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sexta-feira, 26 de abril de 2013

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Poema: O POEMA DA MELANCOLIA DOS ESPELHOS OU - por maria azenha

Óleo - Toby Wiggins

O POEMA DA MELANCOLIA DOS ESPELHOS OU

(primeiro acto)

o poeta
deve entrar no infinito com múltiplos espelhos
caso contrário o infinito é uma história triste
coxa para o resto da vida

agora
estou a olhar para a avenida
e vejo este poema com adesivos
um poema frouxo um poema
que nunca foi escrito
na tabuleta do infinito

fui então despedida

paulatinamente vou aparecendo
aqui ou acolá dedico-me então
à minha substituição permanente
sou uma espécie de governo
ou de mi(ni)stério da educação
com muitos amigos por exemplo

(segundo acto)

o esteves da tabacaria
que não é o esteves da tabacaria
não me disse adeus mas eu
disse-lhe que estava a escrever
o poema do chapéu preto ou
o poema da melancolia dos espelhos
etc etc e tal etc etc
ad infinitum

(terceiro acto)

devo certamente tornar-me polícia
estou a pensar

desapareceu de repente
a minha caneta pela via-láctea dentro

abro então a página cinco do livro do infinito
e escrevo o poema que nunca foi escrito
o poema da melancolia
dos espelhos ou

o poema deste país dona alice
que é minha vizinha

maria azenha
in " Nossa Senhora de Burka", 2002


Nota: A imprevisibilidade temática e formal é uma característica que se vai descobrindo em cada novo poema de Maria Azenha. Há uma transversalidade enriquecedora, neste domínio, ao ponto de se poder afirmar que Maria Azenha, no estilo e no tema, não se copia a si própria. Daí, eu já ter referido, em comentário anterior, a postura desconcertante da sua poesia, que aborda  sempre a realidade poética pelo lado do absurdo mágico e fantástico, o que obriga o leitor a fixar-se com mais atenção no poema. Este poema, “O POEMA DA MELANCOLIA DOS ESPELHOS OU”, é a prova disso, até no seu título. O recurso à estrutura cénica de um texto teatral permite-lhe a mudança rápida do tema, da forma e da estrutura do poema.
Os espelhos (e as imagens poéticas que eles devolvem) são elementos recorrentes na poesia de Maria Azenha, e isto tem muito a ver com a multiplicidade de heterónimos em que se desdobra a sua personalidade poética.
AC

Maria Azenha colabora neste blogue, publicando-se um poema seu, às quintas-feiras.

terça-feira, 23 de abril de 2013

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Opinião: O regabofe da Parcerias Público-Privadas - Paulo Morais

*
As Parcerias Público-Privadas (PPR) constituíram-se num verdadeiro cancro para o erário público português. Concebidas, à semelhança do que aconteceu noutros países europeus, com a finalidade de captar investimentos vultuosos para a construção de infra-estruturas, evitando assim a formação de mais dívida pública, que não poderia ultrapassar a meta estabelecida pelo Tratado de Maastricht, este novo modelo de financiamento, quer por algumas lacunas das leis, quer pela forma desatenta e pouco escrupulosa como as diferentes parcerias foram negociadas, veio sobrecarregar os sucessivos orçamentos de Estado, pelo lado da despesa, através do pagamento anual das rendas aos concessionários, e que, agora, a austeridade está dolorosamente a pagar, e ainda com a agravante de vir a onerar no futuro, durante mais trinta anos, as futuras gerações.
Tratou-se de um negócio ruinoso para o Estado e uma mina de ouro para os privados, que fizeram um investimento sem assumir riscos, já que as sobreavaliadas rendas anuais, a pagar pelo Estado, estão garantidas por contrato.
E foi à sombra das PPR , que meia dúzia de grandes grupos económicos portugueses, através de nefastas influências políticas sobre os governos do PS e do PSD, obtiveram lucros astronómicos à custa dos contribuintes. Por isso não admira que dois ministros das Obras Públicas, um de cada um daqueles dois partidos, tivessem transitado, mal cessaram funções, para a presidência dos conselhos de administração das duas empresas que mais concessões de PPP ganharam em concurso.
Este é mais um mecanismo  do processo utilizado pelo capitalismo financeiro para proceder à transferência dos rendimentos do trabalho para os rendimentos do capital. 

Agradecimento


Agradeço à crítica de arte, Tais Luso, a gentileza de se inscrever como amiga/seguidora do Alpendre da Lua

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Anotação do Tempo: Oh, minha Pátria tão bela e perdida!...


Oh, minha Pátria tão bela e perdida!...

