Salvador Dali, um dos maiores pintores de todos
os tempos, perseguiu, durante todo o seu percurso artístico, a ideia da
transgressão, quer a transgressão temática, desconstruindo as narrativas
mitológicas e as narrativas do mundo real, tal como as interpretamos, quer a
transgressão formal, ao nível do estilo pictórico e ao nível da figuração,
optando por agigantar até ao limite as personagens e todos os elementos físicos
das suas composições. Repare-se, por exemplo, no efeito cinético, conseguido na
pintura "A Tentação de Santo António", em que o cavalo,
desencabrestado, parece querer saltar para fora da tela.
Dali, tal como Picasso, inaugurou um novo
conceito de pintura, que eu designo de surrealismo do fantástico ou, segundo
alguns autores, do surrealismo metafórico. Também poderíamos dizer que Dali
trabalhou na tela a alucinação, a loucura, a excentricidade e o assombro, numa
tentativa de intimidar o espectador, obrigando-o a ser mais activo na
observação e na interpretação da obra, já que, em relação ao passado, olhava-se
para uma pintura, de uma forma mais passiva e tranquila, tal como se se
observasse uma paisagem. Perante uma pintura de Dali, ninguém fica indiferente.
Pela intensidade das cores e pela distorção e gigantismo das formas, e, também,
pelo uso do plano da profundidade, que dá a sensação de não ter fim, Dali
impressiona e cria tensões emocionais nos espectadores. Ele não é o pintor da
estética harmoniosa. Na maioria dos seus trabalhos emerge uma tensão de
violência e uma sensação de desequilíbrio, à beira do abismo.
Alexandre de Castro
Sem comentários:
Enviar um comentário