Temos de encontrar e conquistar uma nova
Ceuta... Não para construir outro império nem para escravizar outros homens,
mas para nos libertarmos do imperialismo alemão e deixarmos de ser escravos do
capitalismo financeiro europeu. Uma nova Ceuta, que nos devolva a dignidade
perdida e recupere a nossa auto-estima como povo.
Está provado que não será na Europa que iremos
encontrar o nosso desígnio colectivo, a não ser que essa Europa mude
radicalmente de paradigmas.
Se D. Afonso Henriques, o rei fundador, venceu
pela astúcia e pela bravura os leoneses e os mouros, ao mesmo tempo que
consolidava politicamente as suas vitórias militares (ele foi também um grande
estadista), D. João I, o fundador da nova dinastia que se formou,
revolucionariamente, em consequência da grande crise de 1383-1385, foi um rei
visionário, que percebeu a tempo a necessidade do seu reino ganhar uma nova
força política e económica, expandindo-se e enriquecendo-se fora do contexto
ibérico, onde não passava de um parceiro menor. A conquista de Ceuta foi a
salvação do Portugal de então, e que sobreviveu até hoje (exceptuando os
sessenta anos do domínio espanhol).
Passados seiscentos anos, e em contextos
naturalmente diferentes, coloca-se novamente o problema da nossa
sustentabilidade como país e da nossa identidade como povo. Perdido o império
caduco e obsoleto, que, na sua agonia final, só trouxe problemas ao povo
português e, particularmente, à minha geração, que foi obrigada a fazer a
Guerra Colonial, Portugal, para sobreviver à humilhação, que só a revolução de
Abril resgatou, entregou-se de braços abertos a uma Europa sedutora e moderna,
mas da qual alguns de nós, eu incluído, tínhamos algumas razões para dela
desconfiar. A anestesia da modernidade - aquela modernidade, cuja faceta mais
ridícula foi aquela apressada corrida à compra das chapas de matrícula com as
estrelinhas amarelas, para ostentar em automóveis obsoletos - durou quarenta
anos, envolvendo duas gerações de portugueses. Em termos históricos, foi pouco
tempo, mas deu para atingir o clímax do deslumbramento. Já participámos no
Tratado de Maastricht, que fundou a a União Económica e Financeira da Europa e
adoptou a moeda única. Poucos perceberam o alçapão que estava escondido debaixo
dos nossos pés. Poucos perceberam (e até eram menosprezados por perceberem) que
o euro tinha sido nivelado por cima, para servir as economias dos países ricos
da Europa, principalmente a Alemanha e a França. Poucos perceberam, que,
escondido no euro, estava a germinar a pulsão imperialista da Alemanha, que,
para se impor no contexto global, necessitava de dominar política e
economicamente a Europa. Veio a crise de 2008, e a Alemanha conseguiu camuflar
a bolha especulativa dos bancos, concebendo um hábil estratagema, apoiado no
falacioso argumento das dívidas públicas elevadas dos países do sul. O
objectivo de forçar um maior endividamento público desses países, foi a fórmula
encontrada para transferir as dívidas dos bancos e o valor dos seus produtos
tóxicos para as dívidas públicas dos países intervencionados, impondo como
garantia de retorno o produto proveniente da austeridade, que se vai perpetuar
por longos anos. Ainda hoje, e apesar da crise grega ter posto a nu as
intenções imperialistas da Alemanha, existe muita gente que não percebeu o
esquema e vai votar nos intermediários políticos indígenas dos seus algozes.
Portugal (e também a Grécia) encontra-se na
perigosa encruzilhada, em que o caminho que lhe está a ser imposto, é o do
declínio irreversível, da pobreza, que virá a ser endémica, e da perda de tudo
aquilo que ainda tem valor. Tudo irá para o sorvedouro da dívida. É necessário
reagir. É necessário encontrar governantes da têmpera de D. Afonso Henriques e
de D. João I (a que juntamos as figuras de D. João II e do Marquês do Pombal).
Se estes talentosos e patrióticos estadistas ressuscitassem, iriam corar de
vergonha com a situação degradante do país que ajudaram a construir. Dariam um
murro na mesa e expulsariam do Templo os fariseus. É isso que temos de fazer,
para iniciar o processo de regeneração.
Alexandre de Castro
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