Fiquei suspenso, agarrado ao poema
à espera que todos chegassem
para a reunião magna sobre a salvação dos ídolos.
No meio do vazio das ausências inexplicáveis
resolvi sair para a rua para agarrar o sol
mas a cidade tinha entrado em contraluz
e senti-me agarrado pelos braços de ferro
de sombras gigantescas de uma nebulosa negra…

a cidade estava deserta…

Foi o empregado do banco,
esbaforido e a explodir em esgares de pânico,
que me retirou do torpor da minha irrealidade,
quando eu estava a colar
a última convocatória numa parede suja de sangue
(nesse preciso momento eu cantava
o Nabuco de Verdi
Oh, minha Pátria tão bela e perdida!)
Disse-me que tinha estado à minha espera
até ao limite do tempo
para saldar a última conta do último cliente
antes de ter de abandonar  a cidade…

Alexandre de Castro

Lisboa, Abril de 2013
Publicado no Ponte Europa

Anotação do Tempo: Oh, minha Pátria tão bela e perdida!...

Rodin - O pensador

Oh, minha Pátria tão bela e perdida!...

Fiquei suspenso, agarrado ao poema
à espera que todos chegassem
para a reunião magna sobre a salvação dos ídolos.
No meio do vazio das ausências inexplicáveis
resolvi sair para a rua para agarrar o sol
mas a cidade tinha entrado em contraluz
e senti-me agarrado pelos braços de ferro
de sombras gigantescas de uma nebulosa negra…

a cidade estava deserta…

Foi o empregado do banco,
esbaforido e a explodir em esgares de pânico,
que me retirou do torpor da minha irrealidade,
quando eu estava a colar
a última convocatória numa parede suja de sangue
(nesse preciso momento eu cantava
o Nabuco de Verdi
Oh, minha Pátria tão bela e perdida!)
Disse-me que tinha estado à minha espera
até ao limite do tempo
para saldar a última conta do último cliente
antes de abandonar  a cidade…

Alexandre de Castro

Lisboa, Abril de 2013
Publicado no Ponte Europa

Opinião: José Saramago - Nobel do nosso contentamento - por Carlos Esperança


José Saramago - Nobel do nosso contentamento

Com o falecimento de José Saramago desapareceu o mais destacado escritor da língua portuguesa.Com ele a língua ganhou um novo fôlego e a literatura um novo patamar.
O prémio Nobel não foi para Saramago o fim de uma tardia e profícua carreira, foi uma fase na vida de um dos mais fecundos e inovadores escritores de todos os tempos, que trabalhou com palavras e delas fez as mais belas frases e os mais gloriosos livros.
De Camões e Gil Vicente, passando por António Vieira e Aquilino, Saramago destacou-se numa plêiade de escritores do século XX e mostrou que a liberdade conquistada com o 25 de Abril trouxe consigo o espírito criativo e a genialidade.A língua portuguesa deve-lhe a riqueza da sua imaginação e sabedoria e os portugueses o orgulho de o terem como referência estética e cultural, esquecidos já da mediocridade de um Governo de Cavaco, em que figuras menores como Santana Lopes e Sousa Lara, vetaram uma das suas obras emblemáticas – O Evangelho Segundo Jesus Cristo.
Com Saramago foi um país Levantado do Chão que aprendeu história e fez a Viagem a Portugal. O escritor a quem o Vaticano, irritado com o Nobel, chamou inveterado ateu, foi um exemplo de devoção ao trabalho literário a que dedicou as suas últimas forças.
José Saramago ficará para a História como um dos mais notáveis escritores de todos os tempos e como pensador que refletiu o mundo empenhadamente sem perder a matriz do livre-pensador.
Portugal e a literatura ficaram de luto. Ontem, em Bogotá, o País sentiu vergonha do PR que o ignorou na inauguração da Feira do Livro onde Portugal foi convidado.
Carlos Esperança
Presidente da Direção da Associação Ateísta Portuguesa

quinta-feira, 18 de abril de 2013

Poema: In memoriam (a Miguel Portas) - por maria azenha

Maria Azenha - "In Memoriam" (a Miguel Portas)
*
In memoriam

Como uma cega que lesse Braille
recordo o teu sorriso com os olhos aguados 
Subo as escadas do vento 
e vou ter contigo às flores da claridade

Repousam os lírios da europa
no aquário dos teus olhos;
Há todo um mar azul com tanta luz 
e tanto sol nos teus ombros de homem.

Só quero ter esta esperança:
que continuas com outros nomes
e o olhar assombrado de criança. 

maria azenha
2012-04-29

Nota: Ignoremos por instantes a beleza do entrelaçado das palavras escritas por Maria Azenha, em justa e sincera homenagem, e a trama delicada e terna do retrato de corpo inteiro do malogrado militante de esquerda, que foi Miguel Portas. Detenhamos-nos, tal como a autora pretende, na nobreza deste político, que argumentava com inteligência, sem nunca recorrer o estereótipo do histriónico espetáculo discursivo circense. Morreu como sempre viveu, sempre olhando o mundo com “o olhar assombrado de criança”.  

Maria Azenha colabora neste blogue, publicando-se um poema seu, às quintas-feiras.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Anotação do Tempo: E este é o mundo que nos pertence...



E este é o mundo que nos pertence…


Ao Jorge, o meu amigo/irmão


Mãos cheias de nada
e de vento
uma lágrima de sangue de uma criança
brilhando ao sol
ossos da fome pendurados na esquina
da esperança
olhares aflitos a sufocar os gritos
contra os muros da indiferença
mãos que falam e se agitam
e todo o mundo separado
pela fronteira da cegueira
E este é o mundo que nos pertence
e que nos deixaram
e que se perdeu na esfera do tempo
sem qualquer mudança!...

