Líder do PCP citou “desmantelamento da Direcção
Geral do Património Cultural” e “as limitações impostas à Direcção Geral das
Artes” para dizer que há “uma clara intenção de retirada total do Estado nas
áreas da cultura"
A política do atual Governo é de regressão
económica e social mas também “civilizacional e cultural”, afirmou hoje em
Lisboa o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa.
“Na cultura a situação é hoje de profunda crise
e de abandono de qualquer perspetiva real da sua democratização. Olhe-se para
onde se olhar é a política de destruição que impera”, disse o responsável numa
sessão evocativa de Álvaro Cunhal, antigo secretário-geral do partido, que
morreu em 2005.
No ano em que faria 100 anos se fosse vivo,
porque nasceu a 10 de novembro de 1913, o PCP tem organizado iniciativas para o
lembrar, uma delas hoje ao juntar intelectuais e artistas para debater
precisamente o tema “Álvaro Cunhal, o intelectual e o artista”, no âmbito da
qual se falou da sua faceta de escritor, pintor, músico e até tradutor.
Ao falar no encerramento do encontro Jerónimo de
Sousa lembrou o artista e pensador e falou da cultura e da forma como é
“maltratada pela política da direita”, que teme “o seu imenso potencial de
criação, liberdade e transformação”.
É isso, acrescentou, que tem feito o atual
Governo, nomeadamente na educação, na informação e comunicação, na ciência, na
arte contemporânea, nas culturas artísticas ou no património.
Há, disse Jerónimo de Sousa, “uma ofensiva
destruidora” alargada aos serviços públicos da área da cultura, com “cortes
brutais” nos Orçamentos de Estado, desmantelando-se e desqualificando-se
serviços, que são centralizados e depois requalificados “para o despedimento”.
É, acusou, “uma operação de aglomeração para ser mais fácil destruir”.
Jerónimo de Sousa citou depois o
“desmantelamento da Direção Geral do Património Cultural” e “as limitações
impostas à Direção Geral das Artes” para dizer que há “uma clara intenção de
retirada total do Estado nas áreas da cultura, “o que também pode ser entendido
como uma censura financeira às artes e à cultura”.
E o resultado desta política está exemplificado
nos últimos dados europeus divulgados (Eurobarómetro), disse o responsável: “O
que se vê é que estamos a andar para trás e a divergir com outros povos
europeu. Estamos no fim da lista”, disse.
“É este o rumo de uma política também de
desastre cultural que está em curso. Uma política que não só destrói o que
existe como inviabiliza a criação do novo”, disse Jerónimo de Sousa, concluindo
que “é tempo de pôr fim” ao “rumo de desastre”, razão que tem levado o partido
a pedir com insistência a demissão do Governo e a realização de eleições
antecipadas.
*Este artigo foi escrito ao abrigo do novo
acordo ortográfico aplicado pela Agência Lusa
***«»***
A direita sempre se deu mal com a Cultura. Nutre
por ela um ódio de morte. Talvez porque a Cultura seja a sua antítese, ao
rejeitar o conservadorismo bacoco e provinciano e tentando, por outro lado, progredir sempre pelo caminho
ousado da descoberta da modernidade, em plena liberdade.
Em Portugal, este governo de direita (o governo
mais reacionário do regime democrático), não podendo eliminá-la por decreto,
nem puxar por uma pistola, quando dela ouve falar, como dizia o ministro da
Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, procura asfixiá-la financeiramente e desestruturá-la
organicamente, ao nível do aparelho de Estado. O que vem dar ao mesmo.
A Cultura é a expressão da alma de um povo, ao
qual está intimamente ligada. Querer liquidá-la, é querer matar esse mesmo
povo.
AC
3 comentários:
A cultura é mãe das civilizações, a mestre do conhecimento que nos permite ser pessoas depois de ser gente, que nos permite a individualidade que faz a riqueza informada de grupo,que faz reflectir, que gera as mudanças. Quem não pretende a evolução do pensamento,só pode destruir tudo o que nos permite chegar a ela... e é sim a alma de um povo, a sua verdade , a sua sensibilidade, a sua vida. Sem ela é como "a morte do artista", aqui a morte do povo na arte de querer ser e saber para poder continuar a caminhada no sentido do futuro humanitário para si e para seu semelhante.
Silvia Fontes: Obrigado, pelo seu excelente comentário.
Para os ideólogos do triunfante neoliberalismo, a cultura é uma mercadoria, que deve obedecer às leis do mercado, não devendo, pois, o Estado apoiá-la nem promover a sua divulgação.
Ai da vida sem criativos
Jerónimo é um operário lúcido
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