Considerações
sobre o dilema da democracia
Alexandre Guerra escreveu, no jornal PÚBLICO, de
30 de Setembro último, um artigo muito didáctico e muito bem estruturado, sob o
título “O dilema da democracia", em que, no fundo, pretendia encontrar uma
explicação para o sucesso das democracias ditas (i)leberais (Rússia e Turquia e
outros países), em que, segundo ele, os eleitores, paradoxalmente, e em plena
liberdade, têm escolhido normalmente um líder autoritário, uma ocorrência que
ele estranha.
Isto acontece, porque o autor, implicitamente,
parte do errado princípio de que as democracias liberais dos países ocidentais
enquadram o sistema político mais perfeito, o que, para mim, não é verdade. E
não é verdade, porque nas chamadas democracias liberais, como as instituídas na
Europa e nos EUA, o sistema encontra-se viciado, uma vez que tudo foi
concebido, no pós-guerra, para que aos eleitores fossem apresentados dois
fortes partidos políticos, um retintamente liberal e o outro ornamentado com
uma cosmética socializante, e que apenas divergiriam nos pormenores da
governação, sendo, contudo, obrigatoriamente iguais, nos aspectos
verdadeiramente estruturantes do poder político e na obstinada aceitação do
modelo económico liberal único, anti-socialista e anticomunista.
Assim, através deste enganador processo, os
actuais regimes políticos liberais garantem aos detentores do grande capital o
controlo indirecto e remoto de toda uma política que os favoreça. E isto não é
imediatamente percebido, pela maioria dos eleitores.
Alexandre
de Castro.