Alexandre de Castro


Lisboa, Abril de 2013


Também já publicado no Ponte Europa.

terça-feira, 16 de abril de 2013

segunda-feira, 15 de abril de 2013

New York Times usa exemplo de Portugal para criticar "medicina amarga" da austeridade


O conselho editorial do norte-americano New York Times escreve hoje que a "medicina amarga" da austeridade está a matar o doente, usando o exemplo de Portugal para defender a emissão de títulos de dívida apoiados pela zona euro.
"Há mais de dois anos que os líderes europeus têm imposto um 'cocktail' de austeridade orçamental e de reformas estruturais em países debilitados como Portugal, Espanha e Itália, prometendo que isso será o tónico para curar as maleitas económicas e financeiras, mas todas as provas mostram que estes remédios amargos estão a matar o paciente", escreve o Conselho Editorial do jornal norte-americano New York Times, um dos mais vendidos nos Estados Unidos da América.
O artigo de opinião explica que o principal problema de as medidas de austeridade não estarem já a ter o efeito pretendido - crescimento económico - é, para além do aumento do desemprego, a criação de um descontentamento popular que favorece grupos como o Movimento Cinco Estrelas, em Itália.
"O verdadeiro perigo para a Europa é que movimentos como esse aumentem e que os eleitores e os decisores vejam cada vez menos vantagens em permanecer no euro. Se os países começam a sair da moeda única, isso causaria pânico generalizado no Continente e milhares de milhões de dólares em perdas para os governos, os bancos e os investidores na Alemanha e noutros países ricos europeus, já para não falar no resto do mundo", escreve o jornal, sublinhando que "se os líderes europeus deixaram essas forças políticas ganharem força, toda a gente no Continente, e não apenas os portugueses ou os italianos, ficarão pior".
***«»***

O modelo congeminado pelos dirigentes políticos europeus para garantir o retorno, com dinheiro proveniente do trabalho, da dívida estimulada pelo capital financeiro, com dinheiro proveniente da especulação bolsista, aos países periféricos, está a perder capacidade de afirmação em vastos setores da opinião pública, dos meios académicos e da comunicação social. O que, só para alguns, há uns dois ou três anos atrás, era evidente, hoje, perante os sucessivos fracassos dos eufemísticos programas de ajustamento orçamental, a realidade deixou de ser avaliada pelas tintas cor-de-rosa dos neoliberais, que apenas olham para a vertente financeira e para os mercados, esquecendo a vertente social da economia e da política, que devem estar ao serviço do bem comum, o que não acontece atualmente em Portugal e na Europa, em que o Estado está ao serviço das oligarquias económicas e financeiras.
Provocar o empobrecimento das populações, arrasar a economia e os serviços de políticas sociais, liquidar postos de trabalho e não criar emprego para a juventude, para, depois, segundo afirmavam os perversos mentores deste maquiavélico esquema de saque, promover o crescimento económico, através do aumento das exportações, é, no mínimo, bizarro. É um verdadeiro paradoxo. Permitam-me a excessiva imagem: é como matar o doente, antes de ele morrer.
A austeridade tem os dias contados. Se a mudança não ocorrer nas instituições e nos governos europeus, graves acontecimentos poderão ocorrer na Europa e no mundo. A História não dorme, nem é escrita apenas nas chancelarias.  

Fotografia: Três momentos poéticos na objetiva de João Grazina...

Clicar para ampliar


**
Três momentos poéticos na objetiva de João Grazina, que progressivamente vai conquistando novos horizontes com a sua linguagem fotográfica:
Primeiro momento: O milagre da luz.
Segundo momento: A dinâmica da confluência das linhas.
Terceiro momento: A vastidão do espaço e o peso do céu.

domingo, 14 de abril de 2013

Estado fez negócio ruinoso com a Lusoponte



A ponte Vasco da Gama, que até agora já foi paga duas ou três vezes, tem um anafado ex-ministro de Cavaco à frente da empresa concessionária, disposto a fazer-nos pagar o raio da ponte cinco, seis, dez ou doze vezes.
O mais cómico é que o mesmo Ferreira Amaral que contratou com a Lusoponte e que agora lhe preside diz mal das PPP:

Parcerias público-privadas “foram um desastre”, diz Ferreira do Amaral
O presidente do conselho de administração da Lusoponte, Joaquim Ferreira do Amaral, considerou que as parcerias público-privadas (PPP) “foram um desastre”, ao darem a ideia falsa de que “tudo era possível, porque não faltava dinheiro”. As declarações foram feitas quarta-feira [10 de Abril], na comissão parlamentar de inquérito às PPP. “O maior problema é que, no auge das PPP, era difícil falar mal das PPP. Deus me livre de falar contra as PPP”, afirmou, lembrando a satisfação das populações e dos autarcas com o avanço de projectos que eram impossíveis com investimento directo do Estado.
(Público online,10 de Abril de 2013).

