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segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Vila Real, Santuário de Panóias (1ª Parte)

O "roubo" das pensões... [Raquel Varela]


«É totalmente ilegítimo cortar as pensões e reformas. Nunca é demais lembrar que o Estado não é dono da segurança social e portanto não pode apropriar-se destes recursos. O Estado é depositário das contribuições e está obrigado a pagar as pensões. Tudo o resto é roubo. Vou repetir, assumindo exactamente o valor desta palavra - tudo o resto é roubo. Portanto os portugueses devem reagir e resistir aquilo que é desnecessário do ponto de vista económico, imoral do ponto de vista social e, finalmente, totalmente ilegal».
Raquel Varela_ Historiadora

[Amabilidade de Lara Raquel Caldeira Ferraz]

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A mentira das estatísticas oficiais sobre o mercado de trabalho...


Os números oficiais sobre o mercado de trabalho não correspondem à realidade, porque ignoram o desemprego oculto, o desemprego disfarçado e o desemprego dos inactivos. E isto, para não falar no aumento da carga horária dos trabalhadores empregados, em alguns sectores da economia - o que limita o recurso a novas contratações - bem como da emigração dos jovens, fenómenos estes que, não tendo efeitos directos nas estatísticas do mercado de trabalho, vão ter, contudo, no futuro, elevados custos, ao nível da sustentabilidade social, da demografia e da economia. Portugal irá ser um país envelhecido e empobrecido. Mas os sobas, esses, não se extinguirão...

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Morreu Ana Hatherly [Poema: Príncipe ]


Príncipe 

Era de noite quando eu bati à tua porta 
e na escuridão da tua casa tu vieste abrir
e não me conheceste. 
Era de noite 
são mil e umas 
as noites em que bato à tua porta 
e tu vens abrir 
e não me reconheces 
porque eu jamais bato à tua porta. 
Contudo 
quando eu batia à tua porta 
e tu vieste abrir
os teus olhos de repente 
viram-me 
pela primeira vez 
como sempre de cada vez é a primeira

a derradeira 
instância do momento de eu surgir 
e tu veres-me.
Era de noite quando eu bati à tua porta 
e tu vieste abrir 
e viste-me 
como um náufrago sussurrando qualquer coisa 
que ninguém compreendeu. 
Mas era de noite 
e por isso 
tu soubeste que era eu 
e vieste abrir-te 
na escuridão da tua casa. 
Ah era de noite 
e de súbito tudo era apenas 
lábios pálpebras intumescências 
cobrindo o corpo de flutuantes volteios 
de palpitações trémulas adejando pelo rosto. 
Beijava os teus olhos por dentro 
beijava os teus olhos pensados 
beijava-te pensando 
e estendia a mão sobre o meu pensamento 
corria para ti 
minha praia jamais alcançada 
impossibilidade desejada 
de apenas poder pensar-te. 

São mil e umas 
as noites em que não bato à tua porta 
e vens abrir-me 

Ana Hatherly _ in "Um Calculador de Improbabilidades

***«»***
Morreu Ana Hatherly
Escritora, artista plástica e cineasta, Ana Hartherly integrou, ao nível da poesia, o movimento experimentalista, o concretismo, que surgiu no Brasil, de forma estruturada (publicou-se um manifesto), em meados do século passado, tendo-se expandido para a Europa, onde veio a potenciar a afirmação de vários poetas, que procuravam ultrapassar o modernismo.
Ana Hartherly foi a primeira autora portuguesa a escrever um poema “concreto”, uma forma de escrever poesia, em que o poema perde o conceito absoluto (não vale só por si), antes se articula, para ganhar uma maior expressividade, com outras formas artísticas ou com outros formas comunicacionais, entretanto inventadas, como seja a folha de papel ou o mural, onde ele é escrito de forma não convencional (dispersão desordenada, com uma disposição inteligível e esteticamente conseguida, dos vocábulos, frases e caracteres).
Na prosa, Ana Hartherly escreveu, entre outros “O Mestre” e o conto “No Restaurante”, que tiveram várias edições em Portugal e no Brasil e em mais de uma dezena de países.
Como académica (era professora catedrática da Universidade Nova de Lisboa), destacou-se também ao nível do ensaio.
Alexandre de Castro

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Santa Teresa d' Ávila


«(...) Neste estado, agradou ao Senhor dar-me a visão que aqui descrevo. Vi um anjo perto de mim, do meu lado esquerdo; não era grande, mas sim pequeno e muito belo; o seu rosto afogueado parecia indicar que pertencia à mais alta hierarquia, aquela dos espíritos incendiados pelo amor. Vi nas suas mãos um longo dardo de ouro com uma ponta de ferro na extremidade da qual ardia um pouco de fogo. Às vezes, parecia-me que ele me trespassava o coração com esse dardo, até me chegar às entranhas. Quando o retirava, parecia-me que as levava consigo, e ficava em chamas, totalmente inflamada de um grande amor por Deus. Era tão grande a dor, que me fazia dar gemidos, mas ao mesmo tempo era tão excessiva a suavidade que me punha essa enorme dor, que não queria que terminasse, e a alma não se podia contentar com nada menos do que Deus. Este sofrimento não é corporal, mas sim espiritual, e no entanto o corpo participa, e não participa pouco.»

