«(...) Neste
estado, agradou ao Senhor dar-me a visão que aqui descrevo. Vi um anjo perto de
mim, do meu lado esquerdo; não era grande, mas sim pequeno e muito belo; o seu
rosto afogueado parecia indicar que pertencia à mais alta hierarquia, aquela
dos espíritos incendiados pelo amor. Vi nas suas mãos um longo dardo de ouro
com uma ponta de ferro na extremidade da qual ardia um pouco de fogo. Às vezes,
parecia-me que ele me trespassava o coração com esse dardo, até me chegar às
entranhas. Quando o retirava, parecia-me que as levava consigo, e ficava em
chamas, totalmente inflamada de um grande amor por Deus. Era tão grande a dor,
que me fazia dar gemidos, mas ao mesmo tempo era tão excessiva a suavidade que
me punha essa enorme dor, que não queria que terminasse, e a alma não se podia
contentar com nada menos do que Deus. Este sofrimento não é corporal, mas sim
espiritual, e no entanto o corpo participa, e não participa pouco.»
***«»***
Este admirável texto foi escrito por Teresa d’
Ávila, mais tarde santa, e que se fez freira apenas com dezasseis anos, no
século XVI. Com estas inflamadas visões não admira que tivesse subido ao céu
várias vezes, motivo este mais do que suficiente para fundamentar a sua
canonização pela Igreja Católica Apostólica Romana.
Alguns historiadores admitem que Teresa d’Ávila
seria uma ninfomaníaca e que teria orgasmos quando, em intensa meditação, se
concentrava mentalmente em visionários encontros com o anjo enviado pelo Senhor.
Eu, que não me atrevo a avançar com nenhuma justificação para este fenómeno
místico-erótico, apenas quero deixar uma pergunta: Aquilo seria mesmo um anjo?
Sem comentários:
Enviar um comentário