Há aqui qualquer coisa que eu não estou a entender.
O ministro que em 1995 contratou com a Lusoponte e que agora é o seu presidente diz mal das PPP?
Pois é. Já em Janeiro de 2013, de facto, Ferreira do Amaral afirmava que não considerava a Lusoponte uma parceria público-privada:
“Não percebo em que se baseiam para dizer que o contrato da Lusoponte é uma PPP”, afirmou Ferreira do Amaral, na comissão de inquérito parlamentar às PPP, quando questionado pela deputada do PS Isabel Oneto sobre “a natureza” do contrato com a Lusoponte, depois do antigo governante ter negado participação em qualquer PPP. O antigo ministro dos governos de Cavaco Silva, que, quando assumiu as Obras Públicas, chegou a acordo com a Lusoponte relativo à construção da Ponte Vasco da Gama, defendeu que “o contrato com a Lusoponte impede os malefícios das PPP”. Ferreira do Amaral realçou que, no caso da Lusoponte, o papel do Estado foi o de deixar “fazer o projeto” e estabelecer “condições que considerava imprescindíveis”, tendo a concessionária assumido o risco de financiamento. “O Estado funcionou como típico concessionário” [sic], declarou. O antigo governante sublinhou ainda que todas as compensações auferidas pela concessionária resultaram de alterações ao contrato, a pedido do Estado. “Já estamos no 10.º ou no 11.º contrato. Por razões políticas, o Estado decidiu fazer alterações ao contrato e a concessionária teve direito a compensações”, explicou.
(ionline, 23 de Janeiro de 2013).

Em que ficamos: o contrato da Lusoponte é uma PPP ou não é?
E se não é, será melhor?
Vejamos o que dizia o DN em Janeiro de 2011:
Lusoponte: assinada em 1995, foi a primeira parceria público-privada emPortugal. A concessão Lusoponte tinha como objectivo a construção da Ponte Vasco da Gama e a exploração da Ponte 25 de Abril. O contrato inicial fixava o prazo em 33 anos, com a possibilidade de o seu termo ser antecipado caso se verificassem duas condições: o pagamento dos empréstimos contraídos pela Lusoponte e a passagem nas duas pontes de 2250 milhões de veículos. No entanto, nada disto se verificou: concluiu-se que o volume de tráfego calculado não era o correcto, e a onda de contestação contra o aumento das portagens na Ponte 25 de Abril – o famoso buzinão – obrigou o Governo a rever sucessivamente todo o contrato. Ao todo, dezasseis anos após a sua assinatura, o contrato com a Lusoponte já sofreu sete alterações. Mudanças que custaram aos contribuintes 160 milhões de euros em reequilíbrios financeiros, mais compensações directas de quase 250 milhões de euros. Isto significa que esta PPP já custou mais 410 milhões de euros do que inicialmente tinha sido previsto.
(DN, 12 de Janeiro de 2011).

Contrato mal parido, portanto.
E promete ser pior para o bolso do Zé pagante do que qualquer outra PPP.
Entretanto a Lusoponte vai enchendo a mula à pala do Estado e dos contribuintes:
O Estado dava uma indemnização compensatória à Lusoponte por não haver cobrança de portagem na ponte 25 de Abril durante o mês de Agosto. Em 2011 passou a haver cobrança e a Lusoponte arrecadou o dinheiro, apesar disso o Governo mandou dar 4,4 milhões de euros, como se tivesse havido isenção de portagem, à empresa presidida por Joaquim Ferreira do Amaral, ex-ministro de Cavaco Silva.
A empresa presidida por Joaquim Ferreira do Amaral [...] exigiu que a Estradas de Portugal lhe desse os 4,4 milhões de euros.
A 21 de Novembro de 2011, o secretário de Estado dos Transportes, Sérgio Silva Monteiro, decidiu dar os 4,4 milhões à Lusoponte e ordenou à empresa pública Estradas de Portugal “que proceda, de imediato, à liquidação em falta”. Assim, a Lusoponte ficou com o dinheiro da cobrança das portagens no mês de Agosto de 2011 e recebeu de bónus o montante que o Governo decidiu dar à empresa como se não tivesse havido cobrança.
(Esquerda.net 2 de Março de 2012).

Quase que apetece dizer, Lusoputa que a pariu!
Do blogue Aspirina B

***«»*** ***«»***
O Estado paga à Lusaponte o valor da construção de sete pontes. Para obter esse dinheiro, O Estado financiou-se no mercado internacional de capitais, criando dívida. Agora, os portugueses estão a pagar essa dívida com a dura austeridade. Os lucros imorais dos acionistas da Lusoponte foram à procura de maiores rendibilidades nos mercados financeiros dos países mais ricos, fortalecendo as suas respetivas economias, e dando lucros aos seus capitalistas financeiros, que, por sua vez, reinvestiram parte desses lucros nos mercados internacionais da dívida, onde Portugal (Estado e bancos comerciais) continua a recorrer.
Este é mais um exemplo típico do que recorrentemente tenho andado a afirmar: “O  capitalismo financeiro internacional encontra-se organizado à escala global, no sentido de promover a transferência da riqueza dos países menos ricos e mais pobres para os países mais ricos, e, dentro de cada país, promover a transferência dos rendimentos do trabalho para os rendimentos do capital. Não se pode sobreviver a este monstruoso saque. A gigantesca roda do dinheiro esmaga as economias dos países mais fracos. Podemos falar, com toda a propriedade, da feroz ditadura do capital.
Alexandre de Castro

