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sábado, 11 de julho de 2009

Dólar: Uma arma essencial para o poderio dos Estados Unidos


A China, no pico da crise financeira mundial, foi o primeiro país a falar na necessidade de instituir uma moeda desmaterializada, desvinculada de qualquer país, que viesse substituir o dólar nos pagamentos internacionais. Agora, na 35ª Cimeira do G8, em L’ Aquila, na Itália, o tema foi novamente abordado no dia em que os países do G8 fizeram uma reunião conjunta com os países do G5. Brasil, China e Índia defenderam que, a longo prazo, essa substituição terá de ser feita, a fim de evitar que os países, para aumentar a sua competitividade, desvalorizem administrativamente as suas moedas nacionais, torpedeando assim os esforços para conseguir uma maior liberalização da economia mundial. Com uma moeda internacional, gerida por uma instituição independente dos poderes políticos, que fizesse a sua gestão e calculasse o seu valor cambial em relação a todas as moedas nacionais, aos países apenas restava, para aumentar a sua competitividade, produzir com baixos custos salariais e (ou) aumentar o valor acrescentado das mercadorias produzidas e dos serviços prestados, através da incorporação da inovação tecnológica, da organização e métodos da produção e do trabalho, e do empreendedorismo.
Em Portugal, a desvalorização do escudo foi sempre a arma dos sucessivos governos para aumentar a competitividade dos produtos e, por consequência, as exportações, medida proteccionista esta que estimulava a preguiça e a indolência dos empresários, que assim, negativamente, contribuíram para o atraso económico do país.
A China e os Estados Unidos, actualmente, também jogam na desvalorização das suas moedas nacionais, para segurarem a competitividade das suas respectiva economias.
Mas a criação de uma nova moeda internacional não é do interesse dos Estados Unidos, pois a internacionalização do dólar, que substituiu o ouro, permite-lhe compensar os desequilíbrios gigantescos da sua balança comercial e o seu défice orçamental público. De outro modo, a maior economia do mundo já teria tido um colapso.
Para garantir a sua supremacia e a supremacia do dólar, os Estados Unidos conseguiram, no início da década de setenta, que todos os países do Golfo, todos seus aliados estratégicos, na altura incluindo também o Iraque e o Irão, que só aceitassem o dólar como moeda de pagamento nas compras do petróleo, nascendo daí a figura do petrodóar.
Sendo assim, os Estados Unidos têm de emitir uma grande quantidade de moeda para satisfazer a procura de dólares no mundo, o que lhe permite arrecadar dividendos, já que os países com balanças comerciais e de pagamentos positivas remetem os dólares para a economia dos Estados Unidos, comprando Títulos do Tesouro, emitidos pelo governo americano. E isto constitui hoje uma grande dor de cabeça para a China, que, sendo o maior credor dos Estados Unidos, através do gigantesco número daqueles títulos acumulados na sua carteira, assiste impotente à sua desvalorização. Quem ganhou foi Washington, que arrecadou dólares valorizados, vendendo Títulos do Tesouro, e quem está a perder é a China, que receberá dólares desvalorizados, se se desfizer daqueles títulos.
São estas contradições que irão no futuro alimentar grandes discussões nos fóruns internacionais, já que a actual situação começa a ser insustentável, principalmente para os países das economias emergentes.

2 comentários:

João Mota disse...

Uma moeda internacional independente de poderes políticos? Custa-me a crer que tal seja possível. Por outro lado, isso também abriria portas a uma espécie de governo mundial, pois quem controla o dinheiro, ou melhor, a sua emissão e destruição, controla toda a economia. Uma moeda mundial seria o apogeu da globalização e levaria a uma amplificação tanto dos seus efeitos positivos como dos negativos.

Alexandre de Castro disse...

João:
A moeda, desde que foi inventada na ilha Lídia, no sec. VI a.c., onde vivia uma florescente colónia grega, sempre foi um instrumento do poder do Estado. Nunca a moeda esteve desligada do poder político. E quando se fala do dólar como moeda internacional ou da necessidade de ela ser substituída por uma nova moeda, que não seja uma moeda nacional,já existente, como propõem os países do BRIC, é de poderes políticos que estamos a falar.
É evidente que será necessário criar uma instituição central, a quem seja confiada a sua gestão. Mas, na concepção, na formatação e no modelo de funcionamento dessa instituição, que terá funções de um Banco Central, irão reflectir-se as influências políticas dominantes, que já não são unipolares, mas que já começam a ser multipolares, devido à crescente força política e económica das potências emergentes.
Obrigado pelo teu esclarecido comentário.