Presunção
e água benta, cada um toma a que quer…
“Ainda não aprenderam a ler-me: tentam abrir a
porta com a chave que trazem no bolso, pequenina, estreita. E surpreende-me que
não vejam que basta empurrar a maçaneta com um dedo”.
António Lobo Antunes
In Revista
Visão -
O vivo e puro amor de que sou feito.
[Citado por Marina Costa]
***«»***
Fora dos holofotes da fama, que granjeou como
grande romancista, António Lobo Antunes não é assim tão magnânimo como pretende
fazer crer, com a belíssima metáfora da chave, da maçaneta e da porta. Diz,
quem o conhece pessoalmente, que é um homem azedo e pedante e que gosta de ver
o mundo a seus pés.
No entanto, esta afirmação não ofusca nem
obnubila o seu génio, como escritor, bem evidente, principalmente, nos seus
primeiros romances.
Ele nunca perdoou o facto de ter sido preterido
na atribuição do Prémio Nobel da Literatura, em relação a Saramago, e não
compreendeu que o Memorial do Convento é
uma obra de dimensão universal, que se impôs pela sua densa textura e pela sua
grandiosa temática. Nesta obra, Saramago falou com as centenárias pedras do
convento de Mafra e com as suas sombras, reconstruindo a história desse tempo
opaco, de uma religiosidade fanática e cruel, que não salvava as almas, antes as
queimava no patíbulo, onde ardia o fogo purificador da fogueira inquisitorial.
Alexandre
de Castro