Humor: A nova proposta do FMI para resolver a crise financeira...

sábado, 13 de abril de 2013

A ganância do deus mercado - por Beatriz Paganini


O que aconteceu neste mundo?
A ganância do deus mercado, como diz um escritor do meu mundo, Eduardo Galeano, destruiu tudo.
E as guerras fizeram desaparecer a paz.
E alguns, com o pretexto de a procurar (à paz) continuam guerreando e chegou-se ao absurdo de premiar com o Nobel aquele que dirige a Guerra como se fosse emissário da Paz.
Enquanto isso:
Estão devastando as florestas.
Aumentam a fabricação de armas.
Países que não as fabricavam fazem-no agora.
Foram inventados os Paraísos Fiscais.
Foi criado o FMI, organização criminosa de colarinho branco ao serviço do Deus Artificial.
Foi criada a NATO e com o seu patrocínio se mata, rouba e destrói como Átila.
As regras da guerra nunca se cumprem.
Às sociedades anónimas permite-se transgredir.
As minas a céu aberto envenenam os rios.
Os agroquimicos contaminam as plantas e os seus frutos.
Os agroquímicos produzem malformações no feto humano.
Os agroquímicos causam o cancro e doenças em seres humanos.
Os agroquímicos causam doenças em animais.
Estão desaparecendo espécies animais.
Desaparecem espécies aquáticas.
Um novo termo "deslocados", designa famílias inteiras a fugir porque lhes expropriaram as terras falsificando títulos de propriedade, que lhes confere o Deus inventado.
As hierarquias religiosas, não questionam o valor absoluto do Deus Artificial e deixam-no conviver com o Deus dos seus diferentes credos: católico, evangélico, muçulmano ou protestante.
Pequenas indústrias e / ou empresas desaparecem, absorvidas pelo Deus Artificial que sustenta os capitais internacionais globalizados.
Mudaram o nome às prostitutas, que são chamadas "trabalhadoras sexuais", para transformar assim um sector moralmente marginal, dando-lhe uma referência valorativa falsa, mas suficiente para que a parte sórdida do submundo de prostituição se fortaleça, porque move milhões no mercado negro, juntamente com a droga, o jogo nos casinos e a lavagem de capitais ilícitos de milionários.
A televisão transmite programas de estupidificação mental.
Os canais de televisão, a imprensa oral e escrita, distorcem as notícias para o lado de quem oferecer mais.
Vários países mantêm a pena de morte.
A descoberta da América apenas significou, para os europeus, mais colónias para saquear.
A escravatura existe disfarçada (com o nome de trabalho precário) nos chamados países do terceiro mundo e também no chamado primeiro.
Como não acabam com a especulação (que é um falso argumento do falso deus) provocam crises financeiras que forçam os pobres a ser mais pobres, e vários estados que acreditavam ser soberanos, a alienar as suas riquezas naturais e o seu património cultural.
Bilderberg é um clube de notáveis desnaturalizados, com fortunas fabulosas, que administram com o Deus Artificial.
Alguns membros do Clube Bilderberg são inimputáveis de nascimento, porque acreditam ter uma cor diferente de sangue, que dizem ser azul.
Os considerados de sangue azul herdam os direitos inalienáveis dos seus privilégios e os cidadãos comuns podem ser passíveis de severas medidas, segundo o país, se questionam os do dito sangue azul. Existem também os chamados xeques que governam despoticamente, em países, geralmente ricos em campos de petróleo que lhes permitem levar vidas faustosas em contraste com a pobreza de seus súbditos.
Em alguns países monárquicos podem obter-se os privilégios dos de sangue azul quando o chamado monarca lhes concede um título chamado de nobreza.
Nos países obedientes ao Império onde radica o maior templo do Deus Artificial, aceitaram chamar "falsos positivos" a cidadãos inocentes para quem se inventou um currículo terrorista para os matar e para oferecer aos seus superiores uma quantidade, para justificar a tarefa de encontrar terroristas. Após um massacre chamado "La Macarena", na Colômbia, foi descoberto este sistema sinistro, mas ele é mais comum do que se admite, não só na Colômbia, mas também na América Latina. Como no meu país, a Argentina, onde alguns governadores com mentalidade de senhores feudais, cometem piratarias contra os povos indígenas e assassinatos impunemente. Ou na sua falta, os povos morrem de fome ou de doenças já superadas em outras províncias.
Quando, no Templo de Deus Artificial se alerta para que, em alguns países os cidadãos pobres pretendem viver melhor, porque são governados por ditadores protegidos pelo Império do Norte (ex. Egipto, Tunísia, etc.), cortam-lhes os meios de comunicação e dinheiro (internet, sistemas bancários, etc.) e os militares ou policias matam e castigam-nos nas praças para onde foram, desarmados, reclamar pelos seus direitos.
A propósito do falso deus, transcrevo o pensamento do terceiro presidente dos EUA:
"Acredito que as instituições bancárias são mais perigosas para as nossas liberdades do que exércitos permanentes prontos para o combate. Se o povo americano alguma vez permitir que bancos privados controlem sua moeda, os bancos e todas as instituições que florescerão em torno dos bancos despojarão o povo de toda a posse, primeiro pela inflação, depois pela recessão, até ao dia em que os seus filhos vão acordar sem casa e sem tecto na terra que seus pais conquistaram".  Thomas Jefferson.
Se vivesse hoje Thomas Jefferson seria considerado terrorista?

