fazer é trabalhar no
sentido de aplicar a lei.”Mas “se a lei cria os seus próprios alçapões e
mecanismos para proteger alguns destes interesses, não há muito que a
administração fiscal possa fazer. Estas pessoas conseguem com alguma facilidade
fazer ‘lobbying’ e criar mecanismos que as protegem.” Por outras palavras,
o ex-director-geral dos impostos confirma, preto no branco, que os políticos
elaboram as leis com os buracos necessários para os multimilionários escaparem
de forma legal às finanças, enquanto os pobres são espremidos até ao tutano. E
confirma também a total submissão do poder executivo e legislativo ao poder
económico – revelando uma vez mais que a actual democracia é na realidade uma
ditadura camuflada, totalmente manipulada pelos mais poderosos.
Azevedo Pereira assegurou também que “por
via de regra, nos países onde a respectiva tributação é levada mais a sério, os
contribuintes de alto rendimento são uma parcela muito significativa do IRS
cobrado, chegando a representar 20 a 25% da tributação. Em Portugal, não chegam
a meio por cento.” Portugal é um país onde, nos últimos anos, dezenas de
milhares de famílias carenciadas tiveram as suas casas penhoradas – na prática
roubadas – pelo fisco, muitas vezes por pequenas dívidas, aumentos criminosos
de impostos ou mesmo por falta de informação das próprias finanças; ao mesmo
tempo que primeiros-ministros como José Sócrates ou Passos
Coelho criaram sucessivos perdões fiscais para os mais ricos movimentarem
livremente as suas fortunas secretas no estrangeiro.
Todos estes factos são infinitamente mais graves
do que, por exemplo, o caso da chamada ‘lista VIP’: um sistema que
monitoriza o acesso de funcionários das finanças aos dados privados de figuras
públicas (e que será mantido pelo actual governo). No entanto, não recebem nem
um milionésimo da atenção. Um ex-director dos impostos assume em directo na
televisão que o poder económico controla as leis e os políticos a seu favor – e
os meios de comunicação social ditos ‘de referência’olham para o lado. Elisabete
Miranda, redactora do Jornal de Negócios, foi uma das poucas excepções, escrevendo que “o antigo
director-geral dos impostos prestou um importante serviço público. Só é pena
que tenha demorado oito anos a começar a falar e que, oito anos depois, a
Autoridade Tributária continue a ser uma estrutura opaca, que silencia
informação estatística fundamental para se fazerem debates informados, e que
subtrai do conhecimento geral todas as valiosas interpretações que adopta.”
***«»***
Bem diz Jerónimo de Sousa, que não há falta de
dinheiro para pagar o Estado Social. O que é necessário é ir buscá-lo, onde ele
está.
Os perdões fiscais, a que se refere a notícia,
estão enquadrados no que se designa eufemisticamente por Regime Excecional de
Regularização Tributária: houve três RERT na última década, que amnistiaram
quase seis mil milhões de euros que estavam irregularmente depositados no
estrangeiro, grande parte dos quais na Suíça.
Perante isto, podemos considerar Portugal como
um verdadeiro paraíso fiscal, para os seus milionários.
terça-feira, 5 de janeiro de 2016
Uma descida ao inferno...
O Inferno de Dante | Botticelli |
Uma
descida ao inferno...
Ainda não se atingiu o pico da procura, que,
normalmente, ocorre nesta época do ano, e já os hospitais estão a entrar em
ruptura. Os portugueses começam a pagar mais uma factura, e esta bem pesada e
dolorosa, de quatro anos de uma política assassina, de um governo de direita,
que nos dizia constantemente estar apostado em salvar a Pátria. E, para já, o
actual governo não pode fazer mais do que recorrer ao improviso, para poder
tapar buracos. O relato desta notícia é
verdadeiramente pavoroso. É como descer ao inferno de Dante!
sábado, 2 de janeiro de 2016
Illusion – Henry Brown Fuller 1895
Nem será tanto a glorificação do esplendor do
nu, aquilo que o autor nos propõe. Talvez o mais importante, em termos de
técnica pictórica, seja a subtil precisão da captação do movimento do “instante”,
entre a formulação gestual de um pedido e a expressão terna da sua recusa. É
esta impressão da ideia de movimento, a animar duas estáticas figuras humanas,
que a pintura ganha grandeza e notoriedade. Tracemos várias rectas paralelas imaginárias, a partir do ombro e da cabeça da criança, até à esfera translúcida e até à cabeça da mulher, e aí descobriremos o “truque” do autor. É nesse espaço que se
concentra a força da representação do movimento com que a pintura ganha vida. É
este, pois, o ponto central da pintura, o seu eixo estruturante, uma pintura que
se enquadra no cânone da corrente artística do Realismo.
Para provocar um maior deslumbramento no
espectador, mas assumindo o risco de não poder errar na descrição anatómica
figurativa, o que seria fatal, o autor opta por preencher todo o iluminado
espaço do primeiro plano com as duas figuras humanas, deixando difuso e
escurecido, intencionalmente, o plano de fundo. O efeito, em termos de conjunto,
é notável. O nu atinge o seu máximo esplendor, ao mesmo tempo que o espectador
é envolvido num ambiente aristocrático, aqui identificado e sinalizado, de uma
forma discreta, pelo mármore da balaustrada e do peitoril da varanda.
Em 1895, data da execução desta pintura, a
corrente do Realismo, na literatura e nas artes, aproximava-se do fim. A
seguir, iria assistir-se à grande revolução do modernismo, nas suas múltiplas
expressões, em que se abandona a ideia da representação e da captação do mundo
real. As artes passarão a ser comandadas pela “febril” e criativa imaginação
dos seus autores e pela descoberta de novas formas e de novas leituras.
AC
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