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sábado, 5 de junho de 2010

Notas do meu rodapé: Na estatística, os números podem ser lidos de várias maneiras. Depende dos interesses de quem os utiliza...


O primeiro-ministro, José Sócrates, que teima em apresentar um cenário idílico da situação do país, afirmou hoje que os dados provisórios da execução orçamental indicavam que a receita do Estado entre Janeiro e Maio teria aumentado 4,7 por cento, presume-se que em relação a igual período do ano passado, tentando daí tirar uma conclusão positiva sobre a evolução favorável da economia portuguesa. Os números poderão estar certos, mas a conclusão é fantasiosa, já que nada indica que a economia portuguesa saia do marasmo em que se encontra. Os números que o primeiro-ministro apresentou têm o referencial comparativo com os dois primeiros trimestres de 2009, os piores dos últimos vinte anos, sendo pois mais fácil apresentar para o período actual elementos estatísticos positivos.
O ano de 2009 foi um ano negro para a economia portuguesa, cujo PIB diminuiu 2,7 por cento, em relação a 2008, que, por sua vez, foi um ano de crescimento zero, e foi precisamente nos dois primeiros trimestres que o tombo foi mais acentuado. Em comparação com os períodos homólogos de 2008, o PIB diminuiu 3,8 por cento no 1º trimestre, 3,4 por cento no segundo, 2,3 no terceiro e um por cento no quarto. Segundo o Eurostat, no 1º trimestre deste ano, o PIB teria subido um por cento, o que possibilitou naturalmente a subida da receita do Estado. Esta subida do PIB só seria significativa, no ponto de vista da economia, se igualasse percentualmente a forte descida verificada no período homólogo. É de prever, mesmo a não existirem outros factores perturbadores, que a variação do PIB nos próximos trimestres venha a ser negativa, já que, nos respectivos períodos homólogos de 2009, a sua queda não foi tão acentuada.
Mas a esta realidade, nada optimista, temos de acrescentar agora uma outra, que vai deprimir a economia. As medidas do PEC e o subsequente aumento de impostos vão provocar diminuição do consumo das famílias, mais falências das pequenas empresas e mais desemprego, o que irá reflectir-se em menor crescimento no segundo semestre. Daqui por seis meses, José Sócrates ainda poderá apresentar um quadro de aumento das receitas fiscais, obtidas, não à custa do crescimento da economia, mas decorrentes do aumento de impostos. Depois disso, com a economia de rastos, talvez já não exista mais margem de manobra para aumentar a receita. É a velha história do cavalo do inglês.

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