Beatriz Paganini
Escritora argentina

Texto do romance "Antes e depois de Guernica"

Beneficiários dos subsídios de desemprego e doença vão mesmo contribuir para tapar o "buraco" orçamental


No acórdão do tribunal Constitucional, é dito que a medida de aplicação de uma contribuição de 5% sobre o subsidio de doença e de 6% no subsídio de desemprego é chumbada, não por causa da existência desta contribuição, mas porque não ficou garantido o pagamento de um valor mínimo em termos líquidos. O Tribunal Constitucional deu assim a entender que se o Governo definir esse valor mínimo para os dois subsídios, a medida pode passar. Será isso que o Governo deverá vir a fazer, recuperando a maior parte da poupança que tinha previsto e que era de 150 milhões de euros.
PÚBLICO
***«»***
Ninguém está doente nem desempregado porque quer. São duas involuntárias situações de fragilidade que devem ser respeitadas e protegidas pela sociedade e pelo Estado. Ao insistir em aplicar os cortes previsto no OE deste ano aos subsídios de doença e aos subsídios de desemprego, o governo demonstra mais uma vez a sua insanidade, evidenciando uma escandalosa insensibilidade perante a população mais vulnerável.

sexta-feira, 12 de abril de 2013

Soares avisa que "quer atirar abaixo o Governo"


O ex-chefe do Estado fez duras críticas à actuação do primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, nomeadamente às "pressões terríveis" e ao "atrevimento" de discutir a decisão do Tribunal Constitucional: "Isto tem algum sentido democrático? Onde é que está a democracia para esses senhores?"
O fundador do PS vincou que Portugal não tem condições para pagar a dívida e que "o Estado, por mais que roube o dinheiro às pessoas, não é capaz de pagar aquilo que deve", tendo defendido que "quando não se pode pagar, a única solução é não pagar".
Soares considerou ainda que é necessário "falar grosso à troika" e, de forma muito clara, dizer que não é possível continuar com esta política.
Para o ex-Presidente da República, num momento em que "mais de dois terços do país" estão contra o executivo de Passos Coelho, torna-se indispensável "acabar com a austeridade e com a ânsia de ser úteis à senhora Merkel", tendo considerado que o caminho passa por mudar de Governo.
***«»»***
Até que enfim vejo alguém do PS em tendencial sintonia com aquilo que eu penso! E esse alguém não é uma pessoa qualquer. Trata-se de um ex-Presidente da República, de um ex-primeiro-ministro, que exerceu dois mandatos sucessivos em cada uma daquelas altas funções, de um ex-deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República, e, acima de tudo, do fundador do Partido Socialista, do qual foi o secretário-geral mais carismático.  Desassombradamente, Mário Soares disse aquilo que o governo e a direita não gostam de ouvir e que muitos socialistas pensam, mas que não têm tido coragem de o afirmar. Já dissemos aqui que a condição de devedor não obriga à submissão à vontade discricionária do credor. À chantagem dos dirigentes da UE, Portugal, fazendo das fraquezas forças, só tem que responder com a firme ameaça de não pagar a dívida e de sair do euro. É o suficiente para provocar um terramoto financeiro e político na Europa, e que aqueles dirigentes, a todo o custo, querem evitar. A arrogante Alemanha viu várias vezes, durante o século passado, parte as suas dívidas a serem generosamente perdoadas, inclusivamente as dívidas das indemnizações de guerra à Grécia. Porque negar, agora, a Portugal e à Grécia o mesmo tratamento?
Portugal já não poderá pagar a totalidade da sua dívida pública, tal é o seu montante. E as dificuldades de cumprir aquele compromisso aumentarão na proporção direta do aumento da austeridade, que venha a ser aplicada ao país, tal como está a ser planeado na reunião do eurogrupo, em Dublin.  Já está provado que, com a austeridade, não há crescimento. Há recessão económica, que irá provocar um desastre de proporções gigantescas e dramáticas.

