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domingo, 21 de outubro de 2018

Considerações sobre o dilema da democracia


Considerações sobre o dilema da democracia

Alexandre Guerra escreveu, no jornal PÚBLICO, de 30 de Setembro último, um artigo muito didáctico e muito bem estruturado, sob o título “O dilema da democracia", em que, no fundo, pretendia encontrar uma explicação para o sucesso das democracias ditas (i)leberais (Rússia e Turquia e outros países), em que, segundo ele, os eleitores, paradoxalmente, e em plena liberdade, têm escolhido normalmente um líder autoritário, uma ocorrência que ele estranha.

Isto acontece, porque o autor, implicitamente, parte do errado princípio de que as democracias liberais dos países ocidentais enquadram o sistema político mais perfeito, o que, para mim, não é verdade. E não é verdade, porque nas chamadas democracias liberais, como as instituídas na Europa e nos EUA, o sistema encontra-se viciado, uma vez que tudo foi concebido, no pós-guerra, para que aos eleitores fossem apresentados dois fortes partidos políticos, um retintamente liberal e o outro ornamentado com uma cosmética socializante, e que apenas divergiriam nos pormenores da governação, sendo, contudo, obrigatoriamente iguais, nos aspectos verdadeiramente estruturantes do poder político e na obstinada aceitação do modelo económico liberal único, anti-socialista e anticomunista.

Assim, através deste enganador processo, os actuais regimes políticos liberais garantem aos detentores do grande capital o controlo indirecto e remoto de toda uma política que os favoreça. E isto não é imediatamente percebido, pela maioria dos eleitores.
Alexandre de Castro.
2018 10 06