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domingo, 2 de agosto de 2015

Notas do meu rodapé: Temos de encontrar e conquistar uma nova Ceuta...


Temos de encontrar e conquistar uma nova Ceuta... Não para construir outro império nem para escravizar outros homens, mas para nos libertarmos do imperialismo alemão e deixarmos de ser escravos do capitalismo financeiro europeu. Uma nova Ceuta, que nos devolva a dignidade perdida e recupere a nossa auto-estima como povo. 
Está provado que não será na Europa que iremos encontrar o nosso desígnio colectivo, a não ser que essa Europa mude radicalmente de paradigmas.
Se D. Afonso Henriques, o rei fundador, venceu pela astúcia e pela bravura os leoneses e os mouros, ao mesmo tempo que consolidava politicamente as suas vitórias militares (ele foi também um grande estadista), D. João I, o fundador da nova dinastia que se formou, revolucionariamente, em consequência da grande crise de 1383-1385, foi um rei visionário, que percebeu a tempo a necessidade do seu reino ganhar uma nova força política e económica, expandindo-se e enriquecendo-se fora do contexto ibérico, onde não passava de um parceiro menor. A conquista de Ceuta foi a salvação do Portugal de então, e que sobreviveu até hoje (exceptuando os sessenta anos do domínio espanhol).
Passados seiscentos anos, e em contextos naturalmente diferentes, coloca-se novamente o problema da nossa sustentabilidade como país e da nossa identidade como povo. Perdido o império caduco e obsoleto, que, na sua agonia final, só trouxe problemas ao povo português e, particularmente, à minha geração, que foi obrigada a fazer a Guerra Colonial, Portugal, para sobreviver à humilhação, que só a revolução de Abril resgatou, entregou-se de braços abertos a uma Europa sedutora e moderna, mas da qual alguns de nós, eu incluído, tínhamos algumas razões para dela desconfiar. A anestesia da modernidade - aquela modernidade, cuja faceta mais ridícula foi aquela apressada corrida à compra das chapas de matrícula com as estrelinhas amarelas, para ostentar em automóveis obsoletos - durou quarenta anos, envolvendo duas gerações de portugueses. Em termos históricos, foi pouco tempo, mas deu para atingir o clímax do deslumbramento. Já participámos no Tratado de Maastricht, que fundou a a União Económica e Financeira da Europa e adoptou a moeda única. Poucos perceberam o alçapão que estava escondido debaixo dos nossos pés. Poucos perceberam (e até eram menosprezados por perceberem) que o euro tinha sido nivelado por cima, para servir as economias dos países ricos da Europa, principalmente a Alemanha e a França. Poucos perceberam, que, escondido no euro, estava a germinar a pulsão imperialista da Alemanha, que, para se impor no contexto global, necessitava de dominar política e economicamente a Europa. Veio a crise de 2008, e a Alemanha conseguiu camuflar a bolha especulativa dos bancos, concebendo um hábil estratagema, apoiado no falacioso argumento das dívidas públicas elevadas dos países do sul. O objectivo de forçar um maior endividamento público desses países, foi a fórmula encontrada para transferir as dívidas dos bancos e o valor dos seus produtos tóxicos para as dívidas públicas dos países intervencionados, impondo como garantia de retorno o produto proveniente da austeridade, que se vai perpetuar por longos anos. Ainda hoje, e apesar da crise grega ter posto a nu as intenções imperialistas da Alemanha, existe muita gente que não percebeu o esquema e vai votar nos intermediários políticos indígenas dos seus algozes.
Portugal (e também a Grécia) encontra-se na perigosa encruzilhada, em que o caminho que lhe está a ser imposto, é o do declínio irreversível, da pobreza, que virá a ser endémica, e da perda de tudo aquilo que ainda tem valor. Tudo irá para o sorvedouro da dívida. É necessário reagir. É necessário encontrar governantes da têmpera de D. Afonso Henriques e de D. João I (a que juntamos as figuras de D. João II e do Marquês do Pombal). Se estes talentosos e patrióticos estadistas ressuscitassem, iriam corar de vergonha com a situação degradante do país que ajudaram a construir. Dariam um murro na mesa e expulsariam do Templo os fariseus. É isso que temos de fazer, para iniciar o processo de regeneração.
Alexandre de Castro

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