João Ferreira de Amaral: "O casamento português com a moeda única deve acabar"

*
Nunca defendeu o euro. Foi contra a adesão de Portugal à moeda única e, durante algum tempo, uma das raras vozes, senão a única, que "falava contra". Apoiou, no entanto, a adesão à então Comunidade Económica Europeia (em 1986). Mas, se a União fosse então a mesma que é hoje, a minha posição teria sido diferente". Depois de o País ter entrado na zona euro - e durante algum tempo - calou-se. Não falou contra. Esteve em silêncio durante cerca de três anos. Porém, a actual situação político-económica leva-o a escrever " Porque devemos sair do Euro - O divórcio necessário para tirar Portugal da crise", livro que será lançado no próximo dia 9.
No programa 'Ideias em Estante', em entrevista que poderá ser vista no Etv e no blogue Livros&Ecolemomanias, Ferreira do Amaral - que vê com enorme tristeza o país "reduzido à sua pior situação desde há muitas décadas" - afirma que o país está bloqueado, não tem futuro, as gerações mais novas não têm emprego. E, ou têm que sair do país, ou ficam desempregadas."Há também a sensação de que o país deixou de ter capacidade de crescimento económico" e tudo isso ao mesmo tempo que as dívidas pública e externa se acumulam e atingem níveis muito elevados. "E, sem crescimento económico e com dívidas grandes e sem emprego, é evidente que toda a gente está inquieta quanto ao futuro".
O que fazer? "Sair do euro", mas de forma organizada, defende o autor. No livro, o economista e professor recorre a uma analogia para descrever a realidade: "O nosso casamento com a moeda única, como todos os casamentos falhados, deve acabar". Defende ainda que "a ideia de sair do euro impõe-se para que seja possível incentivar a produção de bens transaccionáveis. Ou seja, de bens que são susceptíveis de exportação ou de substituição de importações". Como explica, quando se desvaloriza uma moeda, existe uma espécie de subsídio à produção da agricultura, indústria, turismo estrangeiro, outros serviços. E o inverso sucede quando temos uma moeda muito forte, esclarece Ferreira do Amaral, afirmando que, nesses casos, as actividades são penalizadas e a tendência será a da produção se virar para o mercado interno em sectores protegidos da concorrência externa. E foi isso que aconteceu. O resultado? O país não aguentou uma moeda forte. Sempre frontal, Ferreira do Amaral apresenta mais um factor de perigo: caso continuemos com a moeda única,"temos um enorme risco do euro se valorizar face ao dólar. E isso já aconteceu em 2008".
Para quem argumenta que a eventual saída do euro seria um desastre via "aumento do peso da dívida", o autor afirma que "esse é um grande erro de análise." A dívida será a mesma depois de sairmos do euro, diz, acrescentando que o instrumento normal para problemas de endividamento externo é a desvalorização cambial. Sobre o risco-país, garante que esse "não aumenta, porque se for credor fico mais descansado por saber que o país passa a ter uma moeda compatível com a sua estrutura produtiva". Alerta, no entanto, para outro problema: a dívida em moeda nacional. Mas aí "o Estado pode substituir os devedores junto da banca no montante de aumento da dívida, que resulte da desvalorização cambial", conclui.
"Sair do Euro não é só uma questão de desvalorização cambial é também uma questão de emissão monetária".
Diário Económico
***«»***
Portugal vestiu um fato demasiado grande para o seu corpo. Anda a fazer a figura daquela criança que veste o casaco do pai.
Ao nível económico, a grande contradição que está a ocorrer em Portugal é que a sua economia está a desvalorizar-se, enquanto a sua moeda mantém o mesmo valor, não podendo o governo português desvalorizá-la, já que, com a adesão à moeda única, cada país aderente cedeu ao BCE o poder monetário e o poder cambial, ficando apenas a deter o poder orçamental, que agora os países intervencionados também estão a perder para a troika. Por isso, é urgente que a moeda se desvalorize na mesma proporção, para que a economia ganhe competitividade externa, a fim de aumentar as exportações, e, a nível interno, aumentar a produção nacional, procurando-se assim substituir os produtos importados, que ficarão mais caros.
Esta é a única terapêutica segura, que livrará o país do atoleiro onde o meteram. Mas antes, é necessário Portugal sair do euro e recuperar a total soberania sobre a sua moeda. Apenas os ignorantes, os néscios e os ingénuos não percebem isto. No entanto, existem outros que entendem, mas não o afirmam: são os mal intencionados, que beneficiam com a crise e com o sistema actual.

Agradecimento


Agradeço ao grande poeta Eufrázio Filipe, editor do blogue MAR ARÁVEL, a gentileza de se inscrever como amigo/seguidor do Alpendre da Lua

quinta-feira, 11 de abril de 2013

Poema: ERGO UM PEIXE TRISTE E UMA CASA - por maria azenha

As Banhistas (1918)
Pablo Picasso (1881-1973)