***«»***
Este admirável texto foi escrito por Teresa d’ Ávila, mais tarde santa, e que se fez freira apenas com dezasseis anos, no século XVI. Com estas inflamadas visões não admira que tivesse subido ao céu várias vezes, motivo este mais do que suficiente para fundamentar a sua canonização pela Igreja Católica Apostólica Romana.
Alguns historiadores admitem que Teresa d’Ávila seria uma ninfomaníaca e que teria orgasmos quando, em intensa meditação, se concentrava mentalmente em visionários encontros com o anjo enviado pelo Senhor. Eu, que não me atrevo a avançar com nenhuma justificação para este fenómeno místico-erótico, apenas quero deixar uma pergunta: Aquilo seria mesmo um anjo?

domingo, 2 de agosto de 2015

Notas do meu rodapé: Temos de encontrar e conquistar uma nova Ceuta...


Temos de encontrar e conquistar uma nova Ceuta... Não para construir outro império nem para escravizar outros homens, mas para nos libertarmos do imperialismo alemão e deixarmos de ser escravos do capitalismo financeiro europeu. Uma nova Ceuta, que nos devolva a dignidade perdida e recupere a nossa auto-estima como povo. 
Está provado que não será na Europa que iremos encontrar o nosso desígnio colectivo, a não ser que essa Europa mude radicalmente de paradigmas.
Se D. Afonso Henriques, o rei fundador, venceu pela astúcia e pela bravura os leoneses e os mouros, ao mesmo tempo que consolidava politicamente as suas vitórias militares (ele foi também um grande estadista), D. João I, o fundador da nova dinastia que se formou, revolucionariamente, em consequência da grande crise de 1383-1385, foi um rei visionário, que percebeu a tempo a necessidade do seu reino ganhar uma nova força política e económica, expandindo-se e enriquecendo-se fora do contexto ibérico, onde não passava de um parceiro menor. A conquista de Ceuta foi a salvação do Portugal de então, e que sobreviveu até hoje (exceptuando os sessenta anos do domínio espanhol).
Passados seiscentos anos, e em contextos naturalmente diferentes, coloca-se novamente o problema da nossa sustentabilidade como país e da nossa identidade como povo. Perdido o império caduco e obsoleto, que, na sua agonia final, só trouxe problemas ao povo português e, particularmente, à minha geração, que foi obrigada a fazer a Guerra Colonial, Portugal, para sobreviver à humilhação, que só a revolução de Abril resgatou, entregou-se de braços abertos a uma Europa sedutora e moderna, mas da qual alguns de nós, eu incluído, tínhamos algumas razões para dela desconfiar. A anestesia da modernidade - aquela modernidade, cuja faceta mais ridícula foi aquela apressada corrida à compra das chapas de matrícula com as estrelinhas amarelas, para ostentar em automóveis obsoletos - durou quarenta anos, envolvendo duas gerações de portugueses. Em termos históricos, foi pouco tempo, mas deu para atingir o clímax do deslumbramento. Já participámos no Tratado de Maastricht, que fundou a a União Económica e Financeira da Europa e adoptou a moeda única. Poucos perceberam o alçapão que estava escondido debaixo dos nossos pés. Poucos perceberam (e até eram menosprezados por perceberem) que o euro tinha sido nivelado por cima, para servir as economias dos países ricos da Europa, principalmente a Alemanha e a França. Poucos perceberam, que, escondido no euro, estava a germinar a pulsão imperialista da Alemanha, que, para se impor no contexto global, necessitava de dominar política e economicamente a Europa. Veio a crise de 2008, e a Alemanha conseguiu camuflar a bolha especulativa dos bancos, concebendo um hábil estratagema, apoiado no falacioso argumento das dívidas públicas elevadas dos países do sul. O objectivo de forçar um maior endividamento público desses países, foi a fórmula encontrada para transferir as dívidas dos bancos e o valor dos seus produtos tóxicos para as dívidas públicas dos países intervencionados, impondo como garantia de retorno o produto proveniente da austeridade, que se vai perpetuar por longos anos. Ainda hoje, e apesar da crise grega ter posto a nu as intenções imperialistas da Alemanha, existe muita gente que não percebeu o esquema e vai votar nos intermediários políticos indígenas dos seus algozes.
Portugal (e também a Grécia) encontra-se na perigosa encruzilhada, em que o caminho que lhe está a ser imposto, é o do declínio irreversível, da pobreza, que virá a ser endémica, e da perda de tudo aquilo que ainda tem valor. Tudo irá para o sorvedouro da dívida. É necessário reagir. É necessário encontrar governantes da têmpera de D. Afonso Henriques e de D. João I (a que juntamos as figuras de D. João II e do Marquês do Pombal). Se estes talentosos e patrióticos estadistas ressuscitassem, iriam corar de vergonha com a situação degradante do país que ajudaram a construir. Dariam um murro na mesa e expulsariam do Templo os fariseus. É isso que temos de fazer, para iniciar o processo de regeneração.
Alexandre de Castro

sábado, 1 de agosto de 2015