Recado
para o senhor primeiro-ministro
As maiores
demoras, com tempos médios de espera acima dos 1000 dias, verificam-se em
unidades do interior norte, mas também do centro Litoral. Urologia no Hospital
S. Pedro, em Vila Real, chega a ter um tempo de espera de 1600 dias (mais de
quatro anos). Para uma consulta de Oftalmologia no Hospital de Chaves pode ter
de esperar 1038 dias, enquanto que no Hospital de Nossa Senhora da Assunção em
Seia, a demora para uma consulta normal é de 1015 dias.
Assim não, Senhor Costa!.. Assim, não!... Nem a “Geringonça” pode aceitar um escândalo
destes. Estes números são uma vergonha!... São números dignos de figurar nas
estatísticas de um país do terceiro mundo. Eu pergunto-lhe, senhor
primeiro-ministro, quantas mortes não irão proximamente ocorrer - entre aqueles
milhares de pacientes que vão esperar, meses e anos, por uma primeira consulta
de especialidade médica - por não serem tratados atempadamente? E isso é crime,
senhor primeiro-ministro. Entre estes desesperados pacientes, a mortandade vai
ser superior à que ocorreu com os incêndios do último Verão. E, neste caso, o
Marcelo não vai poder andar por aí, a promover o festival dos abraços e dos
beijinhos, aos familiares das vítimas, nem as televisões vão montar a tenda
para o circo mediático do costume.
O senhor primeiro-ministro é um hábil
especialista no "tirar aqui, para dar ali", e é também muito expedito
no "virar a página" do livro da "Boa Governança", que anda
a ler, mas, vai-se sabendo e sentindo, apenas lê os capítulos que lhe
interessam, passando por alto e fazendo vista grossa sobre aqueles que não lhe
interessam. E, de política de Saúde, o
senhor fala muito pouco, para não dizer que não fala nada, o que não é de
admirar, pois, neste capítulo, não tem nada para dizer, tal é a inoperância do
seu ministro da Saúde, que está interessado principalmente em aplicar o já
velhinho plano de meter os privados no SNS, quer através das Parcerias Público
Privadas, quer através do alargamento de contractos de concessão de prestação
de alguns cuidados de Saúde, como, aliás, já acontece com os meios auxiliares
de diagnóstico, uma solução, que, imediatamente, até agrada ao utente, mas que
também agrada ao Estado, pois alivia momentaneamente a pressão sobre o
Orçamento do Estado, empurrando-se assim, com a barriga, os problemas dos
custos para o futuro, quando a despesa acumulada se revelar muito superior
àquela que se obteria se o Estado fizesse agora os necessários investimentos no
pessoal da Saúde, que está a diminuir, e nos meios operacionais, que exigem uma
periódica actualização e uma contínua manutenção.
Eu escrevi "meter os privados no SNS",
e disse bem, pois isso é a mesma coisa que meter um lobo no meio de um curral
de ovelhas.
Eu, ainda na última segunda-feira, fui fazer uns
exames da especialidade radiológica a uma empresa privada, que tem contracto
com o ministério da Saúde. Foi uma maravilha. Em meia hora sinalizei a minha
presença, procedi ao pagamento da taxa moderadora e fiz os três exames
requisitados. Instalações funcionais e com uma estética bem conseguida e um
atendimento impecável. E eu, nestas situações, faço sempre, para mim próprio, a
mesma pergunta: "Quanto tempo isto irá durar"? E é esta pergunta que eu
faço aos meus leitores, ao senhor primeiro-ministro e ao "perigoso"
ministro da Saúde, um homem que é um submarino do lobie da Saúde.
Alexandre
de Castro
2018 01 24