ERGO UM PEIXE TRISTE E UMA CASA

ergo um peixe triste e uma casa para os amigos
que ardem na melancolia da minha infância e
falamos de espelhos e fogo tantas vezes
trazendo o mar para dentro das nossas bocas
os amigos procuram o calor azul num vidro quente
encerrados em seu próprio corpo de luar e ouro
mergulham durante a noite demoradamente
sob o olhar atento dos espelhos de guelras lilases

são da cor do mar os lábios e as suas vozes de vento
que deus quebrou há muito tempo para criar deuses

trazemos então para cima do mundo o luar
e a cinza
gritando
lou
ca
men
te
o lume dos nomes

dizemos
búzios algas sal
casas
ou outros sons de violinos aquáticos
incandescentes pérolas de aves azuis
peixes de neve
nas
frias águas

guardam-nos
os espelhos verdes

maria azenha 
2005,fev,lx


Nota: É de espelhos e fogo que este poema fala. Espelhos verdes e outros de guelras lilases. As aves são azuis (incandescentes pérolas), assim como é azul o calor do vidro quente. E a cor do mar há-de também ser azul, nesta policromia poética, engalanada de metáforas em cada verso, e que, de tão expressivas, permitem descontinuar o texto, no seu sentido literal. A ação resume-se a uma casa junto à praia, onde se reúnem amigos de infância. O resto é o fogo-de-artifício das palavras, com a sua sonoridade própria, a esgotar o encantamento.

Maria Azenha colabora neste blogue, com um poema seu, todas as quintas feiras.

And Then Came Man - Sick Animation!

Amabilidade do Diamantino Silva

terça-feira, 9 de abril de 2013

Sampaio da Névoa: Uma medida cega que fecha o país e lança o caos, avisa reitor de Lisboa


Uma medida cega que fecha o país e lança o caos, avisa reitor de Lisboa

O reitor da Universidade de Lisboa, António Sampaio da Nóvoa, fez questão de assinar nesta terça-feira um comunicado em que defende que o despacho do ministro das Finanças que sujeita à sua autorização novas despesas das instituições públicas adopta a política do “quanto pior, melhor”, é uma “medida cega e contrária aos interesses do país”, “um gesto insensato e inaceitável” e vai lançar “a perturbação e o caos sem qualquer resultado prático”.
No documento, divulgado na tarde de hoje e intitulado Não é fechando o país que se resolvem os problemas do país, o reitor não poupa nas críticas e avisa que o despacho de 8 de Abril assinado pelo ministro das Finanças vai, na prática, bloquear o funcionamento das instituições públicas: ministérios, autarquias, universidades, etc. Especificamente para a universidade a que preside o congelamento das despesas vai significar “enormes prejuízos no plano institucional, científico e financeiro”, porque vai bloquear compromissos internacionais e que envolvem projectos de investigação, sem que isso signifique qualquer poupança para o Estado.
O que está em causa, diz, é a mais simples das despesas, desde produtos para laboratórios a bens alimentares para as cantinas, passando pela compra de papel.
“Quem, num quadro de grande contenção e dificuldade, tem procurado assegurar o normal funcionamento das instituições, sente-se enganado com esta medida cega e contrária aos interesses do país”, argumenta António Sampaio da Nóvoa, que considera que o congelamento de despesas decidido por Vítor Gaspar “é um gesto insensato e inaceitável, que não resolve qualquer problema e que põe em causa, seriamente, o futuro de Portugal e das suas instituições”. “O Governo utiliza o pior da autoridade para interromper o Estado de direito e para instaurar um Estado de excepção. Levado à letra, o despacho do ministro das Finanças bloqueia a mais simples das despesas, seja ela qual for. Apenas três exemplos, entre milhares de outros. Ficamos impedidos de comprar produtos correntes para os nossos laboratórios, de adquirir bens alimentares para as nossas cantinas ou de comprar papel para os diplomas dos nossos alunos. É assim que se resolvem os problemas de Portugal?”, questiona indignado, lamentando — mais uma vez — a “medida intolerável, sem norte e sem sentido”.
“Não há pior política do que a política do pior”, remata o reitor da Universidade de Lisboa.
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A reação intempestiva de Gaspar cheira a vingança, vingança essa, que também Passos Coelho não conseguiu dissimular na sua declaração aos portugueses na sexta-feira negra deste governo. Habituados ao poder absoluto, que a confortável maioria no parlamento lhes proporciona, e beneficiando da cumplicidade de um Presidente da República, que é o chefe de fila da matilha predadora, que quer devorar o país, Passos e Gaspar julgavam que podiam torpedear tudo e todos, sem lhes aparecer pela frente quem lhes travasse o ímpeto arrogante.
Passos e Gaspar vão colocar o país em estado de sítio, criando o caos em todos os organismos de Estado, e procurando amedrontar os portugueses com a visão dantesca do inferno, cuja fogueira eles mantiveram acesa, desde que começaram a governar. O ministro Gaspar desceu à categoria de amanuense de terceira classe, ao pretender controlar tudo o que se compra e tudo o que se gasta, incluindo os clips e os rolos de papel higiénico, que agora serão comprados nas lojas dos chineses, onde são mais baratos. Com raiva incontida, querem diluir a dura humilhação, pela derrota infligida pelo Tribunal Constitucional, e o seu clamoroso insucesso, ao nível das contas públicas (nunca acertaram em nenhuma das suas previsões).
Enraivecidos, são dois animais políticos perigosos, que andam à solta.