E se eu
vos disser...
E se eu vos disser que me lembro
de todas as rugas daquele tempo
cavadas no granito e nos rostos...
E se eu vos disser que me lembro
da geografia da fome
e de todos aqueles para quem
a sua miserável pobreza
era a sua maior riqueza...
E se eu vos disser que ainda ouço
a voz das pedras dos caminhos e dos casebres
e o crepitar do lume das lareiras, nos Invernos,
para aquecer o frio e fazer crescer os sonhos...
E se eu vos disser que aquele tempo
era um tempo sem tempo,
que apenas sevia para esperar a morte...
E se eu vos disser que o mundo
nascia e morria ali,
porque não havia mais mundos
para além das serranias e dos baldios...
E se eu vos disser que tudo isto
é memória dorida,
ferida a sangrar em carne viva
que o tempo não alivia...
Este era o meu povo,
o povo ignorado que não esqueço
e que ainda trago na lembrança…
Alexandre de Castro
Lisboa, Outubro de 2014